Em uma noite qualquer...

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... As minhas asas...

Muitas vezes eu nem me lembro de sua presença em minhas costas. Há momentos, entretanto, nos quais elas se assemelham a luzes que se expandem ao infinito e me vergam devido ao peso... É desconcertante pensar que luz possa nos alquebrar como se fôssemos reles capim rasteiro onde se pisa e amassa. 

De vez em quando as asas se materializam, abrem e se agitam resistentes, pirracentas, obstinadas. Em outras ocasiões elas se espalham como miríades de estrelas, alcançando os confins do universo. Lá, elas se imiscuem em sistemas e seus planetas onde seres arrostam a própria sobrevivência... conflitos que atraem minha mente para um esmagador turbilhão de imagens confusas e sons enlouquecedores. Em choque, minha respiração se contrai, os pulmões se fecham, o coração dispara a estourar, a dor dilacera a alma. Eu deixo de ser eu mesmo para me tornar todos os outros a quem vejo, ouço e sinto. 

Pedro não sou este eu aqui... Pedro se torna o infinito, Pedro sente dor, Pedro se curva derrotado.

As minhas asas não se parecem com um casulo onde eu possa me abrigar nas horas de tormenta. Mas agora eu entendo os motivos das noites sem dormir, dos dias caóticos, das lembranças de lugares e pessoas desconhecidas, de cenas e ocasiões sem qualquer procedência; de situações como a de caminhar descalço sobre um fio de uma navalha - muito mais do que um simples 'pisar em ovos', aliás. 

Morte, tragédias, olhar as pessoas e sentir o que sentem, caminhar e ver sangue brotando do chão anunciando pesadas perdas em acidentes com transportes; a vertigem anunciando tornados, ciclones, tempestades. O chão se quebra em pedaços na hora de um terremoto; sonhos com reuniões de terroristas aprontando a próxima investida...

Asas... elas servem é para isso... Não! Elas não me servem. Eu sou o escravo de sua presença impiedosa!


Cotidiano de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora