Capítulo 14

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Thael

Dentre todas as coisas que um dia ameaçavam revelar a identidade de Thael, nunca nenhuma tinha sido tão perigosa como o que iria fazer. Um homem sozinho cuidado de um grupo de Galneses, quando os próprios guardas da mina escolheram nada fazer, com certeza levantaria suspeitas.

Thael se aproximou lentamente do acampamento. Tudo estava tranquilo, o grupo parecia distraído e descuidado. Não deveriam estar, ninguém roubava do rei e saía impune. Mas se Thael fosse esperar a chegada do exército, só Nirl sabe o que Lion e Litherl sofreriam.

Ele fez um sinal com a mão, e observou Ruriel se aproximar lentamente do próximo alvo. Dessa vez o Galnes percebeu a presença do garoto antes de cair, morto. Aquelas eram as primeiras mortes do aprendiz, ele estava se saindo bem.

Thael acelerou o passo, tomando cuidado para ser silencioso. As barracas de cor escura impediam que os Galneses vissem a sombra de Thael, projetada pelo fogo crepitante. Ele segurava a famosa espada com as duas mãos, ela tinha sede de sangue, Thael percebeu ao firmar o punho de aço negro, que apesar do tempo frio, não tinha perdido seu característico calor.

– Acho que não vamos ganhar muitas moedas por esse aqui. – Thael ouviu uma voz aguda dizer. – E não conseguimos levar muita coisa das minas.

Thael se posicionou melhor para conseguir ver o homem que falava. Ele era alto, e muito magro, tinha uma cabeça definitivamente muito pequena para seu corpo, e seu rosto tinha ângulos torcidos, que não pareciam pertencer a região alguma.

– Não devíamos ter vindo tão ao norte. Além do frio de matar, as vilas são tão pobres que nem nas minas reais conseguimos algo de valor. – Outro falou.

– Muito estranho de fato. Uma das minas mais importantes do rei Tirano estar tão vazia quanto um barco pesqueiro de Saularia.

– Chefe. – os demais cumprimentaram.

Thael não pode ver seu rosto, mas era alto, talvez mais alto do que ele mesmo, e era tão forte que tinha a aparência de um monstro, suas costas estavam cobertas de cicatrizes. E suas mão e braços sujas de sangue seco.

– Quem sabe este aqui não nos conta o porque da mina estar tão vazia. – O chefe continuou. – Terion, veja o que consegue arrancar dele.

O selvagem alto e de voz esganiçada se aproximou de Lion, e, com um movimento rápido, afundou a faca pequena, que alguns momentos atrás tinha usado para cortar um pedaço de carne seca, na coxa direita de Lion, que segurou um grito de dor.

Thael procurou Ruriel com o olhar. O aprendiz estava a uma distância segura, contudo seu arco estava armado, com uma flecha em posição.

Não. Não seja tão idiota garoto. Thael pensou. Tarde demais, uma flecha cortou o ar e se enterrou na barriga do galnes que torturava Lion. Ele caiu no chão. Imediatamente, várias espadas foram sacadas enquanto os galneses procuravam a direção que viera a flecha. Thael soube que tinham achado Ruriel quando o chefe grunhiu e apontou em direção a onde estava o garoto.

– Ah. Foda-se. – Thael murmurou para se mesmo, antes de sair do esconderijo, e voltar a atenção dos Galneses para si.

Com um grito, Thael acelerou contra o grupo, logo sentindo a sensação familiar de sua espada a cortar a carne de um Galnes que tentou o pegar pelas costas.

– Var lament. – Thael sussurrou as palavras na língua morta dos elfos para ajudá-lo a canalizar o poder d'O Antigo de seu sangue, e formar uma camada protetora de magia que bloquearia os golpes mais fracos, e flechadas que defeririam contra ele.
O som familiar de sua espada chocando repetidamente contra as espadas do grupo de Galneses, despertou uma parte adormecida de si mesmo. Transportando a sua consciência para um lugar profundo de sua mente. Ele se concentrou e invocou a melodia que a muito tempo não ouvia, que feroz, fortaleceu cada músculo de seu corpo, deixando-os ainda mais fortes e mais rápidos.

A cada balanço e fincada de espada, a melodia ficava mais forte, e mais rápida, acompanhado seus golpes implacáveis. Sangue espirrava, fazendo com que seu cheiro metálico dominasse o ar.

Uma flecha voou enquanto Thael parava um golpe de espada com a sua própria, acertando o galnes que o atacava. Tinha sido Ruriel.

Onze já foram. Faltavam dois. Antes que pudesse se virar completamente, Thael teve que desajeitado, parar mais um golpe de espada. Mas a sua velocidade e força eram demais para o seu atacante superar, com um movimento certeiro Thael enfiou a espada na barriga do homem, a retirando novamente no mesmo movimento. O galnes tossiu sangue uma vez antes de morrer.

– Pare. – Thael ouviu. – Ou este aqui morre.

Apenas o chefe do grupo restava vivo, e pela forma que tinha se escondido atrás de seus soldados e agora de um refém, Thael teve a certeza de que não passava de um covarde.
Ele pressionava o corte da espada na garganta de Lion, que permanecia quieto com um olhar duro. Ruriel não era bom o suficiente com o arco para acertar um tiro quando o selvagem estava tão próximo de seu tio. Thael soube imediatamente o que devia fazer. Ele se concentrou ainda mais, e deixando a melodia ressoar pelos seus ossos deu um passo em direção ao Galnes.

– Não iriei avisar novamente. – Largue a espada e chute-a para mim, se não matarei seu amiguinho aqui.

– Tudo bem. – Ele falou, fazendo o que o chefe do grupo tinha pedido.

Thael fechou os olhos e deu um sorriso sarcástico, percebendo sua própria magia alcançar seu inimigo, paralisando-o antes que pudesse fazer qualquer coisa. Reconhecimento e pânico brilharam nos olhos do Galnes. Todos conheciam suas histórias. O general implacável. Poderoso ao ponto de matar apenas com a força de sua mente. O cavaleiro d'O Antigo dado como morto da última batalha que exterminou a rebelião.

Ele buscou a força que pulsava dentro do galnes, e invocando mais do poder de seu sangue. Apertou, com magia a vida de dentro do homem.

– Lorlyn. – Thael falou, fazendo com que o saqueador caísse no chão, sem vida.

A Canção do Antigo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora