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Camila

Minha sexta-feira foi, de certa forma, estranha. Passei a manhã inquieta, tentando prestar atenção ou me distrair com algo, mas nada era suficiente para tirar da minha cabeça o sonho que tive no dia anterior.

Nem mesmo Flávia, meu alvo para passar o tempo nessa maldita cidade, era capaz de tirar a imagem e o gosto dos lábios de Madalena dos meus, pelo menos o gosto que minha cabeça idealizou.

Quando cheguei no colégio encontrei, como sempre, os meninos e Bruna, porém me sentia inquieta, como se algo faltasse. No momento em que Flávia chegou, percebi seu olhar discreto sobre mim, mas ela não falou nada, só passou pela gente e entrou.

Na sala de aula, estava mais aérea que o normal e, diversas vezes, me peguei observando Madalena de longe. Houve até um momento que, inconscientemente, nossos olhos se cruzaram. Eu recordo que me perdi a observando e, para meu espanto, ela se virou e seus olhos castanhos se depararam com os meus, me deixando hiper sem graça.

Houve um momento antes de entrarmos, enquanto estava distraída pensando, Bruna sugeriu algo sobre um time de vôlei, alguma coisa que acabei topando participar meio que no automático. Agora estou comprometida em participar de uma seletiva para formar um time do colégio e assim participarmos de um torneio e nem me recordo em que momento aceitei.

Estou entediada com essa situação toda, só sei que, como não tenho nada para fazer durante a tarde, vou tentar me manter séria, até onde eu aguentar, é claro.

Deparar-me com os olhos de Madalena me deixa atordoada, é como se eu me perdesse neles e, agora, estou com medo de me aproximar dela, pois, sinto que se me aproximar demais, perecerei.

Estamos no sábado e acabei de acordar, porém não sinto vontade de me levantar da cama. A claridade que entra pelas grandes janelas de vidro, poderiam me incomodar, mas, estou tão aturdida, que nem lembro delas. Meus olhos fixos no teto, minhas mãos sob minha cabeça e minha cabeça no mundo da Lua.

- Devo estar ficando louca. - Sussurrei para mim mesma.

Levantei me arrastando e fui para o banheiro, fazer minha rotina matinal diária. Coloquei uma roupa velha e leve, prendi meus cabelos em um coque e desci para tomar café da manhã.

Olhei as horas e eram 9:30, sorri incrédula, em tempos "normais" estaria no quinto sono nesse horário, ainda mais em um sábado, depois de passar a noite com meus "amigos" loucos pelas ruas de São Paulo, seja arrumando confusão, em festas e baladas, ou bebendo pelos barzinhos.

Perdi as contas de quantas vezes me deixaram em casa, trocando as pernas e sendo amparada por Fran – Francisca – uma das empregadas da família e, acho eu, a única que se preocupava comigo naquela casa.

Cheguei na cozinha e me deparei com Carlos retirando um bolo do forno. Pelo aroma era bolo de fubá, um dos meus preferidos, diga-se de passagem.

- Bom dia Carlos. - Falei me aproximando da geladeira e tirando água para beber.

- Bom dia Camila. - Ele respondeu surpreso comigo acordada àquela hora em pleno sábado. - Dormiu bem?

- Dentro do possível. - Respondi bebendo da minha água. Incrivelmente acordei morrendo de sede. Acho que nem quando acordava de ressaca sentia tanta sede assim.

- Ainda bem que hoje é sábado, vai poder descansar um pouco. - Ele falou cortando o bolo e colocando as fatias em um recipiente para levar a mesa.

- Do que adianta hoje ser sábado? - Disse desanimada. - Essa droga de lugar não tem absolutamente nada para fazer. - Suspirei cansada.

- Em cidades pequenas as pessoas criam o que fazer Camila. - Carlos falou sorrindo. - Veja com seus amigos o que podem fazer juntos.

Campos dos Ventos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora