Sarah Montserrat
Eu não tinha mais meu segundo emprego. Aquele que eu estudei madrugadas e madrugadas para conseguir. Faziam dez dias desde o ocorrido, e ao invés de me afogar no sentimento de perda de dignidade, eu considerei um aprendizado. Me julguem, eu sempre soube que não podia foder com um paciente, mas aconteceu.
Soube por Jeremy que Justin quase perdeu o direito do julgamento por ter mentido que ia ao hospital, foi por muito pouco, o Juiz Connor nos ajudou nessa, contei a ele sobre a nossa filha e que o erro foi todo meu, até inventei uma história de que eu havia o seduzido, que caiu como uma piada, eu nunca havia visto Connor rir. Rir não, padecer de rir, engasgar com a própria voz que extravasou da garganta. Connor me disse “Você não precisa mentir, isso não interfere no julgamento e sim no tratamento que vão dar a ele lá dentro até que saia da prisão”. Fiquei preocupada e rezei para que nada de mal tivesse acontecido com Justin. Mas vocês acham que Trevor Nikkei não ia fazer nada? Acham que ele ia deixar tudo como estava? Errado. Trevor contou para Jeffrey Harlem que Justin mentiu para ir no julgamento da Sun, o que era de se esperar, mas ele aumentou a história. Falou que depois do julgamento Justin participou de um processo de tráfico pelos subúrbios de Stratford e que tinha provas.
Quais eram as provas? As palavras dele. Trevor é o rei do parlamento geral da cidade, ele é inteligente e astuto, mesmo estando ainda na faculdade de direito, seu emprego de fiscal judiciário e analista rende a ele a imagem de profissional perfeito. Justin apanhou feio na prisão e eu tenho certeza que foram Yale e Harlem. Eu enlouqueci, fui atrás do juiz e tudo quanto há para fazer justiça, mas todos os presidiários disseram que foi uma briga entre detentos. Eu teria acreditado, mas Justin não quis me ver. Eu não o vejo há dez dias e estou preocupada.
O julgamento será em três horas e como eu não sou mais representante eu vou assistir, mas não vou levar a Sunshine. Pensando nela…
- Oi, mamãe - Sun despertou ao meu lado - quando eu vou ver meu pai?
- Ainda não sei - sentei ela no meu colo, minha menina tem feito muitas perguntas ultimamente, e a maioria eu não sei como responder.
- Mas ele não é meu papai? Por que ele não vem me ver? Por que ele não me traz presentes? Ele vai ficar no lugar triste pra sempre? - ela estava quase chorando. Eu também.
- Olha, meu amor, seu pai ama você - era o que eu esperava - e se você tiver calma e paciência logo ele vai estar te levando para passear, te colocando para dormir…
Ela assentiu, meio sem vontade.
- Quer tomar café da manhã na Starbucks?
- Sim! - Sun voou para o banheiro e apanhou a escova de dentes, subindo na tampa do vaso - olha como eu aprendi - com a boca cheia de espuma, ela começou a escovar os dentes meio sem coordenação, me olhando para ter certeza que eu estava acompanhando todos seus movimentos.
- Uau! Que incrível, não é que você aprendeu? - Dei um sorriso e ela bateu palmas.
- Eu posso ir com a fantasia de unicórnio que o tio Andrik deu pra mim?
Ri alto, negando pra mim mesma.
-Esse namorado da Madeline…- fui pegar a fantasia e coloquei nela, tirando uma foto, impressionada com o quanto que ela ficou idêntica ao Justin - nossa…
- Deixa eu ver! Deixa eu ver, deixa eu “veeeeeeer”.
- Pode veeeeeeer! - dei o celular a ela, que sorriu toda satisfeita - vai calçar sua sapatilha que eu vou me trocar - observei ela correr até o quarto e fui me arrumar.
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Do que somos feitos
FanfictionDada a minha sentença, mantive-me por cinco anos sem iluminação alguma, a não ser a mísera fresta que ousa cruzar a fechadura da solitária. Alguns diriam que a iluminação ali é um sinal de esperança. Eu não acreditava nisso até o verdadeiro "pedaço...