Isabelle
— Tyler me odeia. — Nora, nossa mãe, lamenta com voz de choro.
— Não, ele não odeia você. — Fungo. — Essa é a forma como Ty lida com a dor. Ele faz piada, debocha e depois se isola. Se você o conhecesse, saberia.
Nora engole em seco, travando o maxilar.
— Você disse que está morrendo. — Cody a encara. — De qual doença?
— Doença hepática alcoólica. Decorrente dos muitos anos de abuso de álcool.
— Mas a medicina está muito avançada hoje em dia. Deve haver uma cura.
— Não no meu caso. Os danos ao meu fígado são irreversíveis. A única solução seria um transplante.
— Seria?
— Se eu não morresse no processo.
Papai vira as costas, notoriamente incapaz de ouvir Nora falar, e deixa o cômodo.
— Então, é isso? Você morre, de uma forma ou de outra?
Nora consente com um pequeno sorriso, tentando disfarçar a dor estampada em seus olhos.
— Acho que é a vida me cobrando.
Cody enxuga suas lágrimas com as costas da mão e desvia o olhar para o chão.
— Você nunca pensou em voltar? — Pergunto, finalmente. — Nunca teve vontade de nos ver outra vez?
— Todos os dias, minha menina. Eu lutei contra essa vontade por todos esses anos.
— Por que? Por que você lutou contra? — Pergunto, entre soluços.
— Por que eu sabia que minha volta só traria dor. Eu estava morta para vocês e era assim que eu deveria continuar. Mas tudo mudou quando eu reencontrei seu irmão...
— Meu irmão... Tyler?
Cody também a olha, em um misto de espanto e curiosidade.
Nora consente.
— Eu me fixei em Byron Bay há três anos. Foi lá que eu finalmente consegui me livrar do vício e passei a levar uma vida totalmente limpa e saudável. Eu agora sou dona de um pequeno quiosque a beira mar. — Ela sorri. Um sorriso legítimo e muitíssimo parecido com o meu. — Em mais um final comum de trabalho, voltando para casa, um garoto esbarrou em mim na rua e fez meu coração acelerar. Eu pensei: "Ele tem os mesmos olhos do meu filho!".
Seco novamente meu rosto molhado pelas lágrimas que caem sem parar.
— Esse mesmo garoto entrou no meu quiosque no dia seguinte, se sentou no balcão e me pediu um Bay Breeze. Eu disse que não trabalhava com bebidas alcoólicas ali e ele debochou. Depois, encarou meus olhos por alguns segundos e optou por uma Tropical Colada. Eu preparei seu pedido e o servi. Mas, diferente da maioria, ele não voltou para a praia. Ele bebeu e conversou comigo por uma hora inteira, parecia realmente interessado em tudo o que eu falava. — Nora conta com um sorriso. — Ele me disse que seu nome era Sebastian e que ele morava no Brooklyn. Eu me apresentei como Emma White. Sebastian apareceu no dia seguinte e no outro também. A presença daquele garoto acalentava meu coração. Ele me escutava com tanta atenção que eu chegava a estranhar.
Cody e eu ouvimos a tudo em total silêncio.
— Alguns dias depois, ele voltou para casa, deixando meu coração apertado por sua ausência. Eu não compreendia aquele sentimento. Era algo tão forte e genuíno, algo que eu não sentia há anos. Então, a verdade veio à tona. Um homem me procurou, dizendo que Tyler Abrams gostaria de se encontrar comigo. O meu menino, meu Tyler. O garoto com quem eu passei horas conversando. No fundo, eu sempre soube que era ele. — Ela chora. — Mas, cumprindo a promessa que eu fiz quando coloquei meus pés para fora dessa casa, eu o afastei. Mandei o homem dizer a ele que eu não queria nenhum contato e que ele esquecesse de minha existência. Acho que essa foi a decisão mais difícil que eu já tomei em toda minha vida. — Nora seca as lágrimas com rapidez. — Aquele dia eu tive uma recaída. Eu bebi tanto que fui parar no hospital, em coma alcoólico. Demorei alguns dias para me recuperar, meu abdômen doía como o inferno. Foi então que a notícia veio: meu fígado estava caminhando para a falência completa. Fui diagnosticada com doença hepática alcoólica em estágio avançado. Tentei dezenas de tratamentos, mas nada funcionou. A menção de quase morte caiu como uma bomba em meu colo, eu só conseguia pensar em vocês. Por esse motivo, eu voltei atrás com minha promessa e decidi vir até aqui. — Ela respira fundo, antes de prosseguir. — Meus filhos, eu não espero que vocês me perdoem, mas eu precisava me perdoar.
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Imperfeitos
RomansaAos 20 anos, Elisa Hathaway se vê em uma triste e entediante rotina. Trabalhando como garçonete em uma lanchonete que não paga muito bem, ela sonha com o dia em que se verá livre dos garotos irritantes e dos chicletes que eles colam embaixo das mesa...
