Capítulo 9

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Lydia

Lydia estava correndo, ela sabia que não iriam alcançá-la, ninguém nunca conseguiu fazê-lo. Ainda assim, não conseguia se livrar do medo de ser pega. Ela apertou o saco de ervas medicinais contra o corpo quando ele ameaçou escapar por entre os dedos. Não era a primeira vez que roubava e não seria a última. O orfanato de Haterbort estava cada vez mais esquecido pelas autoridades da cidade. A Administradora, aproveitando-se da falta de fiscalização, usava a moeda repassada pelo governador da cidade para seu próprio proveito, deixando os órfãos morrerem de doenças, causadas pela comida insuficiente e falta de tratamento.

Ela escorregou para um buraco sujo. O esgoto da cidade sempre fornecera a fuga perfeita. Poderia andar por toda a cidade sem temer ser pega. Ela torceu o nariz ao sentir o cheiro insuportável de água suja e fezes, com certeza iria demorar até que conseguisse se livrar do cheiro do seu único par de roupas. Estava tão escuro que não conseguia ver mais de um palmo a sua frente, mas isso nunca tinha sido problema para ela. Tudo parecia estar indo perfeitamente de acordo com o que planejara exceto pelo constante arrepio na nuca que teimava em não ir embora. Ela se concentrou nos seus arredores. Definitivamente algo estava fora do normal.

 Então é você que anda roubando na minha região. —   Ela ouviu uma voz vir das sombras. —   Sabe, eu e meus amigos aqui, não gostamos de concorrência, garotinha.

Lydia ouviu passos se aproximando, ela sabia exatamente onde ele estava. Alguns ruídos quase imperceptíveis anunciaram a presença dos "amigos" que ele estava se referindo. Ela estava cercada. E quem quer que fosse, conhecia aqueles esgotos talvez até melhor que ela. A garota se preparou para correr, analisando as prováveis rotas, se ela conseguisse passar por eles, dificilmente conseguiriam pegá-la.

 Ouvi dizer que é muito habilidosa. Sabe muito bem o que fazem com aqueles que são habilidosos nesse reino. —   Ele continuou. —   Já ouvi boatos que a garota misteriosa que está roubando tem o sangue proibido. Sabe garota, eu poderia usar alguém que tem o sangue d'O Antigo.

 Acho que está enganado. —   Lydia falou. —   Não tenho esse sangue. Saberia se tivesse.

 Saberia mesmo?

Então ela correu. Os suspiros vindos do grupo denunciavam a surpresa que tiveram. Ela tinha acabado de ganhar alguns segundos. Suas pernas já estavam cansadas pela longa distância que percorrera, mas ela as forçou a correr cada vez mais rápido. Outro ruído anunciou a presença de mais um membro do grupo desconhecido, dessa vez ele estava no alto, acima da cabeça dela. Ele jogou algo, e Lydia desviou bem a tempo de não ser atingida. Pelo barulho que tinha feito ao cair no chão, parecia um pano, ou pior, rede. Eles a queriam viva. Isso seria outra vantagem para ela. Algo voou novamente em direção à sua cabeça e a atingiu de raspão com um baque surdo. A garota gemeu, o que quer que fosse, tinha doído. Seu coração estava batendo tão rápido que seu peito começou a doer sua respiração ficando cada vez mais difícil, mas faltavam apenas alguns segundos para que ela pudesse sair do esgoto.

Os passos atrás dela se tornavam mais distantes, mas ainda estavam a uma proximidade perigosa. Finalmente, pôde ver o buraco que levava ao centro da cidade. Eles provavelmente não a perseguiriam na noite boemia e lotada de guardas de Haterbort. Ela escalou rapidamente o buraco que a levava à rua lotada. Assim que terminou de subir, olhou para o buraco que levava ao esgoto. Um homem de meia idade, alto e de pele morena, a encarava com um sorriso torto. Ele tinha visto seu rosto e provavelmente se encontrariam novamente.

 Ele tinha visto seu rosto e provavelmente se encontrariam novamente

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A Canção do Antigo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora