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"Há quem diga que a distância atrapalha e que por causa dela o amor não existe, mas é por causa da distância que os beijos começam a ser sonhados e os abraços tão desejados. Os encontros tornam-se desejos. O coração passa a ser um só. A solidão pode até bater em sua porta, uma ou duas vezes, mas a certeza de ter um ao outro, acaba com qualquer solidão. Os planos começam a ser feitos, com a certeza de que serão cumpridos. E pensar que estão cada um em um canto do mundo, é como se estivessem juntos, o tempo inteiro. As palavras valem muito, valem tudo, são ditas, com a certeza da resposta. A felicidade é grande, mas não é medida por dias nem anos, mas por instantes. Podem haver milhões e milhões de quilômetros, mas o amor consegue ser um bilhão de vezes maior. A distância é algo que só quem consegue superar, entende. O valor de uma foto, ou de uma carta, só quem vive sabe o valor de um verdadeiro amor."

Autor Desconhecido.


Madalena

Não sei quanto tempo passou. Dias? Horas? Anos? Não sei, só sei que sinto como se esse tempo não tivesse fim.

Minha família não entende o que sou e meu amor. Dizem que sou doente, uma abominação, que estou sendo levada a pensar assim por ter sido influenciada, chegaram ao cúmulo até mesmo de culpar a TV. Quem culpa a TV por seu filho ser homossexual?! No mínimo essa pessoa é quem tem algum problema por não entender algo tão sublime e mágico como o amor.

Fui trazida para casa de minha avó Conceição e minha tia Amélia. Duas pessoas bem mais velhas e com uma visão de mundo tão retrógrada que chega a doer. Minha avó é dura com as palavras e minha tia amargurada. Amo minha religião e acredito muito em Deus e seu poder sobre nós, tanto que, mesmo sendo arremessada aos leões, rezo todos os dias para que ele me dê forças, agradeço pelo amor que ele me fez encontrar e por Camila.

Como falei, sinto como se o mundo tivesse me jogado na lama, ou melhor, minha família me jogou. Estou morando com minha avó e me sinto cada dia mais vazia devido aos seus ataques e tratamento frio.

Minha mãe contou a elas o que estava se passando comigo e, desde que cheguei, elas lidam comigo de maneira arbitrária e mordaz. Tenho que me empenhar em ajudar nos afazeres de casa, pois uma mulher precisa saber fazer tudo para seu "marido". Não posso sair quando quero, sendo levada e trazida do colégio – isso porque falei que as denunciaria se me impedissem de estudar, pois, por minha tia, eu nem isso faria – e, para fechar, preciso ir todos os dias a igreja, acompanhando minha tia e participar das programações.

O padre local, um homem bom em muitas coisas, mas, acho que devido à idade, me recriminou no momento em que soube o motivo de ter vindo morar com elas. Ele é estranho, não gosto de ficar sozinha em um mesmo ambiente que ele, pois sinto suas palavras de duplo sentido e seu olhar prescrutador sobre mim.

Os dias passam e estou presa em um ciclo sem fim de repetições constantes dessa rotina que me desgasta sem parar.

Sim... os dias passaram e não consegui ter contato com Camila em nenhum momento. Sinto tanta falta dela. Às vezes chego a ouvir sua voz, sentir seu toque e seu cheiro me rondando. Sonho com seu sorriso e a forma como ela segurava minha mão, me fazendo segui-la sem pensar nas consequências dos meus atos.

Saber que a amo e que ela me ama é o que me fez continuar aguentando todos os destemperos de minha família. Acreditar que ainda vou vê-la novamente é que me faz resistir, mesmo quando tudo parece pesado demais.

Mantenho o medalhão que ela me deu bem guardado, dentro de uma caixinha escondida no quarto que divido com minha tia. Sim, não tenho direito nem a minha privacidade, pois ela me vigia até quando estou dormindo. Lembro uma noite, que havia tido um sonho lindo com Camila, onde nós nos reencontrávamos depois de tanto tempo. Nesse instante, quando corria e a abraçava no sonho, acordei assustada com alguém me sacolejando e, praticamente, gritando meu nome. Acho que balbuciei o nome de meu amor durante o sono e Amélia ouviu.

Campos dos Ventos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora