Ameaça...

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( texto sem correção )

Ameaça..

Eu fui ao banheiro. Ao lavar as mãos, três sujeitos de ternos escuros vieram por detrás de mim. Um deles envolveu minha cabeça com seus dedos longos, ossudos e a empurrou contra o espelho e a parede, depois eles sumiram. Isso aconteceu tão rápido que não consegui me defender e me sentia tão mal que fiquei prensado contra a parede que afundou. Sangue descia em profusão do meu rosto coberto de cacos do espelho quebrado.

Como delegado, eu tenho um banheiro na minha sala e como demorava a voltar à reunião que faríamos em breve com policiais e militares, Lucas foi ao banheiro. Preocupado chamou várias vezes, o que o incentivou a abrir a porta. Ao me ver como estava, de pé, junto à pia que também se quebrara, e como não consegui me mover, tal o meu estado de pavor, Lucas entrou, falando chefe, chefe, chefe, completamente em choque. Um a um da minha equipe foi se achegando à porta do banheiro, horrorizados, entretanto impedidos de entrarem pelas meninas e Dona Clara que naquele momento tinha trazido o café e biscoitos para a reunião.

- O que houve chefe? - Perguntavam. Mas explicaria o quê? - Ele caiu? Escorregou?

- Lucas, vamos puxar ele, devagar! Tem muito caco de vidro. - Disse Bruno e eles me tiraram devagar, um de cada lado, amparando o meu corpo. Estava realmente atordoado e sem reação!

- Não pode deixar essa parede assim cara! – Matias falou, num sussurro. - Tem de esconder a parede! Olha isso! O rosto ficou marcado direitinho!

- Os cortes estão feios! Vamos levar ele! Está sangrando pra caralho!

- A gente fecha o banheiro, diz que vazou água da pia. Que o chefe escorregou feio, que bateu a cabeça no espelho e na pia que quebraram. Tem que quebrar a pia cara!

- Dona Clara! – Matias gritou. – Traz o martelo! Agora! Tá na minha mesa! Dentro da caixa preta.

Num instante a pia estava quebrada.

- Espalha o sangue, cara.

Dona Clara correu e quebrou o cano debaixo da pia, molhou o banheiro da forma como era preciso para simular uma queda por causa de água e piso molhado.

- Gente, os policiais estão chegando e o general do BIS também. – Avisou Mauricio, um dos meus policiais favoritos, sempre calado e forte que nem uma muralha. Ele acabou recebendo os policiais e a turma do general que chegavam naquele instante.

- O Delegado Pedro sofreu uma queda. – Explicou. - Se quiserem me acompanhar até a antessala, por favor.

Mauricio os levou até a sala, Dona Clara serviu café a todos, muito sensata e gentil ao oferecer os biscoitos que ela mesmo fizera para a reunião. Mas nada comentou sobre o ocorrido e ninguém perguntou.

Rodrigo, nosso agente mais antigo, disse que daria um jeito naquilo.

- Leva o chefe, cara! Vão! Dou um jeito aqui. Todo mundo na DPF vai querer saber o que aconteceu. O cano vazou e o chefe escorregou e machucou feio. Vai lá e pega o carro, véa! – Pediu a Maria
Antônia.

Depois de fechar a porta, ele mesmo iria se encarregar de chamar um encanador e de ninguém entrar nem para ver. Eu desmaiei no instante que me levaram para o carro. Estivera lúcido até aquele momento.

- Povo é enxerido mesmo! Ainda mais do modo de como gostam do chefe.

E era verdade. Segundo Lucas e Matias, a preocupação foi geral pela DPF. Os policiais e os militares que chegavam também sentiram muito. Todos me viram sair da DPF carregados pelo Bruno e pelo Lucas. Eu fui levado num dos nossos carros para o Hospital Materno Infantil São Lucas, ali perto da DPF, por causa da quantidade de cacos de espelho no meu rosto, o corte profundo na minha testa, o nariz quebrado. Fui bem atendido pela equipe médica apesar de não ser ali o lugar mais adequado. Os médicos foram gentis por causa da proximidade dos cacos de vidro com os meus olhos. Logo ao limparem os cacos de vidro, algo que demorou bastante, fui enviado pelo Samu ao Hospital Geral de Roraima.

Por três dias eu fui medicado para apagar geral. Quando eu acordei o transtorno começou. O que eu iria dizer a todos? Foi que me veio a ideia de dizer uma meia verdade!

- Cara! – Eu murmurei, com esforço, Mônica de mãos dadas comigo, sentada à cama do hospital. – Eu juro que fui empurrado.

Meus policiais ficaram alarmados.

- Como empurrado? Como assim?

Bruno e Lucas me olhavam de viés. Como me conheciam de anos, provavelmente já pensavam em fantasmas malvados na história. Dona Clara fez um sinal da cruz!

- Melhor deixar isso de lado e fazer uma missa ecumênica por lá!

Para não despertar suspeitas, eu aceitei, desde que eu mesmo não estivesse presente.

- Tá doido, véo? – Indagou Lucas. – Tem que estar junto. Povo vai comentar pra caralho.

- Eu o represento. – Sugeriu Mônica. E foi o suficiente. Depois eu saberia da missa culto e sessão espírita.

Mortais... Se soubessem quem eram aqueles "demônios" ou "espíritos", provavelmente sequer entrariam de novo na minha sala ou no banheiro. Eu próprio, após melhorar, mesmo com o rosto ainda marcado na testa, onde o corte fora profundo, tinha medo de me aproximar do banheiro. Aliás, foi um custo entrar de novo lá.

Eu fico pensando nesses filmes de terror que passam no cinema e na televisão... as pessoas não compreendem que muitos espíritos não são sofredores querendo chamar atenção. Aqueles que me empurraram fazem parte de uma confraria de espíritos psicopatas. Eles não se preocupam em melhorar, não há como reencarná-los, eles se fecham em torno deles próprios como se fosse uma instituição trevosa. Tudo o que querem é possuir a tudo e a todos. Eles não ficam espantando pessoas comuns no dia a dia. Isso é coisa para os pobres coitados os quais nem sabem que faleceram, muitas vezes... Eles não possuem qualquer tipo de emoção. Tudo para eles se resume em perturbar a paz e vão onde estão aqueles que comandam. E se insinuam, e vão penetrando nos lugares mais profundos de uma mente já repleta de tensões, muitas vezes conseguem o que querem. Ali, na DPF, na nossa comunidade de policiais, eles estariam a perseguir um anjo.

Meu rosto não ficou muito marcado por causa dos cuidados de um artesão, se assim posso chamar o cirurgião que cuidou de mim. Restou o corte na testa, um pavor enorme, e mais comprimidos a tomar. Mônica acendia suas velas, Dona Clara rezava na capela próxima a sua casa, Lucas ajoelhava na sua igreja pedindo proteção. Bruno deitava no chão do terreno coberto de seus colares de Ogum e Oxum, ofertando a própria alma para a nossa segurança, Mauricio reunia os Hare Krishna para cantarem seus mantras para nós, as meninas, todos eles, cada um à sua maneira, com suas orações. Eu estava muito próximo de ir atrás daqueles espíritos, abrir minhas asas e usar seu peso sem qualquer comiseração. Mas sentia que não era a hora. Essas asas... esse estorvo... mas iria usá-las se o caso fosse proteger meus policiais. 

Cotidiano de um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora