Campos dos Ventos (Romance Lésbico)

2

Madalena

Madalena chegou em casa se sentindo, pela primeira vez num primeiro dia de aula, cansada e, para piorar, ainda teria que ir para a padaria ajudar os pais. Assim que abriu a porta deu de cara com a pia com a louça do café da manhã. Precisava limpar aquilo antes de sair senão sua mãe brigaria com ela.

Limpou tudo e guardou, foi até a geladeira e arrumou um prato de comida para comer, já que sua mãe sempre fazia o jantar todas as noites e deixava para o almoço pronto também. Levou até o micro-ondas e deixou esquentando enquanto foi se trocar no quarto para poder ir ajudar os pais na padaria.

Enquanto se trocava a imagem daquela garota invadiu sua mente. Madalena nunca havia visto uma garota como ela. Foi difícil para ela, até mesmo se concentrar nas aulas, o que é algo inédito, pois nunca tinha passado por isso antes.

Camila era alta, talvez 1,70? Quem poderia afirmar? Porém era calada e indiferente a todos a sua volta. Madalena conseguiu olhar para ela poucas vezes, mas quando o fazia sempre a pegava do mesmo jeito: calada e olhando para fora da janela. Nem mesmo no momento do intervalo, quando todos queriam conversar ou irem juntos para o refeitório, ela se preocupou em se aproximar ou permitir que alguém o fizesse.

Lembra que ela saiu antes que qualquer um chegasse perto e, lá fora, se sentou em um banco próximo a área dos canteiros e comeu sozinha, enquanto ouvia algo com seus fones de ouvido.

Todos estavam interessados em saber sobre ela e, como sempre, os rumores não demoraram a aparecer, desde que ela era filha de um fazendeiro local, até que ela era uma delinquente fugida da cidade. "Esse povo inventa cada uma." Madalena pensou. Na hora de ir embora, a mesma coisa de antes: Camila pegou suas coisas e saiu, sem falar nada com ninguém. Já do lado de fora, um homem lhe cumprimentou e abriu o carro para ela entrar e foram embora.

Foram embora, mas não sem deixar no ar o mistério sobre quem ela é, até o porquê dela vir parar aqui em Campos dos Ventos, uma localidade minúscula no interior de São Paulo. Porém, além do mistério, deixou algo remexido em Madalena, algo que ela não sabia explicar e isso a estava matando.

Madalena foi até a cozinha, onde o micro-ondas já estava apitando, anunciando que seu almoço estava quente. Parecendo combinado, assim que ela abriu a porta do eletrodoméstico, a porta da cozinha se abriu, dando passagem para seu irmão que entrava animado.

- Mada! - João praticamente gritou se aproximando da irmã. - Queria mesmo falar com você.

- Falar o que? - Madalena perguntou indo até a mesa e se sentando para comer e sendo acompanhada por seu irmão, que sentou à sua frente.

- Então... fiquei sabendo que aquela garota nova está na sua sala. - João falou empolgado e sorrindo.

- A Camila?! Está sim, por quê? - Madalena perguntou já comendo seu almoço.

- Camila! - João repetiu o nome dela sorrindo. - Então esse é o nome dela. Legal!

Madalena o olhou com cara de quem não estava entendendo nada. Por que ele está tão interessada em saber o nome de sua companheira de sala?

- Ela é linda e tão diferente. - João falou de maneira iludida. - Mas então, como ela é? Já conversaram? - Perguntou empolgado.

- Não, ela não falou com ninguém ainda. - Madalena falou simples, mas por dentro isso a intrigava.

- Não?! - João falou estranhado. - Mas ninguém quis falar com ela? Estão excluindo a menina? - Perguntou de maneira incomodada.

- Ninguém está excluindo ninguém. Ela que não fala com a gente. - Madalena disse aclarando as coisas. - Ela fica na dela o tempo inteiro e quando havia a oportunidade para chegarmos até ela, ela se afastava.