So sick

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Sarah Montserrat

Uma vez, eu estava em casa com meu pai, ele era saudável e eu tinha quase doze anos de idade. Paul Gretsky Montserrat parou na porta do meu quarto e me explicou o que era sexo. Eu já sabia há anos, lembro que eu ri muito alto quando ele fez isso.

Nos meus dezesseis anos, ouvi falar no abuso sexual. Uma das cheerleaders da minha escola havia sido estuprada em uma festa do time de futebol. Era novo ouvir “estupro”, até então, eu nunca havia visto alguém vítima de estupro. Foi horrível para todos e principalmente para ela explicar o que aconteceu. Nós demoramos um semestre todo para saber a verdadeira história, a menina tinha tanta repulsa que, quando ela foi prestar depoimento vomitou na mesa do juiz.

Depois que eu entrei na faculdade de psicologia, minha visão sobre o mundo mudou, ainda mais quando conversei com essa garota, - Skye se bem me lembro.

Skye visitou a clínica de psicologia que tinha no campus e eu a atendi em um de meus estágios. Aquele dia eu percebi a gravidade de um estupro, notei o quanto isso ronda a mente dos vitimados.

Então, ao ver o pai da minha filha saindo pela porta da minha casa eu caí na real. Skye me contou que ficou anos sentindo repulsa de si, disse que sentia vontade de fazer sexo mas na hora “H” sentia medo, lembrava do incidente e perdia a vontade. Eu tenho quase certeza de que foi isso que aconteceu com Justin. Acredito que precise de todo um preparo para poder voltar a ter relações sexuais. Acredito também  que, apesar de ele ter sido violado por tanto tempo e ainda ter sido pego na cama da ex namorada, os primeiros meses após a violação seja uma fase de negação, como no luto e, quando finalmente chega a aceitação seria o “choque de realidade”.

Até hoje eu não tinha notado o quanto Justin me atrai. Ele é sexy. Olhos lindos, lábios deliciosos de passar a língua… sem contar o corpo - que não é de um porte tão grande -, Justin se encaixa em cada tatuagem que tem.  E eu posso garantir que o pênis é de dar água na boca.

Essa noite eu não tive coragem de ir atrás dele, mas não significa que eu desisti. Não tenho ideia de como vou falar isso para os pais nem para os amigos dele. Muito menos para o juiz. Bieber não quer admitir que sofria abuso sexual de um homem, eu o entendo.

Peguei a Sun - que me olhava toda perdida - e a apertei, entrando no meu quarto, pensativa.

***


Toquei a campainha da casa em que Justin morava, ouvindo passos apressados até a porta. Depois de dias pensando o que eu deveria fazer para dar justiça ao que aconteceu com Justin, algo mais forte do que eu me trouxe aqui.

Foi aqui que eu achei aquele caderninho, provavelmente ele sofreu abuso nessa casa.

- O que você quer? - A mãe de Justin olhou para mim com nojo, soltando a fumaça do cigarro no meu rosto.

- Acho que se lembra de mim - olhei para ela, vendo Bruce e Diane caminharem até nós, pedindo para mim entrar.

- Ela não vai entrar nessa casa! - contestou Pattie.

- Não faço questão - a olhei - vocês podem vir aqui fora? Não vou demorar.

Bruce e Diane saíram de dentro da casa e me indicaram um banco no Jardim. Fomos até lá, com Pattie atrás, mal humorada.

- Justin Bieber saiu da prisão nesse feriado - fui direto ao assunto, mas Pattie não gostou muito.

- Veio aqui pra dizer isso? Grande coisa.

- Cale a boca, Patricia - Diane ordenou - prossiga, querida, ele está bem?

- Não - os olhei, cruzando meus braços - há cinco anos houve um crime nesta casa, e não, eu não estou me referindo ao assassinato merecido de Nicholas Joel Hank.

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