"Não existe um só dia em que eu não esteja em confronto com Deus! Mas eu posso! Eu sou um anjo!" - Diz Pedro, em seu diário.
Pedro é um anjo revoltado com seus dons e poderes. Mesmo ao encontrar o seu caminho divino, se enfurece e se volta n...
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21 de outubro de 2012
Após socorrer aquela família naquele sonho lindo, o pesadelo de ter milhares de vozes ecoando na minha cabeça passou. Agora há um silêncio que desfruto com calmo deleite. Eu também estou dormindo sem usar remédios. Na mesma medida, eu me sinto mais confiante para ajudar as pessoas que eu conheço sem o temor de estar indo contra a mim próprio, o Pedro humano, em favor da minha natureza de anjo. Faço por elas e por mim, como se fosse um paranormal qualquer.
22 de outrubro de 2012
Mas não é tão fácil e tranquilo assim. Hoje, durante a tarde, aconteceu um acidente lamentável em frente a DPF. Um carro, que estava em alta velocidade, atingiu uma moto pelas costas, matando a moça, de vinte e um anos, e o namorado, um pouco mais velho. A menina era filha única e o rapaz ajudava a família com o trabalho de vendedor em loja de automóveis. O pior de tudo isso é que o motorista da caminhonete socorria a esposa vítima de um derrame!
O choque da caminhonete na motocicleta tirou a todos nós do trabalho! Eu fiquei ao lado daquele senhor tentando acalmá-lo. Ele estava completamente desnorteado! Andava de um lado a outro querendo pegar a menina e o rapaz e levá-los ao hospital mais próximo; então, ele lembrava da esposa e corria para o carro. A cena na rua não era nada boa de se ver: a frente do carro estava destruída, a senhora com a cabeça enfiada no air-bag, a moto jogada longe e os corpos da menina e do rapaz esparramados no asfalto quente daquela hora. O rosto da menina ficou desfigurado, o corpo do rapaz quebrou em todos os pedaços possíveis.
Com o barulho da batida, o lugar ficou cheio de gente das redondezas. As viaturas da polícia chegaram com o corpo de bombeiros. Ao comprovarem a morte da senhora, o homem sentou ao chão e ali ficou. Eu sentei ao seu lado, coloquei o braço em redor de seus ombros. Tão lamentável acidente.
– Ela era a única pessoa que eu tinha na vida! – Dizia. – Meu único filho morreu de leucemia! – Olhou para mim e disse: - A culpa do acidente foi minha! Se eu não estivesse correndo tanto, eu teria visto a moto entrar na minha frente. Eu matei as duas crianças. Eu matei eles e a minha mulher! Pobre de mim!
Naquele momento ele deixou a cabeça pender. Eu dei um pulo para trás e parei de pé! Gabriel e Ismael, inundados de luz, estavam à nossa frente! Haviam presenteado aquele senhor com a morte sem sofrimento. Nos braços de Ismael, sua esposa; ao lado de Gabriel um rapaz alto e forte, com dois olhos negros, brilhantes. Era seu filho e eles deram um longo abraço.
- Ele era um bom homem, Pedro. – Disse Gabriel a mim por pensamentos. – E a gente vai levá-los para estar com a família toda! Chega de tanto sofrimento.
- E as crianças, Gabriel? – Indagou apontando os corpos no chão, sendo atendidos pelos médicos do Samu!
- Ainda não... – Murmurou Ismael com convicção e desapareceram.
Horas mais tarde, recebi um telefonema de Daniela, uma amiga de minha esposa, que conhecia o casal que estava na moto. Ela, muito afobada, dizia:
- A mãe da menina é médium. Ela está desesperada, pois não consegue ver a alma da filha e do namorado, Pedro! Ela ouve os gritos da filha, ouve o rapaz chamar pelos pais, mas não consegue identificar o lugar onde estão!
Minha vidência abriu na hora:
- A moto foi levada para a oficina de um parente do rapaz, não foi? – Respondi. – Eu até conheço aquela oficina! É a Oficina do Geral! A menina está agarrada ao Lico, tu conheces ele! Ele faz parte elétrica! Ela está gritando no ouvido dele. O rapaz não está bem não! O namorado dela está conversando com o Ilê, o mecânico, como se estivesse vivo! Ilê está sentindo dor na cabeça e no peito!
- Como você consegue fazer isso, Pedro? Você nem sabia que a moto estava lá na oficina do tio dele!
- Eu apenas sei, Dadá! E vocês precisam ir lá agora! O casal não sabe que morreu! Eles estão bem nervosos! De encher a oficina com espíritos trevosos não custa um pulo! A menina está gritando muito!
- A gente vai lá com o nosso grupo, então? Não quer ir com a gente, Pedro?
- Nem me chama para essas coisas!
- É para fazer o bem, Pedro!
- O bem eu faço pagando as minhas contas!
- Mas pode ajudar com a tua vidência!
- Eu já ajudei! Vocês agora sabem onde eles estão! E nada de sessão espirita lá na oficina. Eles não se dão com essas coisas lá!
Entretanto, e para a minha surpresa, depois do telefonema da Daniela, não só minha cabeça, mas todo meu corpo experimentou a mais absoluta quietude, e eu quero apenas aproveitá-la. Quer saber? Chega de escrever por hoje...
