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Camila

Eu não sei o que deu em mim. Ao sentir o toque das mãos de Madalena nas minhas, ao ver aqueles olhos castanhos fixados aos meus olhos, senti como se meu mundo tivesse dado uma guinada, uma reviravolta louca, nunca me senti assim antes em toda minha curta vida.

Quando a tive a minha frente, senti uma vontade incontrolável de abraçá-la, de tocá-la e mantê-la próxima a mim. Era como se ela fosse o objeto mais delicado do universo e eu precisasse protegê-la a todo e qualquer custo. Estão me entendendo? Porque eu não estou entendendo mais nada.

Minha sorte, ou não – quem vai saber? - foi que a mãe dela chegou bem no momento em que estávamos de mãos dadas nos encarando daquela forma tão profunda e hipnotizante. O fato é que fiquei tão aturdida quando minha ficha caiu diante daquela situação, que fui embora sem nem mesmo olhar para trás, montando em minha moto e seguindo para casa sem nem mesmo lembrar de colocar o capacete. "Se minha tia descobrir, ela me mata".

Entrei pela porta principal jogando os pães que havia comprado no sofá e correndo escada a cima em direção ao meu quarto. Não queria ver ninguém, não sabia ao certo como agiria se encontrasse Paula ou Carlos pelo caminho, então, para evitar situações complicadas, me tranquei em minha habitação, trancando a porta e me jogando sobre a cama.

- O que está acontecendo comigo? - Perguntei-me fitando o teto e respirando fundo. Só precisava me acalmar.

Não sei quanto tempo fiquei ali, deitada olhando para o teto e pensando na situação estranha na qual estava me metendo. Minha cabeça estava pesada e não conseguia concatenar meus pensamentos. Era como se quanto mais eu pensasse menos eu me aproximasse de entender tudo isso.

Estava deitada em minha cama, quando ouvi alguém bater à porta, me puxando de meus pensamentos confusos. Levantei-me praticamente me arrastando e fui abrir, dando de cara com Paula, que sorriu para mim e trazia em sua mão o pacote com os pães que havia comprado e uma garrafa de suco.

- Tudo bem?!

Ela me perguntou sorridente e eu dei espaço para ela entrar no meu bagunçado quarto, o que ela prontamente o fez, olhando em volta toda a zona em que ele se encontrava e me encarando com uma sobrancelha erguida. Não era comum ela vir até aqui, por isso o espanto ao ver o furdunço que estava tudo.

- Mas que bagunça é essa, Camila?! - Perguntou em um misto de surpresa e repreensão.

- Vou arrumar tudo ainda esse final de semana. - Respondi sabendo que ela detestava desarrumação e abaixei a cabeça. - Desculpe.

Paula suspirou e foi até a cama, afastou algumas coisas que estavam sobre ela e se sentou. Fiquei a observando e então ela bateu no colchão para que eu me sentasse ao seu lado, o que eu prontamente fiz.

- Achei esse pacote jogado sobre meu lindo sofá e logo supus que era seu. - Falou erguendo o pacote em sua mão. - Estou certa?

Suspirei pesado ao olhar aquele pacote de pães, lembrando o que havia acontecido na padaria entre eu e Madalena. "Seria bom contar isso para Paula? Ela é mais velha, saberia me aconselhar e me dizer o que está acontecendo ao certo. Não! Acho melhor não falar nada, deixar isso para lá. Isso Camila! Deixa isso para lá que vai passar" pensei.

- É meu sim, comprei quando estava voltando para casa, mas estava tão cansada que o joguei lá embaixo e subi para me deitar. - Falei tentando passar confiança para minha tia, que me olhava de uma forma terna e compreensiva.

- É só isso mesmo? - Paula perguntou.

- É sim. - Respondi forçando um sorriso para ver se dispersava a conversa, porém ela ficou me olhando de uma maneira que não soube precisar naquele momento, parecia que enxergava que eu estava escondendo algo dela, entretanto, para meu alívio, ela sorriu e me deu um selinho.

Campos dos Ventos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora