Capítulo 2 - Um Adeus

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Uns dias se passaram depois da minha conversa com a Brenda. A gente ainda tava se falando normal, mas eu não tinha dito nada sobre o intercâmbio ainda. Brenda ainda tava muito abalada com o negócio do divórcio dos pais dela e todo dia ela falava como aquilo tava mexendo com ela e com o Arthur, achei melhor ainda não contar.

Tudo que se passava na minha cabeça naquele momento era que eu precisava contar aquilo pra ela, eu tenho certeza que se ela souber por outra pessoa vai ser muito pior.
Mas com tudo isso do divórcio dos pais dela, eu tenho medo de piorar toda a situação dela, eu vou ficar fora por um ano, o que ela pensaria de mim?

Resumindo, eu não fazia ideia do que fazer porque eu tinha duas opções e as duas opções teriam riscos.

Enquanto eu pesquisava apartamentos na cidade que eu ia ficar e lendo recomendações de pessoas que já foram ou que moram lá, meu celular tocou. Era o Matheus. Pra ser bem sincera, não tava nada afim de falar com ele ou ouvir a voz dele depois de ontem, mas atendi do mesmo jeito.

- Oi Matheus, tudo bem? - digo, indiferente.

- Oi Lola, tudo bem? - respondo com um "uhum" - Olha, me desculpa por ontem, fui um idiota.

Ah, muito obrigada!

- Eu só achei mancada, não tinha motivo algum pra você ter feito aquilo. - bufo - As vezes você parece uma criança, sinceramente.

- Eu pareço uma criança? É você que fica puta só porque sujei seu cabelinho de ovo. - ele diz.

Era melhor não ter atendido.

- Ah, então você quer começar a jogar as verdades na roda? Então tá, vamos lá. Eu to cansada das suas infantilidades, cansada de você me tratando como se eu fosse insignificante pra você, como se eu fosse uma idiota que fica no seu pé e cansei dos seus egoísmos.

Foi ótimo falar isso.

- E eu... eu to cansado de... cansado de você - ele claramente não sabia o que dizer - cansado de você ficar falando seus problemas com a Brenda pra mim, eu não sou a porra do seu psicólogo.

Não é possível que ele só abra a boca pra falar merda.

- Sério? Então, qual o seu conceito de relacionamento? Porque no meu conceito um relacionamento saudável se baseia, além de tudo, em dividir suas dores e preocupações e compartilhar as alegrias e partes boas. - digo, convicta.

- Foda-se. - ele diz, indiferente.

- Foda-se? - sorrio, irônica - Cansei, mais tarde me encontra naquele parque de sempre. Vou estar lá esperando você.

Preciso acabar logo com isso.

- É, acho que a gente precisa conversar mesmo.  - ele diz.

- Por favor, não se atrase. - peço.

- Tá.

Depois do "tá" dele, desliguei a chamada, puta da vida pelo babaca que ele tava sendo.

Tanta coisa tava passando na minha cabeça que eu nem sei descrever o que era. Além de não ter contado pra Brenda, que é a minha melhor amiga, eu não sabia como o meu namoro com o Matheus iria ficar enquanto eu estivesse fora, na verdade sabia sim, independente da viagem eu não aguentaria muito mais tempo nisso. E além disso, sempre odiei essa coisa de relacionamentos à distância, eu acho que isso tudo é muito errado, porque nunca funcionam e os casais acabam terminando o namoro de qualquer jeito...

—————

Cheguei no parque e fiquei esperando o Matheus por mais de meia hora. As vezes eu tenho vontade de só terminar e não falar mais nada com ele. Tem que ter paciência demais e eu já passei dessa fase.

- E aí, morena? - ele chega fazendo gracinha.

- Qual parte de "por favor, não se atrase" você não entendeu? - bufo.

- Só 5 minutos, tenha dó, não sou certinho feito você. - ele disse, revirando os olhos.

- 5 minutos multiplicado por 12, né? Só se for. - Digo, estressada.

- Eu não entendi. - ele senta do meu lado.

5*12 = 60 minutos = 1 hora. Será que é tão difícil?

- Então, sobre o que você quer conversar, Lola? - ele diz, impaciente.

- Você sabe... Com todo esse negócio do divórcio dos pais da Brenda, ainda não tivemos um momento para falar sobre nós quando eu for viajar. - digo. - Não só isso, mas eu acho que não consigo mais fazer isso, Matheus.

- Pra ser sincero, eu também não. Acho que eu já não sinto mais nada por você, Lola, a não ser uma repulsa.

Ele tá brincando, né? Eu não ouvi isso, não.

- engulo seco - Repulsa? Desde quando? Eu nunca disse que não sentia mais nada, só falei que já não é mais isso que eu quero pra mim. - completo.

- Vamos ser sinceros, você é muito certinha, gosta de tudo do seu jeito, tudo perfeito. - ele falou, mexendo no celular

- cutuquei ele - Será que você pode prestar atenção em mim? Isso é importante. - ele só respondeu com um "Foi mal aí" - Concordo com você, eu gosto de tudo perfeito sim. E você nunca me dá valor, sempre sou eu que tenho que perguntar o que você quer, se você está bem e se eu te peço algo, você surta. Você nunca abriu a porta do carro pra mim, nem sequer uma vez. Eu acho que mereço coisa melhor do que alguém que só fale merda pra mim. Na real, eu acho que nunca vi você me fazer um elogio sem que eu pergunte "como eu estou?". - digo, sem medo.

- Você é muito diferente de mim, Lola. - ele pega na minha coxa, mas tiro a mão dele - Com certeza você vai ter um pouco de dificuldade de seguir em frente, porque alguém tem que ser louco ou estar desesperado pra querer ter algo com você.

- Filho da puta, é isso que você é. Vai se foder. - me levanto - Não fale nunca mais comigo. - dou um tapa na cara dele.

- Piranha! - ele responde.

Depois disso saio andando sem nem olhar pra trás. Quando já estava longe do parque, as lágrimas começaram a cair. Dois anos de relacionamento pra acabar desse jeito. Por que ele não falou que não queria mais nada antes? Ainda disse que tinha repulsa de mim. Eu tenho nojo dele. É isso que eu tenho. Nojo, desprezo.

Eu cheguei em casa exausta e não queria falar com ninguém. Subi direto pro meu quarto e me joguei na cama e comecei a chorar muito. Mas não era de só de tristeza, era de desapontamento.
Acabei dormindo e nem percebi porque a última coisa que me lembro era que eu estava chorando, acordei com uma ligação da Brenda de madrugada.

- Amiga, por que você não veio aqui em casa hoje? - Brenda falou, com voz de sono.

- Eu não tava muito bem pra ir hoje, me desculpa. - falei, séria.

- Tá tudo bem? Sua voz tá tremula, Lola. O que aconteceu? - ela pergunta.

- Eu e o Matheus terminamos. - soluço - E não foi nada amigável.

- Meu Deus! - ela deu tipo uma risada de leve - O que foi que houve?

- Umas coisas aí... Não tava dando mais certo. - suspirei - Você riu ou foi impressão minha? - minha paciência já não tava boa.

- Rindo?! Eu não ri. - ela tossiu - Umas coisas aí? Lola, sério, conta o que houve!

- Olha, eu tenho que ir, meu celular tá descarregando. Falo com você amanhã. Boa noite. - desligo o celular.

Tinha acabado de tirar ele do carregador.

Usei uma desculpa qualquer pra me livrar das perguntas da Brenda. Eu não queria ter que explicar tudo que tinha acontecido e blá-blá-blá. Mas o que eu achei estranho foi que a Brenda pareceu ficar feliz pelo término, vai entender o que se passa na cabeça dela.
Amanhã seria um longo dia, o tal jantar que eu ia contar toda a verdade pra Brenda sobre o intercâmbio. Eu só sei que eu tava muito cansada do dia. Fui tomar um banho, coloquei meu pijama e voltei a dormir como se não houvesse amanhã.

[Capítulo Revisado]

Por Um Continente De Distância // Blake Richardson [COMPLETA] Onde histórias criam vida. Descubra agora