Capítulo 32

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Ruriel

O treino com Thael tinha durado pouco tempo, Ruriel sabia que não podia ser diferente, mesmo antes de saírem do porão a taverna já começava a encher.

- Thael! Estávamos sentindo sua falta, o menino Ruriel aqui, parecia um cachorro perdido sem você. - Solem disse rindo.

- Quanto amor, moças. - Respondeu Thael, provocando mais risos do grupo - Pena que não gosto muito de loiros. Sentem-se enquanto trago sua bebida.

- Destilada por favor. - Um mineiro disse. - Quero ver o quanto essas moças aguentam a famosa destilada de Thael.

Thael foi até Lydia e a pediu para que ela fosse buscar a bebida e servisse os homens enquanto ele terminava de assar a carne de cordeiro. Ele voltou a cozinha depois de verificar que ela estava indo para o local correto. Ruriel se manteve ocupado, longe das provocações dos mineiros que tivera que aguentar desde a partida inesperada do seu mestre. Um rangido na porta fez Ruriel desviar o olhar do balcão que limpava. Willem, Gratan, Yvon, Siena e mais algumas moças amigas dela entraram, imponentes no salão.

- Vá para cozinha Ruriel. - Thael gritou enquanto servia um copo do outro lado do salão. - Não deixe a carne queimar.

Ruriel sabia que aquele não era o real motivo o qual Thael estava o expulsando do salão. O mestre queria evitar confusões, e a chegada de Willem era uma em potencial.

- Moça estranha essa Thael, nunca a vi por aqui. - Ruriel ouviu alguém perguntar para o mestre enquanto andava em direção a cozinha.

- Minha sobrinha, minha irmã faleceu, e eu a trouxe para cá.

- Pobre garota. - um dos mineiros falou. - Ela não se parece ser do norte, Thael, tem certeza que pegou a menina certa?

Os mineiros próximos a conversa explodiram em gargalhadas. Thael tentou disfarçar a surpresa e remendou:

- O pai dela era celariano.

Logo todos do salão se calaram para ouvir, alguns faziam caretas e outros pragejavam. Os celarianos não eram bem-vistos no norte. Celaria, além de ser a terra da capital do rei, também enviava seus representantes para a cobrança de impostos e para a administração das vilas importantes do Norte.

- Vou voltar aos meus afazeres, parem de fofocar como suas tias.
Algumas risadas tímidas foram abafadas quando Ruriel finalmente fechou a porta da cozinha atrás de si.

A taverna estava barulhenta, e vez ou outra Lydia aparecia na cozinha para levar as comidas que Ruriel fazia para o salão. Ruriel abriu a porta da cozinha que dava para o lado de fora da taverna e deixou o ar frio entrar brevemente antes de sair, a água que tinha pegado pela manhã já tinha acabado. Ele andou poucos metros até o poço, puxou a corda do balde, e viu o que temia, o balde estava preso e a água congelada. Ele teria que pegar neve, e ter o trabalho de ferver e passa-la pelo filtrador que Thael construíra.

- Olá. - Ruriel se sobressaltou com a voz que escutou, assim que se virou, viu Siena parada, usando uma capa longa de pele e um vestido preto feito com couro e um tecido grosso. Sua vestimenta era simples, mas ela não deixava de estar elegante.

- Estou com pressa, lin, tenho que voltar ao trabalho. - Ruriel falou.

- Vi você conversando com aquela garota na taverna. - Siena falou. - Ela tem olhos incomuns. Parece que vocês dois se dão bem.

- Ah. Sim, é sobrinha de Thael. - Ele respondeu somente.

Siena assentiu e deu alguns passos em direção a Ruriel.

- Mas não é tão bonita quanto eu. E não gosta dela como gosta de mim, não é mesmo Ruriel? - Ruriel a viu passar a mão pelos cabelos presos em uma meia trança, enquanto piscava os longos cílios, encarando-o.

- Está enganada, Siena, eu não gosto de você. Não desse jeito. Agora tenho que voltar. - Ruriel falou andando em direção a taverna.

Siena o segurou pelo braço e se postou em sua frente, colando seu corpo ao dele.

- Sei como me olha Ruriel, um pouco de...

- O que está acontecendo aqui? - Uma voz esbravejou.

Era Willem, e pela cara que fazia, não devia estar nada satisfeito.

Segundos depois, Yvon e Gratan se juntaram á Willem.

- Vai se arrepender disso, Ruriel! - Ele falou aos berros. - Não acredito que teve coragem o suficiente para fazer isso.

Ruriel saltou para o lado, ao ver a investida de Gratan contra ele. Assim que se virou para os outros dois, viu que estavam armados, Willem tinha uma adaga em sua mão e Yvon um pedaço grande de madeira, que poderia fazer um estrago significativo, se conseguisse acertá-lo. Ele olhou em volta procurando algo que pudesse usar como arma, mas tudo o que viu foi neve.

Ele se posicionou melhor, com as costas para o poço, reduzindo as posibilidades de ser atacado por trás. Ruriel olhou em direção a Siena segundos antes de defender um soco pesado de Yvon com o antebraço. Ela estava quieta, olhando a cena com um sorriso malicioso nos lábios.

Ruriel não estava preocupado, mesmo sendo maiores, ele conseguiria dar conta dos três facilmente.

Um baque surdo, seguido de uma dor latejante em seu couro cabeludo, fez com que Ruriel cambaleasse. Alguém tinha o pegado de surpresa por trás, mas se Gratan, Willem e Yvon, nunca tinham saído de seu campo de visão... Ele se virou desajeitado, muito zonzo com a pancada. Siena estava parada perto dele, com um pedaço de madeira na mão.

- Ele me agarrou, Willem. Tive minha vingança.

A Canção do Antigo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora