°^ Capítulo Três ^°

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Primavera de 2013, Lucas

-Bora, mano!-Renato está parado no meio de meu quarto me arrumar minhas coisas.
-Estou terminando a mala. -Respondo colocando as últimas peças de roupas na mochila.-Vamos.
Saímos do meu apartamento. Alguns de meus amigos conseguiram uma folga de última hora e como é sexta feira nada melhor como descer pro litoral.
-Mariana está nos esperando no carro.-Ele diz quando as portas do elevador se abrem no térreo.
Apenas assinto.
Cumprimento o porteiro assim que saio.
Abro a porta do passageiro e Mariana me cumprimenta com breve beijo nos lábios.
Ela é uma mulher bonita, com seus cabelos negros caindo sobre suas costas, sua pele morena e seu sorriso que se destaca.
-Vamos? - Pergunta prestes a acelerar o carro.
-Bora lá, gata.
Enquanto o carro ganha velocidade ligo o rádio e " dias de lutas dias de glória" do Charlie Brown Jr começa a ecoar pelo carro, abro o vidro sentindo o vento contra minha pele. Sempre amei a praia, sempre amei surfar. Desde a primeira vez que vi meu pai surfando soube que aquele seria um hobby que levaria pelo resto da vida. Ah, e que hobby.
Quem me dera um dia, ser como o Pedro Scooby, por exemplo, mas sou um bom surfista, apenas não recebo pra tal, mas faço com amor.
Jorge, um outro amigo nosso,
ficou de nos encontrar lá na casa de praia. Ele me garantiu que levaria suas pranchas, por isso não me importei de levar a minha mesmo.
-E como você conseguiu arrumar um tempo com tantos trabalhos da faculdade?-Mariana pergunta enquanto divide a atenção entre mim e a estrada.
-Ah, se eu for fixar toda minha energia nisso não vou viver. Já fazia um tempo que não saia de casa e sabe como é na faculdade ou você vive ou toma café...
-Como assim?-Renato pergunta rindo no bando de trás.
-Tipo, dormir não será uma opção, sair muito menos. Então você apenas toma café e meio que não vive, entendeu?
Ela apenas assente.
-Por que arquitetura?-Ele pergunta.
-Sei lá, gosto de desenhos, geografia e de criar coisas me pareceu útil, além de que poderei ajudar meu pai na empresa quando me formar. -Respondo fitando a paisagem através da janela.
Sempre fui meio irresponsável, mas infelizmente, com a faculdade não posso ser. Ou estudo ou não consigo o emprego quando sair.
É meio que um castigo, só que dura alguns anos e te vicia em café, fora isso é uma ótima fase da sua vida. O único problema é que não tenho certeza se me lembrarei de tudo, o estresse excessivo pode causar perda de memória recente, por incrível que pareça, e isso me preocupa e este foi um outro motivo pelo qual aceitei descer para a praia hoje. Me distrair.
Demoramos cerca de cinquenta minutos até avistar a casa de praia de minha família.
Mariana estaciona o carro e descemos, abraço-a enquanto caminhamos em direção a entrada. Jogo as chaves para Renato que abre a porta principal.
Adentramos, é muito bonita, lembra a casa de campo da família Albuquerque/Guimarães. Nunca entendi o porquê de comprarem uma casa de campo juntos, eles não podiam apenas serem vizinhos? Eu me contentaria com isso.
-Onde eles estão?-Mariana pergunta se referindo ao outros que ainda não chegaram.
-Eu não sei, só quero minha prancha. -Digo jogando-me no sofá.
-E aí bando de retardados?!-Jorge adentra a casa rodando a chave do carro em suas mãos, ele tem por volta dos vinte e quatro anos, cabelos castanhos.
-Trouxe uma prancha pra mim?-Pergunto me levantando.
-Qual é, Luluh não sentiu me falta? Você só pensa nesta sua prancha, não éramos assim no início do nosso relacionamento.-Ele diz se aproximando de mim.
-Engraçado. -Ironizei.
-Ela tá no carro, princesa. -Diz piscando.
Renato ri do outro lado da sala.
-Olha, quem saiu da toca chamada faculdade!-Alice, namorada de Jorge, vem em minha direção e me abraça.
Cumprimento-a.
Saio da casa seguindo Jorge até o carro dele que está com ambas as pranchas no suporte em cima do carro.
Retira uma e me entrega enquanto pega a outra.
-Bora?-Pergunto fitando o mar a nossa frente.
O sol está escaldante e ainda são dez horas da manhã, tenho todo o dia para surfar... Isso é realmente o paraíso.
Jorge apenas assente. Deixo a prancha apoiada no carro enquanto tiro minha camisa e corro até a porta da casa joagando-a no sofá.
-Onde você vai?-Mariana pergunta.
-Surfar, baby, surfar. -Respondo já saindo.
Pego a prancha e corro até o mar. A água fria se choca contra minha pele quente.
Quando a profundidade chega finalmente em meus joelhos subo na prancha e começo a remar, mar a fora. A cada onda que se passa é uma sensação diferente.
Quando estou no mar é como se o mundo ao meu redor não existisse, como se meus problemas, faculdade, problemas familiares nada disso existe. Existe apenas eu, a prancha e as ondas.
A sensação de surfar é simplesmente maravilhosa, é como a liberdade, ou um pequeno resquício dela que procuro. Da liberdade que desejo.
Se sentir preso a algo é natural, afinal provavelmente estamos, entretanto se sentir vazio é de longe uma das piores sensações já experimentadas pelo ser humano, não é como se houvesse uma solução, sei que há, mas no instante em que o vazio é realmente sentido você não busca o preenchimento, você busca coisas que você ACHA que preenche, mas no fim você continua se sentindo da mesma maneira.
O mar, as ondas, eles preenchiam aquele um por cento do meu vazio, e eu, um pobre mortal, me conformei com apenas um por cento esquecendo-me dos noventa e nove por cento...
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E aí meus amores???
O que acharam do capítulo?
Há tantas coisas por vir e minha ansiedade não está me ajudando em nada kkkk
Espero que tenham gostado!
Não se esqueçam de comentar e deixar o like!
Amo vocês ❤️❤️

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