Sarah Montserrat
- Nós vamos conversar sim, mas depois que você me contar o porquê de não ter tocado na comida e estar distante com a cabeça nas nuvens, Sarah.
Olhei para Trevor, bebericando meu café e respirei fundo. Eu apaguei ontem e saí da cama hoje, com a Madeline desesperada me fazendo milhões de perguntas. Não respondi nenhuma, não estou pronta para isso. Estou em negação.
- Eu estou desapontada com você - falei. É isso mesmo, eu vou jogar a bomba pra debaixo do pano - por quê os papéis não estavam chegando o juiz? - apontei para os mesmos e ele travou a mandíbula.
- Sarah, porra… - Trevor respirou fundo - por quê se importa tanto com ele? Você gosta dele? Já teve algo com ele?
- Não, eu não gosto dele - respondi.
- Vocês ficaram, não é? Eu sei.
Nikkei não estava brincando, ele sabia, mas todo esse assunto estava me embrulhando o estômago. Presídio me lembra Justin, o cara que eu beijei, que me fez ter um choque da realidade e que é pai da minha filha e ao menos deve se lembrar. Quando Justin viu a Sun ele não teve reação nenhuma. Eu sei bem decifrar quando uma pessoa fica surpresa ou nervosa, ele só tratou ela com carinho, então eu tenho certeza que ele não se lembra.
- Você me deixou falando sozinho de novo - Reclamou ele, me fazendo bufar baixinho..
- Quem cala consente - fui objetiva e ele entendeu o recado, negando com a cabeça.
- Um presidiário de merda, Sarah? Isso é o melhor que você consegue?
- Foi o melhor em quase cinco anos - dei de ombros, eu sei que ele entendeu meu recado, iria ficar pesado se eu dissesse um “melhor que você”.
- Qual é o seu problema? De verdade, nós estávamos dando certo! Porra, o que tem de errado com você?
- Comigo não tem exatamente nada de errado, mas e com você? Em? E esses papéis que não chegaram no juiz? Por que você não estava o ajudando?
- Por que você quer saber, caralho?! É só um presidiário de merda, Sarah, ele matou uma pessoa de uma forma horrível, ele te socou, cegou um cara, estourou o próprio carcereiro! Você acha que aquele cara merece sair de lá?!
Analisei bem o rosto de Nikkei e me ajeitei na cadeira, apoiando os cotovelos na mesa.
- O que é que você não está me contando, Nikkei? Eu lido com pessoas que mentem o tempo inteiro, que são difíceis e omitem as coisas, não me subestime… não subestime a minha inteligência - peguei os papéis assinados por Justin e enfiei na minha bolsa, enquanto ele me olhava, começando a empalidecer.
- Estou sendo verdadeiro com você, Sarah.
- Por que os papéis não chegaram em quem deveria?
Ele suspirou pesado e tomou um longo gole do suco, ficando tenso.
- Foi eu quem… quem cuidou do caso dele quando ele foi preso - confessou, mas eu não entendi porque isso seria um problema.
- E…? - fiz sinal para ele continuar a falar.
- Na época eu não fui à fundo no caso. Não valia a pena e…
E tudo começou a se juntar e a fazer sentido.
- E agora você não está ajudando porque sabe que se ele conseguir outro julgamento seu trabalho vai se comprometer - completei sua frase - Só que agora, Nikkei, o caso voltou a ser meu e eu vou ir atrás de um outro julgamento. Não vou parar enquanto não o ver fora daquele lugar.
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Do que somos feitos
FanfictionDada a minha sentença, mantive-me por cinco anos sem iluminação alguma, a não ser a mísera fresta que ousa cruzar a fechadura da solitária. Alguns diriam que a iluminação ali é um sinal de esperança. Eu não acreditava nisso até o verdadeiro "pedaço...