40 - Final

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Madalena

Foi um período que, para mim, pareceu longo demais. O teste que realizei, comprovou que eu era compatível com João, portanto, poderia doar a medula que ele necessitava para seu tratamento.

Tive que passar por uma infinidade de exames, assinar vários papéis de autorização, enquanto isso, meu irmão passava por todo o processo de preparo para receber o material. Quando estava pronto, foi realizada a "retirada" da medula e, alguns dias depois, o transplante nele.

Os dias que se seguiam após esse procedimento eram cruciais para ele, pois dependeria do seu organismo para a medula "pegar", como dizem nos jargões médicos. Acompanhei tudo atentamente, pois torcia para, no fim, tudo se resolver e João poder tocar sua vida com sua família.

Não tive mais contato direto com meus pais, após conhecer Haidê, tratamos tudo com ela, para que pudéssemos nos manter coordenadas e também inteiradas dos avanços no tratamento dele.

Quando a notícia de que tudo havia dado certo chegou, foi um dia de alívio para mim. Acho que nunca chorei tanto em minha vida, sentindo como se um peso houvesse saído das minhas costas. Engraçado sentir isso, afinal, eu não tinha dívida nenhuma com eles, mas sim o contrário, porém é de minha natureza, eu não me sentiria bem se as coisas tivessem dado errado.

- Vai procurar sua família depois de tudo terminado? - Camila perguntou.

Estávamos deitadas no quarto, assistindo a um filme qualquer na TV, aproveitando as últimas horas no Brasil, já que tínhamos decidido voltar para nossa casa em, no máximo, três dias.

- Não sei... acho que, por enquanto, ainda estou magoada. - Respondi, acariciando sua cabeça que estava apoiada em meu peito.

- Você foi demais sabia? - Camila falou erguendo a cabeça para me olhar. - Eu não sei se teria essa "compaixão" toda que você teve se fosse comigo.

Sorri para sua colocação e lhe dei um beijo delicado nos lábios. A história de Camila era bem interessante. Uma vez, conversando sobre nossas vidas, a questionei do motivo dela ter ido parar em Campos dos Ventos com sua tia. Ela me contou que havia "roubado" o carro de sua irmã e saído por São Paulo nele, sendo que era menor de idade e não tinha licença para tal. Foi parada em uma blitz e acabou tendo um embate forte com seu pai, que, não aguentando, a mandou passar uma temporada com Paula.

Camila é uma garota doce e muito apaixonante, porém ela, infelizmente, nunca conheceu o amor verdadeiro de sua família, que sempre a tratou como um peso em suas vidas. Para se vingar e chamar a atenção deles, ela fazia diversas "peraltices".

Ela me contou também sobre Catarina – lembram dela? A garota da cidade de minha avó, que me deu o seu recadinho – a perguntei sobre a menina e ela me contou que Catarina é filha de uma das empregadas da casa de seu pai. Uma das poucas que ela respeitava e, portanto, sempre conviveu em bons termos. Quando ela descobriu onde eu estava e soube que Catarina estudava lá, não pensou duas vezes antes de pedir para ela me transmitir sua mensagem.

- Tenho certeza que você teria a mesma compaixão, você não sabe agora porque, felizmente, não tem essa necessidade. - Respondi sorrindo e acariciando seu rosto.

Camila voltou a se aninhar em meu peito, passando o braço por minha cintura e jogando a perna sobre as minhas. Era algo encantador nela, podia ser algo simples, mas ela sempre gostava de ficar assim comigo, agarradinha. E eu, logicamente, adoro, né!

Passamos esses dias aproveitando com Paula, Bruna e Carlos, que finalmente apresentou seu boy de Campos dos Ventos. Filho de um fazendeiro influente na região, por isso eles evitavam chamar a atenção e darem pinta, até mesmo para nós, suas amigas. Frederico, apesar de mais novo, é muito maduro e carinhoso com nosso amigo, deixando ele todo babão quando estão juntos.

Campos dos Ventos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora