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Camila

Acordei disposta a infernizar a vida de um hoje, algo que faço com maestria. Era segunda-feira após o carnaval e precisava me preparar para a semana que se aproximava. Agora, finalmente, o ano começou nesse país e junto dele o período escolar.

Tomei meu café com Carlos e saí para o colégio em minha moto. Assim que cheguei, dei de cara com os meninos do lado de fora, conversando e rindo. Quando me viram, acenaram para que me aproximasse deles.

- E aí, Camila! - Yago falou chocando sua mão com a minha.

- Estamos chateados com você. - João falou se colocando do meu lado. - Você falou que ia com a gente todos os dias na cidade, mas só foi dois.

- É... aconteceram algumas coisas e não pude ir. - Falei dando uma desculpa qualquer. A última coisa que queria era ter que falar que achei tudo um saco. - Mas me conta, como foram o sábado e o domingo? - Perguntei fingindo interesse.

- Foi muito bom. - Miguel falou animado. - Sábado estava mais cheio ainda.

"Ainda bem que não fui" pensei sorrindo para eles. - Que bom! Vejo que se divertiram.

- Sim... mas teríamos nos divertido mais se você estivesse lá. - João falou me abraçando e me fazendo rodar os olhos mentalmente.

- Uma próxima oportunidade. - Falei simples.

Nesse momento vi Bruna e Madalena chegando, quando me viu "abraçada" a João, Bruna logo fez uma expressão triste. Será que ela não percebe que não quero nada com ele? É ser muito cega, se quisesse algo com ele já teria rolado.

Ficamos ali conversando um tempo, antes do horário para a aula começar. Por algum motivo estranho, não conseguia parar de olhar, mesmo que momentaneamente, para Madalena. Havia alguma coisa nela que me puxava. Era estranho, pois nunca senti isso antes.

Quando faltava pouco para o sinal de entrada tocar, Flávia chegou acompanhada das duas garotas que sempre a acompanhavam e entrou sem olhar para ninguém, ou assim pensam, pois notei quando me observou de soslaio, o que me fez sorrir.

O resto da manhã foi como sempre. Os professores falando sobre assuntos batidos que não interessavam em nada, o recreio com os meninos, Bruna e Madalena – que ainda estava arredia comigo e, confesso, não sei por que, mas também estou com ela – e Flávia ao longe, tentando fingir que não me via.

A semana passou nessa levada, nada de diferente acontecia para mim – nem no colégio, nem em casa. Sobre Flávia, não a abordei em nenhum momento, só ficava observando de longe, como uma leoa espreitando a sua presa. Creio que ela percebia e também se incomodava com isso, mas não me enfrentava, só tentava me evitar a qualquer custo.

Já estávamos na quinta-feira e íamos para a última aula do dia: Educação Física. Havíamos nos trocado e ido para a quadra. Nosso professor, Edmundo, nos deu o trabalho de ficarmos trocando passes de vôlei um para o outro. Fiz par com um garoto super desajeitado, que não conseguia dar um passe certo para mim, o que já estava me irritando. No quinto toque errado – que foi para bem longe de mim – bufei sem paciência e fui até ele.

- Coloca suas mãos nessa posição. - Falei fazendo com as duas mãos o movimento que ele deveria fazer. Ele me olhou estranhado. - Anda, faz assim. - Disse mais decidida e ele acabou fazendo. - Ok! Agora, você precisa fazer esse movimento quando a bola tocar seus dedos. - Fiz com as mãos. Percebi como, tanto o professor quanto o resto da turma me observava. - Vou te jogar a bola devagar. Só faz o que te falei.

Fui para minha posição a sua frente e joguei a bola. Assustado, Pedro, fez o que falei e "conseguiu" jogar a bola de volta para mim, me obrigando a recebê-la com uma manchete, mas já era alguma coisa.

Campos dos Ventos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora