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Madalena

Acordei no sábado sem rumo, estava me sentindo cansada e sem muitas forças para enfrentar o dia de trabalho na padaria com meu pai.

Ontem, sexta-feira, fiquei escorregando feito peixe fugindo da rede tentando escapar das perguntas de Bruna. Pela primeira vez, desde que nos tornamos amigas, agradeci aos céus por minha mãe colocá-la para correr da padaria porque ela estava "me atrapalhando". Pelo menos pude me ver livre, por enquanto, de seu questionário interminável. Ela está certa que eu tenho a cabeça em alguém, imagina se ela descobre que é na Camila? Estarei perdida, preciso pensar em algo para ela não descobrir, ou melhor, para ela parar de me perturbar.

Levantei da cama e senti o friozinho que fazia naquela manhã de sábado. Adoro ficar em casa no frio, não há coisa mais gostosa que ficar deitada o dia inteiro vendo TV, mas, infelizmente, tenho obrigações com o negócio da minha família.

Arrumei-me com uma roupa quentinha, como sempre faço em dias como esses e fui tomar café da manhã com meus pais, já que meu irmão ainda deveria dormir.

- Bom dia mãe. - Falei ainda bocejando e me sentando ao seu lado à mesa para fazer meu desejum.

- Bom dia, filha. Dormiu bem? - Minha mãe me perguntou colocando café com leite para mim.

- Uhum... - Foi o único que consegui falar, não queria que ela soubesse que tenho dormido mal esses dias.

Tomamos nosso café da manhã – meu pai já havia ido para o trabalho – conversando sobre a programação da Semana Santa na Igreja. Segundo ela, Padre Francisco esperava contar comigo para ajudar a organizar algumas coisas. Concordei em ajudá-lo, afinal do que adiantaria eu negar? Minha mãe é o tipo de mulher beata, que faz questão da família toda envolvida com a vida da Igreja local, então, negar meu apoio só me ajudaria a ter dor de cabeça.

Terminei meu café, dei um beijo de despedida em minha mãe e fui para o "trabalho". Hoje passaria o dia inteiro na padaria para poder dar uma folga para minha mãe. Quando cheguei já fui bombardeada pelo delicioso aroma do pão recém-feito. Sempre vou gostar desse cheirinho, é como estar em casa quando o sinto. Estranho, né?

Preparei tudo e abri as portas, exatamente às 07:00, para poder dar início ao dia em Campos dos Ventos. O tempo estava fechado e caía uma chuvinha, além do, já característico, vento frio que arrepiava.

Ajudei Antônio e meu pai a colocar os pães no recipiente, limpei e organizei os mostruários. Logo alguns clientes, a maioria pessoas que trabalhavam nos sítios e fazendas nas redondezas, começaram a chegar pedindo para preparar seu café da manhã, além dos já costumeiros compradores de alguns produtos.

Felizmente, a movimentação na padaria, me fez esquecer um pouco meu "problema" de cabelos e olhos negros. Porém, virava e mexia, lá estava eu distraída suspirando e pensando nela. Isso ainda vai me dar problemas.

Por volta das 09:00, João chegou, com a cara amassada e mais lavada do mundo, para ajudar nosso pai. Às vezes me sinto um pouco revoltada com toda a mordomia que ele tem, enquanto eu sou cobrada a todo momento. Mas o que poderia fazer?

Parando agora para pensar, acho que essa é a pergunta que mais faço em minha curta e monótona vida: "O que posso fazer?". Queria tanto ter a resposta para essa pergunta, muitas vezes sinto que se eu respondê-la, terei as respostas para todos os questionamentos da minha vida, os de agora e os do futuro.

As horas, para variar, não passavam. Já havia passado do horário do almoço e eu tinha comido um delicioso frango com quiabo – eu amo esse prato – que minha mãe havia preparado e nos enviado para comermos e agora estava sentada olhando a chuva que caía lá fora. Tão fina e quase imperceptível, dando um ar bucólico para nosso distrito.

Campos dos Ventos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora