Capítulo 12

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Ruriel

— Vou com você. — Ruriel disse, seguindo Thael para fora da mina.

Ele estava decidido, iria com Thael tentar salvar Lion e não iria aceitar qualquer outra resposta do mestre. Ele não gostava de se sentir impotente. A última vez que tinha se sentido assim fo quando assistira a morte de seus pais por soldados do exército, congelado, sem conseguir fazer nada. Não iria cometer o mesmo erro pela segunda vez.

— Tudo bem. — Thael falou. — Mas vai ficar atrás de mim. Vai fazer tudo que eu mandar...

— Tá. — Ele interrompeu. — Vamos logo.

Ruriel revirou os olhos. Já sabia aquele discurso de cor e não queria perder tempo ouvindo mais uma vez, não enquanto Lion estivesse em perigo. Ele sentiu a mão de seu mestre apertar-lhe com força o seu braço, forçando-o a olhar nos olhos de Thael. Seu mestre estava diferente, não tinha mais um olhar gentil e paciente. Seus olhos emanavam poder e dureza, sua mandíbula estava apertada e suas sobrancelhas juntas em uma feição que transparecia seriedade. Aquele não parecia Thael, o taverneiro de Litherl.

— Isso, garoto, não é uma brincadeira. — Thael começou, olhando-o nos olhos. — A morte e a guerra, não são para crianças mimadas com pena de si mesmas. Sim, você tem uma história triste. Mas em um tempo de tragédias e massacres, me diga uma pessoa que não as tem. A raiva é um combustível que ajuda a mudar realidades, sem dúvida, mas a imprudência só conseguirá te matar. Vai enfrentar a morte agora, garoto, e, se quiser mesmo isso, deve ter a cabeça no lugar. É um ponto sem retorno.

Ruriel abaixou a cabeça absorvendo as palavras do mestre. Ele estava certo, Ruriel não passava de um tolo, uma criança mimada. Ele assentiu voltando a olhar para Thael.

— O que devo fazer então?

— Fique atrás de mim e me obedeça. Mesmo que não concorde com as minhas ordens, sou mais experiente que você, deve sempre me obedecer. — Thael respondeu. — Vamos.

Thael partiu montanha abaixo em um ritmo acelerado, difícil até para ele acompanhar, parando vez ou outra para analisar algo que Ruriel não podia ver no ar ou no solo. Já tinham andado metade de hora quando finalmente avistaram fumaça em um lugar.

— Como sabia... — Ruriel começou.

— Sempre fui um bom rastreador. Tente não fazer barulho. E quando nos aproximarmos, não se esqueça de olhar para cima. Eles costumam se esconder em árvores e rochedos altos, use seu arco.

Assim que se aproximaram o suficiente para poder observar o acampamento ligeiramente, Thael se escondeu atrás de pequenas elevações de neve, e fez sinal para que Ruriel fizesse o mesmo.

O acampamento não era grande. Meia dúzia de barracas em forma de ovo, feitas de pele de animais, se estendiam pela a montanha branca. Os galneses estavam agitados, provavelmente comemorando a série de saques bem-sucedidos pelas vilas pequenas de Norealia. Thael fez um sinal com o dedo e apontou para um ponto distante. Era Lion. Ele estava sentado junto com outras quatro pessoas perto da fogueira Galnesa. Não tinham feito prisioneiros apenas em Litherl pelo que parecia. Iriam vendê-los como escravos.

— São nove. — Ruriel falou.

— Treze. — Thael sussurrou, apontando para os Galneses que Ruriel ainda não tinha conseguido ver.

Ele assentiu encarando as barracas dispostas sem muita ordem no acampamento.

Os galneses eram divididos em várias facções e grupos diversos. Um povo selvagem que se fragmentava a cada desentendimento menor. Aquele grupo que estavam vendo era muito pequeno, provavelmente um dos novos. Eram displicentes e arrogantes demais para perceber um ataque daquela forma. Ruriel sabia que eles estavam fadados a morrer, ninguém roubava do Rei tirano e saía ileso, mas se o exército os encontrassem primeiro matariam todos e Lion morreria com eles. O tirano não fazia prisioneiros.

— Vamos atacar furtivamente primeiro, vá pelo lado direito e pegue as duas sentinelas, depois se posicione no lugar deles e vigie. Deixe o resto comigo. — Thael disse em um sussurro. — E, Ruriel, temos que matá-los, ou vão correr e espalhar a notícia e mais deles virão por Litherl. Se não estiver pronto para isso, fique aqui que cuido de tudo.

Ruriel assentiu e olhou em direção às sentinelas que teria que abater. Estavam distraídos, mas não poderia subestimá-los, provavelmente eram treinados desde criança. Ele traçou uma estratégia enquanto dava a volta silenciosamente no acampamento. Iria pegar as sentinelas do lado direito do acampamento, por trás, pelas costas. Não era um jeito muito honrado de matar, mas teria que servir, por hora. Não podia alertar todos da presença deles no local.

A primeira sentinela estava sentado em uma pedra olhando para a imensidão branca da montanha. Ruriel se lembrou das coisas que tinha aprendido com Thael durante os dois anos que ele o treinara. Para fazer menos barulho ao caminhar, o segredo era dobrar levemente os joelhos, colocar primeiro a ponta dos pés no chão e então distribuir todo o peso igualmente pela sola do pé. Ele tentou manter a respiração controlada, mesmo com o pânico crescendo dentro de si. Ele iria matar.

O soldado não percebeu a sua aproximação até que Ruriel pudesse enganchar um de seus braços ao redor do pescoço do Galnês e fazer, com o outro braço, um movimento que aprendera, mas nunca executara, quebrando o pescoço da sentinela. Estava morto antes que pudesse reagir. 

A Canção do Antigo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora