28 de março de 2013
O choque de voltar para a rotina de trabalho após as férias em Ubatuba excedeu o restante da minha paciência, pois bastou colocar os pés em Boa Vista para o 'pega pra pacá' na delegacia e os dons de anjo voltarem. Eu pensei em largar o serviço público, mudar para aquela cidade de praia onde morava grande parte da família adotiva da minha esposa. Quem sabe abrir um pequeno comércio de veraneio longe de policiais, bandidos e anjo ou talvez usar minha OAB para advogar de graça para necessitados.
A verdade é que antes mesmo de sair de férias eu já estava no limite. A gente cresce pensando em trabalhar, ganhar dinheiro e projeção social, comprar casa, carro, ter internet banda larga, computador potente, celulares ainda melhores e, para tanto, nós nos vemos imersos nessa loucura de trabalho para o qual ninguém mesmo dá uma solução que preste, mesmo se você está em um bom grupo de trabalho como o meu; mas o que vem de fora, e o que chega por dentro... puta que pariu...
Eu também tomei uma decisão que deixaria minha mulher estarrecida, por um lado, mas compreensiva, por outro. Eu não queria mais a presença de Lúcifer em casa. Por mais que seus negócios com os anjos e Deus não dissessem respeito a Terra, como ele dizia, alguma voz dentro de mim, tão consistente que sequer eu a denominava humana ou angelical, incomodava a ponto de me deixar inquieto o tempo todo ao abordar a situação como ardil.
Lúcifer não se aproximava do nosso filho. Aliás, ele não gostava de crianças. Ele também rechaçava qualquer contato com as pessoas em geral. Certo dia, minha esposa saiu à rua para atender duas moças vizinhas, moças bonitas, por sinal; ele olhou, falou que as brasileiras eram bonitas, mas que nunca chegariam aos pés das mulheres do Oriente. Mesmo assim, até mesmo a sua calma, os espezinhamentos mútuos e hilários entre ele e Ismael, a intimidade respeitosa e altiva por Gabriel, os cuidados para com minha esposa (a quem chamava de "não tua, Pedro, ela é a minha esposa" – que me deixava furioso, aliás; levando-o às lágrimas de tanto rir), os cuidados comigo quando eu estava entregando meu coração e alma a quem sofria, mesmo assim, aquela voz interior dizia: ardil.
Eu comentei o fato com Ismael, que deixou a decisão para mim, pois que não acreditava que Lúcifer "estaria armando" qualquer coisa contra mim; eu também confiei meus receios a Gabriel, que argumentou: "Lúcifer é luz da nossa luz, sangue de nosso sangue, mais do que irmãos, somos um só. Nós o vemos como a 'ovelha negra' da família, a ovelha desgarrada. Como tal, nós esperamos que um dia ele retornasse ao pai e que trouxesse de volta nossos irmãos. Veja bem, nosso pai não permite que Lúcifer e seus anjos usem a Terra de arma contra ele, tipo: "Se vós, pai, não fizerdes o que queremos, nós destruiremos a Terra!" Não há nada disso. A natureza humana é complexa e doente, não precisa de um Lúcifer para causar mais estragos. Agora, se o teu instinto, seja ele humano ou não, está alertando alguma coisa, reaja positivamente. Mais vale a tua consciência tranquila por ter seguido uma intuição, do que se lamentar por não ter ouvido essa voz interior. Errada, ou não!
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Cotidiano de um Anjo
Paranormal"Não existe um só dia em que eu não esteja em confronto com Deus! Mas eu posso! Eu sou um anjo!" - Diz Pedro, em seu diário. Pedro é um anjo revoltado com seus dons e poderes. Mesmo ao encontrar o seu caminho divino, se enfurece e se volta n...