Família Feliz

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Encaro-me no espelho novamente e solto um longo suspiro. Papai me deu um novo lenço hoje – não que isso me anime muito. O lenço é vermelho com flores amarelas e tão... Esquisito...

—O que você achou? —Papai pergunta sorrindo amplamente. Viro-me e sorrio.

—Lindo! —Exclamo sorrindo e o abraço para desfazer meu sorriso. —Obrigada papai.

Papai trabalho no ramo de telecomunicação; ele tem uma pequena empresa chamada Steele Enterprises, que é herança da vovó, que morreu pouco depois de descobrir que eu estava doente, talvez desgosto. As coisas eram mais fáceis antes da doença, bem mais fáceis. Nossa família estava sempre junta, exceto meu tio Tate e minha tia Grace. Eles foram há alguns anos para Seattle, por desentendimentos familiares, e lá se vai uma longa história.

—O que você acha de jantarmos fora hoje? —Papai pergunta me pondo sentada em sua perna.

—Não. —Digo sorrindo e ele ri com descrença. —Que tal nós três sentarmos no meio da sala, em cima daquela colcha horrível que a mamãe fez e comermos comida árabe daquele restaurante da esquina?

—Colcha horrível? A mamãe vai adorar ouvir isso. —Meu pai fala brincalhão e eu sorrio amplamente.

Desde o começo da doença os sorrisos tem sido escassos aqui em casa, e eu vivo fazendo de tudo para ver meus pais sorrirem, isso me deixa feliz. Muito feliz.

—Vamos ligar para a mamãe então. Ela pode trazer a comida. —Papai fala e eu balanço a cabeça sorrindo.

Minha mãe também cuida da empresa com papai, eles revezam. Um dia papai cuida de mim, no outro minha mãe. Particularmente eu prefiro a companhia de papai. Minha mãe normalmente fica neurótica comigo; ela cuida bem de mim, é claro, mas ela tem medo que eu possa morrer a qualquer segundo, e age como uma louca.

—Você ficará bem sozinha?

—Pai. —Reviro os olhos.

—Anastásia, eu me preocupo.

—Claro que se preocupa. —Falo rindo e ele me faz cócegas. —Não! Não comece, eu preciso de privacidade. Ligue para a mamãe, e fale que eu quero algum doce.

—Ok menininha. —Papai me dá um beijo na testa e se levanta indo para a porta do quarto.

—Papai... —Chamo e ele se vira. —Eu não sou mais uma menininha.

—Eu sei... —Ele fala com um olhar triste e eu me arrependo na hora. —Não quer que eu te chame mais assim?

—Quero. —Sussurro e ele sorri. —Eu posso não ter mais cinco anos, mas eu vou sempre amar ser sua menininha.

—Eu também vou amar isso. —Papai fala e depois de alguns segundos parado ele sai do quarto.

Seco algumas lágrimas que caíram e me levanto. Caminho até o espelho e arranco o lenço da cabeça fazendo uma careta. Lenço horrível. Pego minha peruca e a coloco antes que eu comece a encarar a minha careca brilhante. Isso realmente é horrível. Balanço a cabeça e ajeito a peruca. Assim está melhor.

—Querida, que tal um bolo de chocolate com nozes? —Papai grita do andar de baixo.

—Parece ótimo. —Grito de volta.

Pego uma escova e começo a escovar a peruca sem muito animo. Ela não é feia, mas eu sinto falta dos meus cabelos reais. Sinto falta de poder me mexer a vontade sem medo que a peruca vá cair a qualquer momento. Se bem que me mexer é o que menos faço. Há dois anos minha mãe decidiu que eu deveria estudar em casa, e eu só aceitei porque isso a deixou feliz.

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