26

5.6K 391 135
                                    

Madalena

A semana passou rapidamente, hoje já estamos na quinta-feira. Domingo agora o pessoal vai até o pesque e pague da saída de Campos dos Ventos, mas eu ainda não conversei com minha mãe sobre ir.

Confesso que quero muito me divertir com todos, principalmente com Camila. Ela já me disse que se eu não for ela não vai. Acho fofo o jeito dela, de querer dividir os momentos comigo, mas não acho justo ela desistir de algo que ela nunca fez por minha causa.

Hoje ela ficou para o treino no colégio. Bruna está muito empolgada com o torneio e tem levado muito a sério os treinamentos e o papel de capitã do time, tanto que cobra a presença de todas e se esforça ao máximo para que o time esteja entrosado. Devo admitir que, às vezes, me sinto um pouco mal com Camila participando, afinal, lá estão Flávia – com quem ela já admitiu ter tido algo – e um monte de meninas que ficam comentando e elogiando o físico e a beleza dela, mas não posso pedir para ela deixar de ir, afinal, ela está se divertindo lá.

Estou aqui, mais um dia, nessa padaria, ajudando meus pais nos trabalhos. Não posso reclamar daqui, pois é de onde tiramos nosso sustento, mas de vez em quando, me sinto um pouco saturada de ficar aqui nesse lugar. "Às vezes sinto que vou ficar aqui para sempre" pensei apoiada no balcão, olhando para o nada.

É difícil ter uma projeção do meu futuro quando estou tão enraizada em um lugar. Nunca saí de Campos dos Ventos, pelo menos não para lugares distantes ou diferentes – tenho minha tia e minha avó por parte de mãe que moram em uma cidadezinha pequena próxima daqui.

Vejo a desenvoltura de Camila para as coisas e me sinto um pouco estranha em pensar que ela conheceu lugares que eu só vi por fotos e isso me deprime um pouco, chego até a me perguntar o que ela viu em mim? Ou, será que serei suficiente para ela? Coisas que me deixam com medo de, no dia que ela tiver que ir, faça com que ela me esqueça.

- Como isso é complicado! - Falo suspirando e abaixando a cabeça, a apoiando nos meus braços que se encontram sobre o balcão.

Sei o que espero para meu futuro, mas teria forças para conquistar? Meus pais são tão restritos, me pergunto em que século eles acham que vivem. Será que o ar bucólico e o cheiro de passado que esse lugar desprende os fizeram achar que ainda vivemos no século XIX?

"Estou viajando e divagando demais!" pensei com a cabeça ainda apoiada. Só quero poder, um dia, conversar com eles sobre meus sonhos para o futuro. Algo que não envolva a Igreja e a Padaria. Algo meu, que eu almeje para meu futuro. O problema é eles aceitarem ouvir.

Estava com a cabeça abaixada, escondendo meu rosto entre os braços, quando sinto um toque no braço e, quando levanto o rosto, me deparo com o sorriso mais lindo e encantador do mundo.

- Camila?! - Falo sorrindo e a vendo estendendo uma flor, que, com certeza, ela recolheu no canteiro da casa em frente a padaria para me dar.

- Oi! - Sorriu mais largo para mim.

- Chegou tem muito tempo?- Perguntei recebendo a flor de suas mãos. - Obrigada! É linda!

- Achei que fosse gostar. - Disse passando as mãos pelos cabelos, um sinal de que estava um pouco sem jeito.

- Adorei! Obrigada!

- Respondendo sua pergunta, acabei de chegar, aí te vi aqui, com a cabeça baixa. Está cansada? - Perguntou mostrando preocupação comigo.

- Estou bem, só estava... pensando um pouco. - Sorri para desprender importância.

- Ah... - Olhou em volta, como se procurando alguém, o que me fez olhar também e, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, estampou um selinho em meus lábios, me pegando de surpresa e me fazendo ruborizar, além de arregalar os olhos pela situação.

Campos dos Ventos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora