Sarah Montserrat
Eu havia dirigido algumas horas até a corte nacional da Província Canadense. Depois de toda minha conversa com Justin há uns dias, fiquei horas fazendo relatórios e repassei cada cena do julgamento. Para a minha ajuda, peguei os trabalhos da Universidade em que ele estudou.
Justin ter assassinado o padrasto não faz sentido. Não com o que ele relatou.
Justin teve uma infância saudável, um pouco complicada pelos pais serem separados desde seu nascimento e por ser bem pobre. Justin saiu dos subúrbios de Stratford, mas sua mãe e seu pai (mesmo separados) sempre deram a ele assistência. Frequentou a escola regularmente, nunca teve problema com drogas e sempre se esforçou muito no Colégio para tirar a mãe da situação em que viviam. Mas, apesar de às vezes ter que pedir moedas na rua tocando poucas canções em um violão, ele me garantiu que fora muito feliz em vários quesitos. Tinha amizades fortes, laços inquebráveis com os avós, o pai, mesmo estando em outro casamento nunca deixou de vê-lo. O senhor Jeremy ajudava Justin a estudar, incentivou a começar com aulas de coral na prefeitura da cidade. Daí, Justin se tornou um amante da música. Com a chegada de Nicholas, Justin me falou que sua mãe mudou muito, como seus avós moravam com ele na época que o padrasto chegou, foram obrigados a sair porque o cara era insuportável. A história parou aí. Ele não quis me contar mais nada.
Mesmo tendo a história incompleta, criei várias hipóteses.
Estacionei o carro em frente o tribunal de justiça e desci do carro, indo até a entrada. Mostrei meu crachá e passei pelas catracas, indo até o elevador. Eu espero que o juiz do caso Bieber ainda esteja aqui. Liguei antes, mas não quiseram informar.
Assim que cheguei ao segundo piso fui falar com a recepcionista.
- Bom dia - cumprimentei.
- Bom dia - ela falou, pela sua voz, soube que foi com ela que eu falei ao telefone.
- Eu telefonei pra vocês hoje pela manhã, sou Sarah, psicóloga jurídica. Foi o Juiz Connor que me deu indicação para investigar um dos presidiários da penitenciária de Toronto.
- Ah, sim, não estava lembrada. Vou comunicar o senhor Connor que você está aqui e já te peço pra entrar.
- Obrigada - sorri, indo pegar um copo d’água. O elevador fez um “plim” logo atrás de mim mas não dei importância. Quero dizer, até ouvir a voz totalmente grave pronunciando meu nome com certo divertimento.
- Você por aqui, Montserrat? - olhei para Trevor e assenti.
- Eu mesma - lhe mostrei um sorriso. Eu poderia simplesmente ficar com vergonha por ter chamado ele pra sair por mensagem, mas eu não sou dessas. Não sinto vergonha por isso. Nem um pouco.
- Veio falar com o Connor? - Nikkei passou por mim, atraindo a atenção da secretária. Claro que ele ia atrair olhares, a bunda do cara está sendo abraçada pela calça social escura. Bendita academia, se eu souber onde ele faz exercícios eu irei me matricular com certeza.
- Vim… sobre o presidiário da solitária - me sentei em uma das poltronas largas e ele se sentou na minha frente, pegando um jornal de cima da mesinha.
- Vim ver se posso fazer parte de um dos julgamentos como estágio. Comecei a fazer direito…
- Com certeza você consegue - comentei, dando de ombros.
- Você acha mesmo? - Nikkei alisou a barba bem feita. Esse homem exala masculinidade. Não posso compará-lo com Justin, porque os dois são bem diferentes.
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Do que somos feitos
FanfictionDada a minha sentença, mantive-me por cinco anos sem iluminação alguma, a não ser a mísera fresta que ousa cruzar a fechadura da solitária. Alguns diriam que a iluminação ali é um sinal de esperança. Eu não acreditava nisso até o verdadeiro "pedaço...