Capítulo 21

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Thael

- Não sei se é tolo ou corajoso. - Thael falou com uma carranca, para o bardo que estava sentado sozinho em uma das mesas, mordiscando um pedaço de pão.

A calmaria da manhã seguinte se contrastava com a agitação da noite anterior. A maioria de seus hóspedes já estava no círculo de Litherl, ajudando com a montagem das feiras. Os poucos que tinham acordado mais tarde estavam terminando de tomar café da manhã.

- Conto bastante essa história. - O bardo explicou. - Houve uma época que contá-la era o mesmo de enfiar uma adaga em seu próprio coração. Já não é mais assim, não sei se o Tirano está ficando bonzinho, ou se a considera benéfica para sua imagem.

Thael resmungou algo antes de levar alguns pratos sujos para a cozinha. Lá encontrou Ruriel cochilando sobre a mesa onde descansavam mais massas de pães.

- Garoto! - Thael chamou, fazendo Ruriel pular da cadeira. - Preciso que compre umas coisas para a taverna.

Dez pratos de estanho. Duas travessas de barro. Meia dúzia de lençóis de linho banco. Um conjunto de talheres - o mais barato que encontrar. Thael conferiu a lista antes de entregá-la para Ruriel. Desde que tinha se tornado aprendiz, o jovem tinha amadurecido bastante, já quase não saia da taverna. E treinava cada vez mais duro os exercícios com a espada. Ele merecia uma folga.

- Vou te dar algumas moedas extras, pode comprar algo para você também, e aproveitar um pouco as feiras se quiser.

Ruriel permaneceu calado, encarando a bolsa de moedas que Thael tinha colocado na mesa a sua frente.

- Vamos garoto. - Thael falou, encorajando-o. - Não vou precisar de você até a hora da refeição.

- Fala sério mestre? - Ruriel perguntou esfregando os olhos, ainda apertados pelo sono.

- Sim. - Thael falou. - Vá, antes que eu mude de ideia.

Ruriel correu porta afora, Thael o seguiu lentamente em direção ao salão da taverna. Estava ainda mais vazia. Com exceção de dois mercenários que cochichavam apressadamente em um canto, todos já deviam ter ido para o círculo.

Thael já recolhia os restos de comida e bebida quando notou que eram os mesmos homens que o encaravam estranhamente na noite anterior.

- Ainda precisam de alguma coisa? - Perguntou Thael para os dois.

Eles olharam para Thael atentamente, o mais alto sorriu, e falou calmamente:

- Estava conversando sobre você agora mesmo, taverneiro. Estavamos nos perguntando se também é do Sul, apesar de ser um pouco mais claro, seu rosto se parece muito com os dos Saulearianos.

- Minha mãe era do sul. - Thael respondeu, servindo mais bebida aos copos que já estavam sobre a mesa. - Mas sou de Aurealia.

- Viemos do Sul também! Junte-se a nós, taverneiro, como é seu nome mesmo? Ah. Thael. Por que não brindamos em recordação aquelas belas praias e mulheres sulistas? - O outro disse passando um dos copos de bebida para Thael.

- Ao sul. - Disse um deles erguendo o copo para o brinde.

-- Ao Sul. - Disse Thael, antes de beber um gole da bebida. Quase no mesmo instante as vistas de Thael borraram e suas pernas perderam a força, então soube exatamente o mal que sofria, tinha sido toscamente enganado. Visgo de Saularia, um sedativo sem gosto e sem cheiro, usado na medicina sulista

Thael tentou se agarrar a mesa para evitar a queda, suas vistas estavam embaçadas e seu estômago doía. Escutou as risadas dos dois homens cada vez mais distantes.

- O quê... - Ele tentou falar.

- Sabemos quem você é, infelizmente éramos seus subordinados no exército do Tirano há muitos anos atrás, é claro que não nos reconheceria, éramos muito rasos para ter contato com o impiedoso Leoric, o Cavaleiro d'O Antigo, general mor do exército real. Imagine só o que receberemos quando o Tirano souber que você está vivo e está nas mãos dele.

Thael só conseguiu maldizer a própria burrice antes do mundo ficar escuro.

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A Canção do Antigo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora