*Conversa a meio da noite*

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Era de noite, tudo estava escuro e a única coisa que iluminava a rua onde me encontrava era a luz da lua, hoje cheia. 

Uma mão estava entrelaçada com a minha e eu sorri sabendo que ele estava ali do meu lado. 

-Sammy. -ele diz manhoso e eu encaro-o com um sorriso no rosto.

-O que foi chato? -pergunto e ele faz cara de ofendido.

-É assim que tu tratas o melhor namorado do mundo? -pergunta, com a mão livre no peito, fazendo drama.

-Desculpa, amor. -digo irónica- O que o melhor namorado deste universo deseja? -pergunto e ele sorri.

-Assim está melhor, mas já agora, eu quero um beijo. -ele diz fazendo bico e eu reviro os olhos sorrindo.

-Só se me comprares chocolate. -digo e ele sorri revirando os olhos, também.

-Como a menina desejar. -ele diz e junta os nossos corpos, fazendo-me rir com a rapidez em que chocámos. Aproximo os nossos rostos e beijamo-nos levemente.

-Agora quero o meu chocolate. -digo e ele ri, assentindo.

Entramos numa loja de conveniência e fomos à caça daquela barra castanha deliciosa a que nós, humanos, damos o nome de chocolate. Nenhum dos chocolates que vimos até agora, me agradava então continuámos a procurar.

-Que tal este? -pergunta mostrando-me um Toblerone e eu nego fazendo careta.

-JÁ SEI. -grito, fazendo as poucas pessoas que estavam lá olharem-me repreendedoras- Quero Milka Oreo.

-Vamos à procura. -diz e eu assinto sorrindo.

-Encontrei. -digo e pego no chocolate, com um sorriso enorme no rosto.

-Então vamos. -ele diz sorrindo, também.

No mesmo momento em que começamos a caminhar até à caixa, a porta da loja é aberta bruscamente e três pessoas vestidas de preto entram com máscaras a tapar a cara e armas apontadas para alguns de nós.

-ISTO É UM ASSALTO. -grita o do meio e dá um tiro para o ar, fazendo alguns gritar e todos nos deitarmos ou sentarmos.

-Fica calma, Sammy. -o meu namorado diz do meu lado, vendo que a minha respiração estava desregulada e que eu estava a entrar em pânico, iniciando um ataque.

Tentei acalmar-me inúmeras vezes, mas nada parecia forte o suficiente para isto parar.

-Vai tudo correr bem, amor. -ele diz no meu ouvido, mas a sua voz parecia distanciar-se cada vez mais.

-O QUE ESTÁ A ACONTECER AÍ? -grita um dos homens.

-A minha namorada está a ter um ataque, ela precisa de ajuda médica. -ele diz e o homem ri irónico.

-Eu não vou chamar médico nenhum. -ele diz rude- NINGUÉM AQUI VAI.

O meu namorado levanta-se rapidamente e vai a caminhar até ao homem.

-ELA NECESSITA DE AJUDA, AGORA. -ele grita, um pouco afastado.

-Dá mais um passo e quem vai precisar de um médico és tu. -o homem diz rude.

Mas ele é teimoso e vai na direção do assaltante.

-Eu disse que ela precisa de ajuda, AGO... -o seu grito é abafado pelo som de um tiro.

Só percebo o que realmente aconteceu quando vi o seu corpo cair sem vida no chão.

-AIDEN. -esta é a última coisa que eu digo antes de tudo ficar preto e eu apagar.

Acordo em lágrimas e com a minha respiração desregulada, graças aos soluços constantes. Algum tempo depois, finalmente, consigo acalmar-me e saio da cama, sentindo o tapete de pelo debaixo dos meus pés.

Saio do meu quarto e vou até à cozinha, retiro um copo do armário e vou até ao frigorífico, retirando uma jarra de água, despejo o líquido no recipiente de vidro e vou até ao jardim, sentando-me na borda da piscina e colocando os pés dentro de água, então encaro o céu hoje iluminado pelas estrelas e pela lua, que se encontrava como na minha memória.

Aiden não foi apenas um namorado, ele foi mais que isso. O meu namoro com ele não foi o mais fácil, mas foi o que mais me ensinou e mais me fez perceber que a vida não é tão fácil como imaginamos. Aiden era o típico popular e eu a típica insignificante, um dia chocámos num dos grandes corredores da minha antiga escola e a partir daí começámos a conversar e a aproximar-nos, apaixonámo-nos e namorámos até àquele sangrento dia, em que soube que mais 7 pessoas morreram.

-Sammy? -ouço uma voz atrás de mim e apresso-me a limpar as lágrimas que escorreram sem eu dar conta. 

Sinto a pessoa sentar-se do meu lado e, quando olho, vejo Thomas.

-Como sabias que era eu e não a Sam? -pergunto dando um sorriso fraco.

-Convivo com a Sam há 7 anos, ela detesta beber água à noite. -diz apontando para o copo ainda cheio do meu lado- Ela bebe sempre sumo ou leite quente.

-Bem visto. -digo e ele solta um risinho.

-O que fazes cá fora a esta hora? -pergunta e eu nego com a cabeça, tentando afastar os maus pensamentos.

-Vim pensar um pouco. -digo e ele assente- E tu?

-Beber alguma coisa. -diz e eu assinto sorrindo.

-Eu queria agradecer-te por teres cuidado da minha irmã. -digo sincera e ele sorri.

-Era o meu dever como melhor amigo. -diz e eu volto a encarar a lua, fazendo-o repetir o meu ato.

-Sabes? Às vezes, a vida surpreende-nos de tal maneira que nos transforma em algo que nós antes dizíamos não perceber. -digo e ele solta um risinho- Eu, antes, não entendia como é que alguém podia ser 'sem sentimentos' e ,olha para mim agora, eu sou uma 'Cold Heart'. -digo e solto uma risada irónica.

-E o que aconteceu para te tornares 'nisso'? -pergunta.

-A vida surpreendeu-me da pior maneira. -digo e fixo uma das grandes manchas da lua, mais conhecidas por cratéras.

-Queres falar? -perguntou e eu deitei a minha cabeça no seu ombro.

-Acho que por vezes o silêncio reconforta mais que um desabafo. -digo e ele assente sorrindo.

-Tens razão. -ele diz e ficamos ali, mergulhados num silencio reconfortante.

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