A Canção do Antigo (Completo)

Capítulo 45

Lydia

- Como deve saber o Tirano está pressionando as guardas das vilas desta região sobre o paradeiro de três fugitivos da vila de Litherl. A recompensa para quem achá-los é um tanto quanto majestosa.

Lydia gelou ao ouvir as palavras.

- Oh pobrezinhos! De fato recebi alguns visitantes esta madrugada, mas foram embora tão rápido quanto chegaram, história triste a deles. - Latania respondeu. - Quem veio a procura de minha ajuda foi minha prima mais nova, que estava grávida, seu marido e seu pai. Infelizmente a pobrezinha sofreu um terrível acidente e caiu do cavalo. Conhecem bem minhas habilidades, Katen e Loren, já que foi graças a elas que os dois vieram ao mundo, fortes como cavalos. Infelizmente, algumas ervas e emplastos de meu conhecimento não foram o suficiente e o bebe não resistiu. Ficaram tão tristes que foram embora logo em seguida mesmo que eu tenha insistido severamente para que ficassem.

- Uma história terrível, Latania. Acho que aceitaremos aquele chá. São tempos difíceis Latania, e sabe Nirl por que, o Tirano está cada vez mais inquieto. Ele mandou numerosas tropas do exército da capital para apoiar o exército real do Norte. - Um dos guardas falou.

- Agora mesmo parte do exército do Norte está acampando no pé das montanhas esperando os reforços da capital, dizem que estão levando alguns prisioneiros do ataque a Rainelle para as minas de ferro ao oeste.

Lydia se levantou abruptamente, prisioneiros de Rainelle, Lydia deixou de sentir o chão debaixo de seus pés à medida que um buraco se formava em seu estômago. Não seria possível, seria? Ela mesmo tinha visto o massacre. Ela tinha que ver com seus próprios olhos, ela precisava resgatá-los.

A jovem olhou em volta, Leoric a olhava com uma feição preocupada, enquanto Ruriel assentiu tomando a decisão de Lydia para si próprio. Eles iriam para esse acampamento, resgatariam todos os prisioneiros e matariam até o último soldado responsável pelo massacre.

- Parece que o Tirano está ficando mais generoso. Antigamente, não fazia prisioneiros. - Lydia ouviu Latania dizer.

- Não ficou generoso, dizem que os aldeões das montanhas de Aurealia estão se mudando em massa para o sul, por causa do abuso dos administradores, as minas de ferro não podem parar, por isso, o Tirano tem levado seus prisioneiros para trabalhar guarnecendo seus exércitos com ferro o suficiente para outros ataques. - Um guarda falou. - Mas pelo que ouvi dizer, a situação nas minas é tão ruim, que seria mais humano que o Tirano tivesse simplesmente matado-os em vez de condená-los a aquele lugar.

Lydia sentiu seu sangue ferver, enquanto sua mente entrava em um estado agora conhecido por ela, a canção do antigo enchia sua mente, incitando-a a perder o controle. Aqueles que tinham a visto crescer, estavam rumando para um destino pior do que a morte. Lydia sentiu um par de braços segurarem-na firmemente, e de alguma forma sabia exatamente quem era, o toque deixou-a mais poderosa, mas, ao mesmo tempo, clareou sua mente.

- Eu sei. - Ruriel falou próximo ao seu ouvido. - Nós vamos resgatá-los.
Lydia percebeu a canção ficar menos agressiva, mais cálida, mas seu poder permanecia vivo, dentro dela, era como se estivesse boiando em um lago infinito, ainda podia sentir todo seu corpo envolto por energia, contudo ainda estava na superfície, sem se afogar. Ela estava ciente da presença de Ruriel atrás de suas costas, mesmo que agora suas mãos já não a tocassem. Ela estremeceu, de alguma forma se sentia cada vez mais próxima daquele jovem que ela ainda mal conhecia.

- Terrivel, o Tirano está bastante agitado nesses últimos anos. – Latania respondeu.

- Sim, estamos fazendo o possível para manter Rugh fora dos planos do rei. – Um dos guardas respondeu. O barulho de cadeiras sendo arrastadas, anunciaram que a conversa estava chegando ao fim.

- Fazem um ótimo trabalho, meninos. – Latania respondeu.

- Temos que ir Latania, obrigado pelo chá.

Eles esperaram no porão até que a porta do local fosse aberta deixando uma grande quantidade de luz entrar no cômodo.

- Tem uma escada atrás de vocês, poderão usa-la para subir. – Latania anunciou.

Lydia permanecia calada enquanto observava Leoric posicionar a escada, contudo sua mente estava um turbilhão, será que seus irmãos tinham sobrevivido? Jolane? Olsen? Não, ela logo balançou a cabeça afastando a esperança, ela mesma presenciara em primeira mão o destino cruel do amigo. Não poderia esperar nada, a única coisa que deveria se dar ao luxo de pensar naquele momento era em como iria resgatar prisioneiros de um acampamento militar do rei. Ela sentiu uma pontada de angustia. Enfrentar diretamente uma divisão de soldados seria uma tarefa impossível, teriam que arranjar outra forma.

Assim que estavam de volta a sala de Latania, Leoric se virou para eles com um olhar preocupado.

- Isso veio mais cedo do que imaginei, achei que teria tempo de chegar em Agalesia, antes de fazerem algo tão perigoso. Não estão prontos, estão longe de estarem prontos. Se estão levando prisioneiros não devem ser poucos, é extremamente imprudente...

- Não podemos simplesmente... – Lydia começou.

- Não me interrompa. – Leoric ralhou severamente. – É extremamente imprudente, mas sei que faria com ou sem a minha ajuda. Vão ter que fazer exatamente o que eu disser, se disser que corram, devem correr, se eu disser que se escondam, deveram sumir até que os chame de volta. Se não for nesses termos não iremos.

Lydia olhava Leoric com espanto, ela estava preparada para discutir com o mestre se for preciso.

- Lydia, é muito importante que chegue em Agalesia, para aprender coisas que poucos podem ensinar. – Leoric falou.

- Isso pode ser conseguido facilmente.  – Latania começou. – Os cavalos que consegui vão dar à voçês uma fuga rápida.

Sairam de Rugh tão rapidamente quanto entraram, dessa vez escondidos, pela parte de trás da vila, usando um caminho deserto que Latania conhecia. Lydia sentiu frio na barriga pelo que iria enfrentar, nada do que tinha acontecido até agora se comparava a se infiltrar em um acampamento do exército do Tirano. Mas ela sentia que era a coisa certa a fazer. Ela tinha que resgatar aqueles prioneiros.