Capítulo 11

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Lydia

— Ainda temos algum tempo até a próxima etapa. — Ela ouvira a voz de Olsen atrás de seus ombros. — Quer ir até a couraria de Bern?

Lydia assentiu. A oficina de Bern ficava a cinco casas de distância de onde Lydia morava, era grande e feita de pedra, tinha uma porta de madeira dupla desgastada pelo tempo, e as várias chaminés em seu teto cuspiam fumaça preta, dia e noite. Ligada à oficina, estava a casa do mestre de profissão que parecia muito menos imponente.

A vila tinha poucas casas, um tanto afastadas umas das outras, algumas maiores, mas todas parecidas quanto à aparência. Algumas galinhas corriam soltas pela estrada de terra que cortava Rainelle. E os cheiros típicos de uma vila de fazendeiros tomava o ar. Várias pessoas ainda bebiam e festejavam, enquanto se dirigiam às casas dos vizinhos para uma refeição antes da segunda prova do dia.

Assim que avistaram a estranha oficina de Bern, ouviram os gritos histéricos do mestre de ofício, que provavelmente tinha ficado fora a amanhã inteira para participar dos jogos. Alisto estaria trabalhando, visto que Bern tinha o costume de impedir aqueles aprendizes que t não tinham sido corajosos o suficiente para participar dos jogos, de assisti-los.

— Darn, olhe por onde anda, garoto, se estragar outro couro vou ser obrigado a lhe deixar fora da oficina por uma semana inteira. — Escutaram a voz de Bern superar as paredes da courearia.

Lydia e Olsen entraram pela grande porta de madeira. O lugar era quente, cheio de mesas, com peles e ferramentas espalhados por todos os lugares. Fedia a couro queimado, uma fumaça cinza tomava conta do lugar.

— Alisto, o que mais tenho que dizer para você? Eu falei para ficar de olho no defumador!

Passado mais algum tempo de gritaria e correria, Bern finalmente conseguiu controlar o fogo que começava a se formar próximo ao defumador instalado no fundo da sala e se aproximou dos visitantes.

— Vejo que trouxeram peles para mim. – Falou Bern tirando o couro do cervo da mão de Olsen. — É grande, uma verdadeira raridade. Pago doze Ralines por ela.

Os preços eram sempre negociáveis em Rainelle, na verdade, a pechincha fazia parte da cultura do lugar. Olsen eram um mestre nessa arte, tinha muitos amigos e sabia ser insistente.

— Um Celari e meio. — Retrucou Olsen.

— Tudo bem, tudo bem, um Celari é tudo que posso pagar. — Bern respondeu. — E só farei isso porque Lydia me ajudou na corrida.

— Feito. — Respondeu Lydia. — Como está seu pé?

— Como sabia que tinha sido meu pé? — Ele perguntou, com uma das sobrancelhas levantadas. — Estava vendada.

Lydia continuou o encarando em silêncio, nenhuma desculpa lhe vinha à cabeça então apenas balançou os ombros, em um gesto de dúvida.

— Palpite de sorte. — Respondeu.

O velho coureiro assentiu, parecendo aceitar a desculpa de Lydia, pegou uma moeda de ouro em um dos bolsos de sua calça e entregou para os dois, abanado as mãos para que fossem rapidamente, antes de voltar apressado para o defumador, que teimava em lançar labaredas por todas as partes.

— Bern? — Lydia chamou. — Por acaso Alisto já está liberado? Ou irá comer a refeição aqui?

— Ah. — Começou o velho. — Claro. Tenho que ir para casa de qualquer forma, Suyen já deve estar furiosa. Esses garotos inúteis só sabem me atrasar.

Os três garotos saíram da oficina em silêncio.

— Tendo um trabalho danado com o defumador. — Olsen caçoou, claramente segurando uma risada. — Quem diria, hein?

A Canção do Antigo (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora