Sem ter para onde ir, resolvo parar e descansar nas escadarias de uma igreja. Sentada, observo o céu repleto de nuvens carregadas, que impedem a lua de brilhar.
— Vamos lá. Uma última tentativa.
Disco o número de Alex pela quinta vez.
— Alô. — Ele finalmente atende, no terceiro toque.
— Alex, graças a Deus! Por que você não estava me atendendo?
— Desculpe, Lisa. Eu estava meio enrolado aqui... Lembra daquela morena maravilhosa que foi na lanchonete ontem?
— Aquela do decote até o umbigo? — Reviro os olhos. — Como eu poderia esquecer?
— Pois é. Neste exato momento, ela está bem ali, no meu chuveiro.
— Poupe-me dos detalhes sórdidos, Alex.
— Ok. — Ele ri. — Então fale logo, que eu preciso ir até lá fazer companhia à ela. O que houve?
— Meu chuveiro queimou. — Minto. — Preciso que você o troque.
— Tudo bem, mas... Precisa ser agora?
— Não, já consegui tomar um banho quente. Hoje você pode continuar a se divertir com a "siliconada"...
— Não é silicone, eu constatei.
— Alex, pelo amor de Deus!
— Ok, desculpe.
— Olhe, continue o que quer que esteja fazendo, ok? Amanhã resolvemos o meu problema.
— Certo. Que horas?
— Passe por lá pela manhã. Umas oito horas.
— Por lá? Onde você está a essa hora?
— Eu... Resolvi dar uma volta. Está uma noite bonita.
— Noite bonita? Está vindo uma tempestade, isso sim. Vá para casa, Lisa.
— Já estou indo. E você, Alexander, tenha juízo, ok?
— Esse é o meu sobrenome.
— Até amanhã, Alex.
— Até amanhã, pequena.
Desligo e suspiro.
— "Vá para casa". Como se eu tivesse uma.
O vento anuncia que a chuva chegará logo. Pego minha mochila e subo as escadarias da igreja, o único abrigo que me ocorre. Encontro as portas abertas e, em seu interior, iluminado por lâmpadas de tom amarelado, o padre organiza algo que não consigo visualizar.
Faço o sinal da cruz e me sento em um dos últimos bancos.
— Boa noite. — Ele sorri, gentilmente.
— Boa noite.
Uma mensagem de Alex chega em meu celular:
"Ouvi agora sua mensagem. Tem certeza que a "enrascada das grandes" é só um chuveiro queimado?"
"Você me conhece. Eu jogo baixo." — Respondo, tentando parecer convincente.
— Aceita um cobertor, filha?
— Ah, obrigada.
Pego o cobertor e o observo se postar na porta, como quem aguarda por alguém.
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Imperfeitos
RomanceAos 20 anos, Elisa Hathaway se vê em uma triste e entediante rotina. Trabalhando como garçonete em uma lanchonete que não paga muito bem, ela sonha com o dia em que se verá livre dos garotos irritantes e dos chicletes que eles colam embaixo das mesa...
