Sarah Montserrat
Fui embora do presídio nervosa. Não brava ou estressada, mas sim, nervosa.
Como Justin simplesmente deduziu que eu estava mal? Está tão aparente assim? É impossível, simplesmente impossível que um presidiário que eu conheço há quase um mês tenha entrado numa parte tão pessoal da vida.
Quando cheguei na clínica, entrei direto no meu consultório e peguei a ficha de Justin. Minhas anotações antes do abraço eram as seguintes :
“Gosta de ficar sozinho, aprecia a fama de ser o ‘terror' da solitária.
Calado, observador.
Não gosta de tocar em assuntos sobre sua pena, prefere sexualizar as coisas.
Impenetrável, desconfiado, frio.”
Risque alguns itens e anotei outros :
“ Não gosta de ficar sozinho, porém, quer ser o ‘terror' da solitária.
Observador, quer sempre conversar, mas tem medo do efeito das suas palavras.
Tem medo de falar sobre sua pena e seus atos passados ( e, ama sexualizar as coisas, com palavras ou expressões)
Tem seu lado frio e rígido, mas por outro lado, sente falta de carinho e tem necessidade de ver quem gosta bem (seus pais são exemplos disso). Se fosse tão impenetrável não teria me dado um abraço.”
Meu conceito mudou bastante, apesar de não ter formulado uma ideia correta sobre Justin. Depois do seu ato de carinho comigo, que sou praticamente uma estranha para ele, fiquei mais curiosa que o normal.
Por que ele está na solitária sendo uma pessoa boa? Certo que ele matou, mas por quê ele matou? Por não gostar do padrasto? Não. Ele não faria isso do nada.
Formulei algumas hipóteses.
Primeira hipótese : ele pode ter apanhado de Nicholas, sofrido preconceito ou ter sido chantageado, manipulado. Segunda hipótese : Ele não o matou.
Corri os olhos pela sua ficha mais uma vez, parando em sua vida acadêmica. Segundo ano de música na Ryerson University. Observei bem e busquei no Google o telefone do local.
Em vinte minutos, eu estava marcando uma reunião entre mim e dois professores que dão aula na RU, peguei o endereço, pois no dia seguinte eu estaria lá.
(...)
Caminhei pelo campus, acompanhada de um segurança, indo até a direção da Universidade. Entrei em um corredor extenso, com alunos conversando nas escadarias, grupos de Teatro dançando com guarda chuvas e umas meninas bajulando vários jogadores de Futebol americano e Rugby.
Saudades dessa época.
Eu e Madeline, as duas veteranas mais aplicadas da Universidade de Ontário éramos as duas garotas que eu estou vendo. Bonitas, cheias de sonhos e expectativas. Era tão bom…
Entrei na sala dos professores, vendo a diretora Franklin - a identifiquei pelo seu enorme crachá -, e mais dois professores.
- Você deve ser a Sarah - a senhora Franklin me abriu um sorriso amigável e eu sorri de volta - Sou Lauren Franklin.
- Prazer, Senhora - apertei sua mão.
- Esses são John Cornell e Robert Lays, ex professores do senhor Bieber.
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Do que somos feitos
FanfictionDada a minha sentença, mantive-me por cinco anos sem iluminação alguma, a não ser a mísera fresta que ousa cruzar a fechadura da solitária. Alguns diriam que a iluminação ali é um sinal de esperança. Eu não acreditava nisso até o verdadeiro "pedaço...