A natureza sempre comanda.

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28 de junho de 2012

A natureza sempre comanda!

Eu sou capaz de antever tantas coisas, eu vivo no passado, no presente e no futuro dos outros, mas, quanto ao meu futuro, eu não sei de mim...

Para certas pessoas eu não nego os meus dons, digo que sou um paranormal sem religião e ajudo quando não comprometa o meu trabalho. Mas tem certos problemas que eu não me nego a resolver mesmo, principalmente quando diz respeito a gente do bem sendo atacada pelo mal que os outros desejam.

Cássia, amiga de minha esposa, pediu que eu fosse ao seu trabalho para dar uma averiguada no ambiente. Cruzes! Que lugar pesado, sinistro, com forte desiquilíbrio causado por reveses de trabalho e parcas relações pessoais. Os quinze minutos que fiquei lá pareceram os mais longos de toda a minha vida, de tão incomodado fiquei, justo um anjo acostumado com os piores seres do mundo.

Ao deixar o prédio antigo, cuja repartição só funcionava no andar de baixo, numa única sala cumprida, havia um homem de meia idade do outro lado da rua. Ser das trevas como era, e como eu invadia os seus domínios, ele me encarou agressivamente. A avenida onde estávamos, bem estreita aliás, separada por um canteiro central, ficou dividida entre a claridade dos meus bons sentimentos à direita, e uma parte sombria à esquerda, onde ele estava. Havia tanta maldade em seus sentimentos, uma tal perversidade, que as minhas asas se abriram por conta própria como armas para atacá-lo.

Na maioria das vezes eu faço um indizível esforço para deixar as asas quietas, a ponto de meu coração quase parar por causa do esforço, ao latejar dolorosamente. Entretanto, eu deixei as asas à vontade. Toda a malignidade a mim dirigida evaporou num estalar de dedos. Saí rápido para a rua, fui logo embora, pois não queria estar ligado fluidicamente a ele ou com o que tinha visto pairando ao longo da sala: uma espécie de tapete feito pela emenda de vários espíritos trevosos, famintos e sedentos de energias humanas, que pairava a um metro e meio do chão, bem na altura do coração da amiga de minha esposa. Quanta piedade eu senti por aqueles espíritos tão ignorantes em sua dor e ódio. Não daquele homem, entretanto, e nem mesmo da senhora que mandou fazer o "trabalho". Que sujeita ruim! Quando eu a olhei, eu só vi espíritos do mal ao seu redor. Um deles ficava agachado ao chão próximo a ela, confabulando maldades, coisas que ela escutava com prazer, debochando interiormente de todos ali ao redor.

Cássia vivia reclamando de mal-estar. Ficava a cada dia mais adoecida! Pobre coitada... Aquele sujeito dos infernos também havia enroscado um espírito em forma de cobra em sua perna, outro em forma de caruncho em sua coluna, mais um espírito em forma de bicho sugador em seus olhos. Cássia corria o risco de ficar cega. Mas eu não iria deixar.

Ainda naquela mesma noite, eu acordei de madrugada e com tanta sede que nem a quinta garrafa de água conseguiu saciar. Então resolvi fazer algo que seria impensável em outra circunstância: usei os meus dons angelicais para proteger Cássia e, mesmo de longe, inundei seu corpo e sua casa com a luz das minhas asas. Eu também circulei o prédio onde ela trabalhava com muita luz, para evitar que aquele sujeito enviasse suas emoções nocivas para o interior. Mas, na minha ingenuidade, eu esqueci a DPF e, aquele tapete de espíritos enroscados foi parar lá no nosso departamento. De manhã o tapete de espíritos estava lá. Todos nós sentimos sua presença o que bastou para que a confusão começasse. Para se ter uma idéia: Bruno, discutindo com Lucas? Amigos como eles eram? Entretanto, o mais atingido fui eu, com o horror que sinto pelos meus dons e pelo fato de certas criaturas carecer de evolução! Meus nervos estalavam e dava esporros até mesmo em papel que caiam da mesa.

- Porra! – Gritei.

Dona Clara, exclamou, calmamente:

- Cruz Credo! Esse homem está mais parecido com um cão raivoso! Coitado do cão!

Eu via a bruma em forma daquele tapete e notava toda a minha equipe sentindo o peso de sua energia deletéria. Dona Clara comentou, como se assim do nada:

- Credo, Dr. Pedro! Só Jesus mesmo para dar um jeito neste ambiente tétrico!

- Tétrico, Dona Clara? – Indaguei. - E a senhora sabe lá o que é isso, cacete? Daqui a pouco vai é estar trazendo gospel para fazer sessão de cantoria!

Dona Clara, baixinha de dar dó, mas de uma audácia que só Jesus mesmo para impedir que eu lhe desse uns bons tabefes, respondeu:

- Olha aqui, seu moço, você pode até mandar aqui dentro, mas lá fora mando eu com os impostos que paga o teu salário! Eu trago a minha banda aqui e boto a maior banca lá fora! Te mete comigo que eu processo!

Eu xinguei um palavrão e ela fez uma oração. O pior, ou o melhor, é que a sua oração deu certo. O ambiente melhorou um pouco, pelo menos. Naquela tarde, ao sair da DPF, eu vi o espírito daquele homem e, depois, um sonho que me tiraria do sério: anjos vieram até mim, extraíram um monte de energias do meu corpo (meus berros deixaram minha esposa desesperada), e foram ajudar as almas que formavam aquele tapete voador escuro no nosso departamento na DPF. Pobres espíritos escravizados, eu me compadeci deles... Que porra nenhuma! Que o inferno os acolhessem!

Quanto aquele homem, os anjos abriram minhas asas e me jogaram de encontro a ele. Cada célula do meu corpo se sobrepôs a cada célula em seu corpo fluídico, retirando toda a perversidade que o habitava...

Eu não sei o que dizer, nem o que pensar agora que estou escrevendo e analisando tudo isso que aconteceu... Pelo menos consegui ajudar Cássia, minha equipe e nossas famílias... Cássia é uma pessoa do bem, luta por causa humanitárias; minha mulher é o escudo da casa; Dona Clara, a companheira atrevida quando o pau quebra; meus homens, são policiais federais da divisão de drogas e armas que vivem sob o bater do malho dia e noite, suas esposas são as muralhas onde eles se escoram, os filhos àqueles por quem eles voltam inteiros para casa. Quanto ao que penso sobre a mesquinharia de pessoas que usam a espiritualidade para fazer o mal? Desprezo. O mais puro desprezo! A verdade e o bem sempre prevalecem! A natureza sempre comanda!

Execrar é uma palavra que eu gosto! Muito!

Malditos...


Cotidiano de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora