Capítulo 43

6.5K 993 95
                                    

Leoric

– Não podemos ficar aqui por muito tempo. – Leoric falou sério, jogando uma bolsa com moedas para Ruriel. – Estamos sem suprimentos, vá até a feira e compre alguma coisa para levarmos, flechas para Lydia, uma faca, um pouco de corda talvez. Enfim, compre o que achar necessário.

Leoric viu Ruriel encarar a bolsa por alguns instantes. Se ele tivesse entregado uma bolsa de ouro nas mãos dele há algumas semanas, ele provavelmente iria gastar todas as suas moedas em futilidades, apenas pelo bel prazer de irritá-lo. Mas Ruriel parecia diferente, tudo aquilo estava o amadurecendo rapidamente, e o aprendiz assentiu, e abriu a porta da frente da cabana sem dizer nenhuma palavra.

Ele olhou para Lydia, quando percebeu que ela ameaçava acordar. Mesmo depois de ter se passado algum tempo de que ela tinha o atacado, Leoric não conseguia parar de pensar no que acontecera. Ele temia o pior, e se amaldiçoava por não perceber o que estava vindo, mesmo apenas em sonhos. Tinha falhado com Selene não poderia falhar na última ordem que ela tinha dado a ele. Proteja Lydia. Ele lembrou das palavras dela.

O cavaleiro percebeu que Lydia se revirava na cama, despertando, e lentamente abrindo os olhos. Ela, apesar de sonolenta, parecia bem melhor do que a noite anterior. Sem treinamento, tinha aguentado quase um dia inteiro mantendo seu corpo fortalecido com magia para suportar a dor no ombro machucado e continuar andando, mesmo depois de usar muita energia na luta contra os Galneses.

– Está tudo bem? – Ele perguntou, vendo-a tentar se sentar na cama.

– Está sim. –  Ela respondeu.

Estavam sozinhos na cabana, Latania tinha saído para cuidar de um doente, e Ruriel tinha ido comprar suprimentos para a viagem. Leoric pensou que talvez aquela era uma boa hora para conversa com Lydia sobre o que tinha acontecido no bosque, depois, não teriam tempo.

–   Quer me contar o que aconteceu? – Ele perguntou, já desconfiando da resposta.

Lydia assentiu, desviando o olhar de seu rosto para suas próprias mãos, provavelmente se lembrando do que tinha acontecido.

  – Sinto muito, por te atacar. –  Lydia começou. –  Pensei que tivesse atacando o tirano.

  – Imaginei. – Leoric falou baixo, sentando-se no chão ao lado da cama de Lydia. –  Continue.

– A primeira vez que algo parecido aconteceu foi logo depois do que aconteceu em Litherl. Ele apareceu para mim em um sonho. –  Ela contou. – Nós conversamos, não o reconheci, até ele mesmo contar quem era. Pensei que era apenas mais um sonho, então não falei nada.

– Pensou mesmo Lydia? –  Leoric perguntou. –  Deve sempre confiar em seu instinto, no poder que corre em seu sangue, ele vai dizer quanto algo está errado, como por exemplo, quando se tratar de algo a mais do que um sonho.

– Eu sei que devia ter falado algo. Senti algo errado.  – Lydia admitiu. – Depois, quando me esgotei novamente, ele voltou, dessa vez parecia mais real ainda, ele me disse que tinha conectado a mente dele à minha, e que sabia onde estávamos. Falou sobre Selene, disse que a matou lentamente...

Leoric cerrou os punhos, e apertou a mandíbula tentando conter a raiva que atravessou seu corpo de repente. O tirano iria pagar. 

  – Desculpe. Não devia ter dito isso, sei que eram amigos... Eu... – Ela começou, enquanto encarava seu rosto.

– Não. Não se importe comigo. Continue.

Leoric viu Lydia assentir, enquanto voltava a olhar para suas próprias mãos.

  – Quando ele falou isso, não sei, eu o ataquei. – Lydia contou com uma voz baixa. –  Fui uma tola, sabia que aquilo estava acontecendo apenas na minha mente, mas mesmo assim eu o ataquei, não sabia que ele tinha feito isso deliberadamente, para que eu atacasse você em vez. Queria matá-lo. Já matei tantas vezes,  mas ainda tenho que matar muito mais para chegar até ele. Será que justifica?

 Ele suspirou, já tinha se perguntado a mesma coisa muitas vezes, ele tinha vivido os dois lados daquela guerra, e todos os dois matavam pela vitória.

– A diferença está no seu proposito. Você mata para proteger. Talurien mata por poder. –  Leoric falou apertando levemente o ombro de Lydia. 

Eles ficaram em silêncio por alguns instantes enquanto Lydia processava o que o cavaleiro tinha dito.

  – O que significa minha mente estar conectada a do Tirano? Ele pode me controlar, assim como fez com você, e com minha... com Selene?

– Provavelmente não a uma distancia tão grande, sem nunca ter te tocado, sem nunca ter tido contato com você. Mas se chegarem a se encontrar, ele pode te controlar apenas em olhar para seus olhos, pode ler cada pensamento que passar pela sua cabeça. Pode sentir exatamente o que você está sentindo e controlar isso, da forma que ele quiser. 

– É assustador. – Ela admitiu. – Mesmo com esse poder que tenho. Como posso bater isso?

– Tem uma forma. Mas não sou a pessoa certa para lhe ensinar. Falaremos mais disso quando chegarmos em Agalesia. –  Leoric falou. –  Antes de qualquer coisa precisamos falar sobre Ruriel. 

Leoric a viu levantar a cabeça para olhá-lo, confusa.

–  Ruriel?

– Sim. – Leoric disse. – Deve saber disso para que não repita o que fez, jamais. Sei que as intenções foram as melhores. Mas não deve fazer novamente. 

– Não entendo... Do que está... 

– Quando o salvou em Litherl, o curou, você transferiu, sem perceber, parte de seu poder para ele, você  o transformou, assim como sua mãe fez a mim, um dia. Curar não é algo que seja a favor das leis do Antigo, é antinatural, assim como é a magia da mente que o rei usa. Isso custa algo a você, te torna mais fraca, já que divide algo que é apenas seu destino ter. Sei que tem poder o bastante para ainda ser extremamente forte, mas se fizer novamente, e novamente, isso irá te consumir Lydia, te enlouquecer, assim como aconteceu à Talurien. – Leoric falou.   –  E ainda, quando faz algo assim, transforma a pessoa que ajudou em seu servo eterno. Ele não tem outra escolha a não ser obedecer suas palavras, lutar por você, morrer por você. Ruriel agora Lydia tem com você uma dívida de sangue, ele é seu Cavaleiro.

Leoric observou Lydia o encarar atônita. Ele se repreendeu por ter sido tão direto. Mas apenas não conhecia outra forma de fazer as coisas. Ela iria enfrentar muito a partir daquele momento, ao lado de Ruriel. E tinha que conseguir passar por tudo, inabalável, e invencível. Ela tinha que ser forte se quisesse ter alguma chance naquela guerra.


Oiiii, capítulo extra essa semanaaaaaa. Obrigada por todos os votos, comentários e visualizações. Fico muuuuuuuuuuuito feliz em saber que estão gostando do livro!

Até sexta-feira!

A Canção do Antigo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora