— Finalmente uma receita normal!
Comemoro, após ler o cardápio do dia.
— Você nunca vai parar de implicar com a alta gastronomia?
— Enquanto ela incluir lesmas e fígado de ganso, não.
Eleanor ri.
— Como você passou a noite? Está com uma carinha tão abatida.
— Ah, ainda estou me acostumando com os ares de Manhattan...
— Sente falta dos amigos do Brooklyn, não é?
— Muita. Nos falamos todas as noites pelo telefone, mas não é a mesma coisa, sabe? Costumávamos estar juntos todos os dias, o dia todo. É difícil desapegar.
— Eu te entendo, querida. Te entendo mesmo.
Eleanor acaricia meus ombros, quase maternal. Seu gesto me dá um novo ânimo.
Minutos depois, iniciamos o preparo do almoço.
— Batatas descascadas, chef.
— Oh, merci. — Eleanor faz uma exagerada reverência.
— Eu não sei dizer "De nada" em francês. — Retribuo a reverência imitando um sotaque francês tosco, que arranca risadas de Eleanor.
— Que bom que você se animou. Agora vá picar algumas cebolas.
— O ânimo se foi. — Baixo os ombros.
— Pois trate de pegá-lo de volta. Vamos!
Dou um muxoxo de insatisfação, antes de começar a árdua tarefa.
Lágrimas mais tarde, inicio o preparo de um molho madeira, seguindo com atenção a receita de Eleanor.
— O conhaque é para eu beber? — Pergunto, com um grande sorriso.
— Claro que não, engraçadinha.
— É para quem, então?
— Para o quê. O molho.
— Ah, ele bebe?
Eleanor revira os olhos, tentando segurar o riso.
— Jogue e você descobrirá.
— Ok.
Despejo o conhaque no molho.
— CARAMBA!
Afasto, bem a tempo, meu rosto das chamas que sobem ameaçadoras por toda a frigideira.
— O molho está pegando fogo! — Encaro, assustada, a frigideira em chamas.
— É exatamente o que ele deveria fazer. — Eleanor responde erguendo o pequeno copo, agora vazio. — Você acaba de flambar seu molho.
— Eu... O quê?
— Ah, eu adoro essa parte!
Isabelle surge na cozinha com um livro nas mãos.
— Qual parte? A que a Lisa aqui quase fica sem as sobrancelhas?!
— Não... É claro que não. — Isabelle se apressa em responder.
Eleanor ri descaradamente.
— Já pensou, Elisa... Você, com as sobrancelhas todas chamuscadas? — Ela dobra-se de rir.
— Não estou achando um pingo de graça, Eleanor. — Fecho a cara.
Isabelle resiste a tentação de se juntar às gargalhadas de Eleanor, folheando com rapidez o livro à mão.
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Imperfeitos
RomansaAos 20 anos, Elisa Hathaway se vê em uma triste e entediante rotina. Trabalhando como garçonete em uma lanchonete que não paga muito bem, ela sonha com o dia em que se verá livre dos garotos irritantes e dos chicletes que eles colam embaixo das mesa...
