Capítulo 10

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Thael

A subida até a mina nunca tinha sido tão rápida. Dois guardas estavam jogados no chão da entrada da mina, com seus rostos virados para baixo, em uma poça de sangue. Thael ouviu Ruriel xingar, e, antes que o garoto pudesse sair correndo, o segurou novamente pelo braço. Estava cada vez mais difícil controlar a impulsividade de Ruriel.

– Não sabemos o que ainda pode estar lá dentro. – Thael falou levando a mão à espada velha presa pela bainha em seu cinto, ele não podia se dar ao luxo de usar uma espada chamativa como Tylonir, em um lugar como aquele, então a mantinha trancada em um armário, escondido em seus aposentos. – Fique atrás de mim.

Eles apressaram o passo, mas seguiram com cautela. Mesmo um grupo grande de mineiros, teria dificuldade contra os bem treinados Galneses.

– Killiam, olhe se estão vivos. – Thael pediu.

Enquanto os olhos afiados de Thael percorriam o lugar buscando qualquer sinal de Galneses, recebera a notícia que ambos os guardas estavam mortos. Estava frio nas montanhas, teriam que alcançar rapidamente o grupo que estava ferido para evitar que ficassem mais fracos ou até morressem de hipotermia.

Eles continuaram seguindo, cada vez mais rápido, em direção à sala norte de fundição. Era onde Killiam tinha dito que deviam estar.

Thael soube que tinham chegado quando uma onda de calor encontrou seu corpo. Provavelmente tinham ligado todas as máquinas do lugar em busca de calor.

– Aqui. – Killiam falou, entrando no cômodo sem porta. – Eles estão aqui.

Thael reconheceu imediatamente a pessoa pequena pressionando firmemente a perna de Solem, enquanto gritava ordens para os outros mineiros feridos. Nora. Ela sempre parecera inofensiva, e pacífica, mas o taverneiro definitivamente não confiava em pessoas como ela. Todas as bruxas que conhecera eram dissimuladas e não pensavam em nada além de seu próprio poder.

Há muitas eras, apenas as extintas raças, elfos, duendes, orcs e gnomos, podiam sentir e dominar o poder do Antigo. Os humanos, então nômades e sem poder, eram caçados e escravizados por todos, não tinham terra e não tinham como se proteger. Alguns deles buscaram aprender as técnicas que os elfos e anões usavam em sua magia, mas nunca ninguém conseguira efetivamente usar o Antigo. Descobriram que a energia do antigo servia de catalisador e alimento para a magia, e concluíram que poderiam usar outro tipo de energia, a energia de seres vivos. Entretanto apenas aqueles humanos mais sensíveis eram capazes de manipular essa energia, aqueles que tinham sido agraciados pelos deuses com o poder da visão. Os videntes, então, viraram os primeiros bruxos. Por isso, Nora representava um perigo para o que tinha construído em Litherl. Ela sabia exatamente quem ele tinha sido antes de ser Thael, o taverneiro.

Quatro mineiros estavam sentados no chão, com exceção de Solem, com um corte que parecia profundo na perna, apresentavam apenas ferimentos leves. Thael observou a sala, mas foi Ruriel quem fez a pergunta que tinha passado por sua mente.

– Onde está Lion?

Enquanto todos praguejaram olhando para baixo, Solem respondeu:

– Os Galneses o pegaram. Lion estava tentando desviar a atenção deles, nos dar tempo para nos esconder.

– Não. – Thael ouviu Ruriel dizer baixinho.

– Se o levaram, deve ainda estar vivo, os galneses ganham bastante dinheiro vendendo escravos. – Thael falou, sem olhar para Ruriel. – Voltem para a vila com Nora, ela vai cuidar dos ferimentos de vocês.

– Killiam, Tormenth, me ajudem aqui a mover Solem. – Nora chamou.

– Ajude Nora também, Ruriel. – Thael mandou.

– O quê? – Ruriel gritou. – E quanto a Lion, não vão fazer nada?

– Deixe esse assunto para mim. – Thael respondeu, como uma voz calma.

– Eu vou com você.

– Não, você não vai.

– Vou. – Ruriel falou, por fim, encarando Thael diretamente nos olhos.

Os mineiros que acompanhavam a discussão em silêncio começaram a andar lentamente em direção a saída da sala.

– Seus covardes! – Killiam falou, fazendo com que os mineiros congelassem no lugar. – Vão deixar Thael se arriscar sozinho e se chamam de Norealianos?

– Killiam... – Thael começou.

– Tem razão. – Tormenth falou. – Não sei o que estava pensando, eu vou ajudar.

– Eu também. – Solem disse.

– Perderam a cabeça? A maioria de vocês não tem condições nem de se manter em pé! – Nora interveio. – Deixe esses assuntos para Thael, eu também estou preocupada com Lion, mas o resgate será difícil o suficiente, para Thael ainda ter brutamontes barulhentos para atrapalhar.

– Irei apenas fazer um reconhecimento. – Thael os assegurou. – Se precisar de reforço volto e chamo vocês. Fiquem na taverna.

– Vamos antes que Solem sangre até morrer. – Nora disse.

Assim que todos saíram,Nora se aproximou de Thael.

– Não tenho o necessário para ajudar com a perna de Solem, acho que sabe disso. – Ela disse.

Thael suspirou e retirou um frasco com um pó cinza de dentro da bolsa que Ruriel tinha apanhado para ele.

– Pó de ossos de dragão? – Ela perguntou, levantando a sobrancelha. – Não sabia que tal coisa ainda existia. Deve servir, bom, boa sorte, cavaleiro.

A muito tempo ele não tinha ouvido ninguém se referir a ele daquela forma. Os anos que passara como Thael de certa forma tiveram o feito empurrar seu verdadeiro nome para um lugar distante em sua mente. Sim, ele era um cavaleiro. Ele era o general mais temido do reino que se rebelara uma vez contra o Tirano, liderado uma revolução. Ele era aquele cujo o poder de seu sangue o fazia invencível. Era Leoric, o cavaleiro d'O Antigo.

A Canção do Antigo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora