A Canção do Antigo (Completo)

Capítulo 47

Leoric

Leoric repassou o plano de resgate várias vezes. Sairiam de Rugh no cair da noite, e observariam o acampamento do exército. Com sorte, apenas uma pequena parte da divisão estaria lá, já que era semana de recolher impostos em nome do rei. Como há muito tempo ninguém ousava lutar contra o Tirano, o exército do norte provavelmente não estaria em alerta para um ataque, principalmente após as festas de Lothar. 

Ele respirou fundo enquanto observava o último raio de sol desaparecer. 

  — Vamos. — Leoric falou. —  Está na hora. 

A cidade ainda estava movimentada quando saíra da cabana de Latania, o que não era bom, estavam sendo caçados, e por causa disso, tinham que chamar o minimo de atenção possível.

  —  Vamos pela ponte lateral, o píer deve estar apinhado de pessoas para as festas de Lothar. —  Ele disse. 

Leoric viu os dois garotos acenarem ao puxar o capuz de suas capas para cobrirem suas cabeças, ele fez o mesmo. Latania dissera que os cavalos os estariam esperando nas colinas depois que atravessassem a ponte. O céu estava limpo, fazendo a luz da lua se juntar ao fogo das tochas, criando uma meia luz, assustadora e ao mesmo tempo aconchegante. Apesar do cheiro insuportável, Rugh era uma vila charmosa. Mesmo a distancia ouvia-se as risadas e conversas altas vindas da festa. O que viria a seguir seria muito difícil, e um teste para seus aprendizes.

O acampamento não estava muito longe de Rugh, e assim que passaram a ponte, avistaram os cavalos prometidos pela bruxa, eles estavam presos a uma grande estaca fincada na grama seca. Depois de ajudar Lydia a montar, ele subiu no próprio cavalo e avançaram até vencer a subida das colinas. Puderam ver um enorme campo abarrotado de barracas, que abrigavam toda uma divisão do exército. Era uma bela visão, uma planície brilhante pelas tochas acesas, cercada de colinas que ficariam verdes na primavera. Mas era também, um péssimo lugar para um acampamento militar, Leoric pensou. Eram presas fáceis para uma emboscada. 

— Lá está! — Exclamou Ruriel. 

Lydia tinha passado todo o caminho em silencio. Mas desde que ele a conhecera, ela tinha falado o mínimo possível. Ela parecia uma garota bem introvertida. Assim que avistaram o acampamento, Leoric fez sinal para que descessem dos cavalos e prosseguissem a pé, de forma cautelosa, e furtivamente, rodeando o acampamento escondidos pelas sombras da noite. Ruriel era meio desajeitado, fazia barulhos desnecessários, por sua vez, de Lydia não se escutava nada, até sua respiração era silenciosa.

O barulho vindo das barracas, era parecido com o som do píer de Rugh. Estavam festejando o dia de Lothar, Leoric percebeu. O general da divisão do exército no norte, era com certeza celariano, o Tirano nunca colocaria alguém do norte para comandar um batalhão lotado com soldados norealianos. Se realmente o general estivesse no acampamento, ele nunca permitiria aqueles festejos. Leoric percebeu as suas chances aumentarem, aquela era uma sorte muito além da esperada. 

—  Estão bêbados.  — Ruriel disse encarando os soldados que riam e festejavam com garrafas na mão próximos aos limites do acampamento. —  Pelo visto não será tão difícil assim. 

—  Você está cometendo o mesmo erro que eles. Subestimar um inimigo, pode significar sua morte. Concentre-se garoto.—  Ralhou Leoric. —  O que vamos fazer aqui, não é um treinamento. 

Ruriel se calou e Leoric voltou a observar o acampamento. 

—  Estão ali. —  Ele ouviu Lydia dizer.

—  Onde? —  Leoric perguntou.

—  Ao norte do acampamento. —  Ela respondeu.

Leoric olhou na direção observada, seis soldados estavam sentados em frente uma cabana, enquanto dois desconhecidos vestidos com trapo, amarrados um ao outro pelo pé, cozinhavam algo na fogueira. Aquela deveria ser a barraca onde os escravos estavam presos.