Madalena
Camila acabou de dizer que gosta de mim. Olhando em meus olhos, ela, olhando dentro dos meus olhos, disse que gosta de mim como nunca gostou de ninguém em toda sua vida. Sua merda de vida como ela disse.
Meu coração está a ponto de explodir dentro do meu peito. Abro a boca tentando dizer algo, mas minha voz não sai. Sinto como se não soubesse mais falar, é como se todos os meus sentidos estivessem em off.
Camila está me olhando expectante, vejo em seu semblante que ela quer que eu diga algo, mas o que eu posso dizer? "Droga Madalena! Só diz o que você sente... só diz a verdade!"
- Eu... - Fiz uma pausa, pensando no que poderia falar, mas estou em branco, ela parece estar tão aflita.
Camila, diante do meu silêncio, suspira pesado e abaixa a cabeça, fazendo meu coração doer, pois a deixei triste.
- Desculpa... - Sussurrou sem forças. - Eu... eu não devia falar nada disso... não nesse momento. - Vejo como leva a mão aos olhos, secando umas poucas lágrimas. - Só queria que soubesse que nunca brinquei com você. - Olhou para mim e sorriu. Um sorriso triste e sem cor, diferente de todos os que eu a vi dar até hoje. - Não vou mais te incomodar.
Camila saiu da minha frente e pegou seu capacete, que ainda se encontrava no chão, no mesmo lugar onde ela tinha colocado antes de se levantar após seu tombo. "Ela vai embora?! Depois de dizer que gosta de mim, ela vai embora? Mas eu também não disse nada." pensei desesperada.
Camila se virou de novo para mim e, novamente, exibiu aquele sorriso triste, o que me partiu o coração. Afastei-me da moto e ela a montou, se aprontando para ir embora para casa. "Se eu não fizer nada, ela vai embora e eu nunca mais vou conseguir falar."
- A gente se...
Camila ia falar antes de dar a partida, mas eu, num movimento atípico de mim, me aproximei dela rapidamente e colei meus lábios nos seus. Sabia que estava me arriscando fazendo isso na rua, mas era o único jeito de demostrar o que eu sentia, já que minhas palavras falhavam e, se eu não o fizesse, nunca mais poderia fazer.
Foi uma coisa efêmera, mas que significou muito para mim. Era como se o ar que precisava para viver tivesse voltado a entrar em meus pulmões. Era como se a vida tivesse renascido e tudo se resumisse ao que sinto por ela e o que esse beijo, tão simples, mostrava.
Afastei-me de Camila ainda de olhos fechados, sentindo meu rosto queimar e uma timidez enorme brotar dentro de mim. Era o meu primeiro beijo. Eu sei que parece estranho, afinal tenho 17 anos e, mesmo morando no interior, já deveria ter beijado alguém, mas eu sonhava tanto com algo mágico e sempre fui tão regrada pela minha família que nunca me permiti beijar por beijar.
Abri os olhos lentamente e vi que Camila me olhava com os olhos muito abertos, sem reação, o que me deixou mais sem graça ainda. "Será que fiz certo?" pensei com medo e vergonha, o que me fez desviar os olhos dela e passar as mãos pelos cabelos. Mas logo a vi sorrir, um sorriso tão grande e tão alegre que fez minhas pernas estremecerem.
- Descul... - Ia falar, mas ela me impediu levando o dendo indicador aos meus lábios.
- Esse beijo significa que você gosta de mim também, não é? - Perguntou sorrindo muito.
Confesso que sua pergunta me fez ficar com mais vergonha ainda. A verdade é que era isso, com esse beijo e a reação que ele causou no meu corpo, eu estou certa que gosto dela, mas, e agora?
Camila levantou da moto e começou a fazer uma dança esquisita e rir feito uma louca, o que me fez a olhar estranhada. Parecia que ela havia ficado louca e, por impulso, acabei rindo da situação ridícula em que estava enfiada. "Ainda bem que hoje peguei outro caminho para casa, imagina se meus vizinhos veem isso?!" pensei já gargalhando.
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Campos dos Ventos (Romance Lésbico)
RomanceCamila e Madalena. Adolescentes, estudantes, com visão de mundo e experiências diferentes. Uma conexão inexplicável. Por trás de aparências, existe muito mais do que se pode imaginar e ambas aprenderão isso. Uma de uma forma mais suave e a outra de...