— Ty, não diga uma coisa dessas! — Isabelle pede, entre soluços.
— É a verdade, Izzy! Essa mulher nos renegou não por uma, nem duas, mas por várias vezes! Ela não merece um pingo do nosso sofrimento!
— Você não faz ideia do que está dizendo! — Nora se manifesta.
— Eu faço sim! Você forjou sua morte e foi bancar a nômade pelo mundo afora. Você nos abandonou para curtir sua vida de aventuras!
— Eu não fiz isso. Eu não forjei minha morte!
Tyler dá uma risada debochada, notoriamente duvidando da afirmação da mãe.
— Eu nunca me encaixei nesse lugar. O luxo, o requinte, os sorrisos robóticos... Eu sempre detestei isso. Eu vim de uma vida simples e descomplicada e isso era tudo o que eu queria. Mas o meu amor por seu pai me fez permanecer. Por anos! Eu abri mão da minha felicidade para estar com ele. — Nora olha para David, com os olhos marejados. — Quando você nasceu, Tyler, meu coração se encheu de luz. Foi a primeira vez que me senti genuinamente feliz nesta casa. Meu pequeno menino, tão calmo e sorridente.
Tyler trava o maxilar.
— Depois, você chegou, meu doce Cody. — Ela sorri para ele. — Vocês dois eram meu refúgio, meu ponto de paz. Era por vocês que eu não cedia. Que eu não me entregava.
— Se entregava à quê? — Cody pergunta.
— À enorme tristeza dentro do meu coração.
Desvio meus olhos por um segundo. Sua voz é pura dor.
— E então, você nasceu. A menininha mais linda e delicada desse mundo. — Nora olha fixamente para Isabelle, que chora em silêncio. — Foi tão difícil para mim. Eu não conseguia te segurar em meus braços, não conseguia dar a atenção que você precisava. Eu não conseguia te amar, minha filha.
Isabelle afunda o rosto no ombro de Cody, que a ampara.
— Já chega, Nora! Vá embora!
— Eles precisam saber os meus motivos, David. Por favor, me deixe terminar.
— Termine. — Tyler intervém. — É impossível que você consiga nos causar ainda mais dor.
Nora respira fundo, antes de continuar.
— Eu vivi por meses com essa angústia. Eu não dormia, não sorria, não me alimentava direito. A única coisa que fazia com que eu me sentisse um pouco melhor, era a bebida. Eu bebia todos os dias, escondido. Fui parar no hospital várias vezes. Eu fui ao fundo do poço e quase levei seu pai junto comigo. — Ela seca as lágrimas que correm por seu rosto. — Eu não suportava mais viver daquela maneira e vocês não mereciam. Então, em um momento de total desespero e falta de esperança, eu fugi. Fugi para nunca mais voltar.
Isabelle ainda chora inconsolavelmente no ombro de Cody. Já Tyler segue encarando Nora friamente.
— Mas voltou.
— Voltei, porque preciso do perdão de vocês para poder seguir em paz.
— Pretende ir para o céu? — Tyler debocha.
Nora engole em seco.
— Você foi dada como morta. Como? — Cody questiona, notoriamente emocionado.
— Houve um acidente de carro alguns dias após sua mãe sumir. — David é quem responde. — Um dos corpos não foi reconhecido, a moça seria enterrada como indigente. Então, eu fui até lá e afirmei ser minha esposa. Nora Abrams foi sepultada aquele dia.
O silêncio novamente se instala no cômodo. Nem mesmo Tyler é capaz de falar.
— Eu fiquei de luto por você, Nora. Por anos. Eu me convenci de que você realmente estava morta. Foi mais fácil aceitar sua morte do que seu abandono.
Nora fita os sapatos, incapaz de encará-lo nos olhos.
— Eu menti para os meus filhos, meus familiares e amigos. Eu privei Izzy de viver, por medo de um dia ela se encontrar com você. Eu me tornei um homem infeliz e um pai distante. — David chora. — Você me destruiu, Nora.
— Eu sinto muito, David. Por tudo.
— Ok, atingi minha cota de drama por hoje. Se me dão licença.
Tyler vira as costas para a mãe e sobe as escadas até seu quarto.
Em um impulso, resolvo seguí-lo.
Abro a porta e o encontro sentado na cama, com as mãos apoiadas na cabeça.
— Tyler... Eu sei que você está com raiva, que está sofrendo. E eu não vou te deixar sozinho em um momento como esse.
Ele segue fitando os sapatos.
— Então, vá em frente. Pode gritar, espernear e me mandar embora. Eu não vou sair daqui. — Me sento ao seu lado, na cama.
Ele levanta a cabeça e me olha com os olhos cheios de lágrimas.
— Vem cá.
Estendo meus braços, onde ele se aninha, chorando.
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Imperfeitos
RomanceAos 20 anos, Elisa Hathaway se vê em uma triste e entediante rotina. Trabalhando como garçonete em uma lanchonete que não paga muito bem, ela sonha com o dia em que se verá livre dos garotos irritantes e dos chicletes que eles colam embaixo das mesa...