Sarah Montserrat
Estávamos na delegacia. Isso mesmo, o filho da puta fez um escândalo e tiveram que chamar a polícia.
Pobre Charles, o meu consultório tem câmera, tudo o que ele disse ficou bem guardado. Então, assim que ele começou a dizer que eu o ameacei de morte eu exigi que fossem na clínica e olhassem tudo. Isso mesmo. São quase duas da manhã e eu estou sentada ao lado do meu ex marido esperando a polícia nos liberar. Um dia na prisão, uau, Sarah.
- A culpa é sua - rosnou ele, chamando a atenção do delegado, que o olhou com tédio e me olhou em seguida.
- Vocês saem em algumas horas… você - o senhor à nossa frente apontou o dedo para Charles - vai pagar indenização por danos morais.
Como se fosse a pior coisa do mundo, Somers se pôs em pé é bateu na mesa do senhor, que se levantou em seguida.
- Você sabe quem eu sou?!
- Você é um cara que vai pagar indenização para a sua ex-mulher e vai prestar serviço comunitário por desacato a autoridade, agora se sente, preciso ver se vou os liberar agora.
Olhei meu celular, lendo uma mensagem da Madeline dizendo que a Sun sequer pensa em dormir e está chorando há horas e apoiei minha mão em meu rosto, respirando fundo.
Sentado à minha frente, o delegado analisou os papéis e me olhou, dedilhando a barba grossa e mal feita.
- Você não desgruda os olhos do celular, pode ir para casa.
Obrigada, céus, obrigada.
Foi desnecessário vir para delegacia, mas é muito bom ver a cara de derrota de Charles Somers.
- Isso é injusto - resmungou Chaz.
- Obrigada, senhor - falei e em dois tempos eu já estava fora daquele inferno.
Mesmo estando tarde, tive que ir para casa de metrô, com uma dúvida enorme na minha cabeça :
Eu ainda tenho um emprego?
(...)
Sim, eu tenho um emprego, que por um fio não foi para o ralo.Conversei com o diretor e ele me deu uma suspensão e eu vou ficar sem setenta por cento do meu salário neste mês. Poderia ser pior.
Dois dias de folga e uma criança para esclarecer as coisas.
- Sun, seu papai não é ele, Geórgia é uma pessoa ruim e não quer ver você bem. Não é seu papai.
Mesmo eu tendo todo o cuidado do mundo, minha menina permaneceu na cama, coberta até o pescoço, soluçando.
Sentei-me e a coloquei em meu colo, Madeline se sentou ao meu lado e me olhou.
- Se a vovó disse que eu tenho um papai, eu tenho! - então, minha filha cruzou os braços, me olhando como nunca havia olhado antes - e se ela for dar meu papai pra mim eu vou ir embora com ela.
Minha tarde de quarta-feira não podia ser pior.
Cinco facadas no peito talvez. Ou até mais.
Sunshine nunca disse isso, ela não tem nem idade, não sabe direito o que está acontecendo.
Engoli o enorme nó na minha garganta e a coloquei na cama.
- Sarah… - Chamou Madeline, com o intuito de me confortar, mas meu coração estava relutante demais.
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Do que somos feitos
FanfictionDada a minha sentença, mantive-me por cinco anos sem iluminação alguma, a não ser a mísera fresta que ousa cruzar a fechadura da solitária. Alguns diriam que a iluminação ali é um sinal de esperança. Eu não acreditava nisso até o verdadeiro "pedaço...