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Camila

Ainda tentei segurá-la, mas parece que um ser cósmico me ajudou a me controlar, pois, se tentasse, seria pior para ela. Eu a vi sendo arrastada, chorando e gritando, para o carro por sua mãe. Ela estava desesperada e, numa coragem súbita, corri atrás daquele maldito veículo.

Assim que ele saiu por aquela porteira, levantando poeira, vi seus olhos aguados pelo vidro. Meu coração? Batia agitado, despedaçado. "ELA NÃO PODE NOS AFASTAR, NÃO POSSO FICAR LONGE DELA!" gritava em meu interior.

Passei as mãos nos cabelos, desesperada, arranquei meu boné e o joguei longe. Estava com tanta raiva, tanto ódio, que saí chutando o ar. Desesperada.

- CAMILA!

Ouvi alguém me gritando, mas não sabia de onde vinha a voz. Fechei-me em minha fúria latente e continuei expurgando minha frustração, até que meu corpo não aguentou mais e caí sentada e desolada no chão empoeirado.

Uma dor dilacerante preenchia meu peito. Sentia que meu coração sangrava e minha cabeça pesava demais, não conseguindo concatenar minhas ideias.

Senti braços envolvendo meu corpo, algo que me fez reagir me retraindo um pouco, mas logo fui cedendo ao aconchego.

- Calma Camila. - A voz de Bruna alcançou meus ouvidos. - Precisamos ser fortes para ajudar Madalena.

"Como ser fortes?", pensei triste. Madalena foi arrastada pela louca da mãe dela e ninguém sabia o que aquela mulher podia fazer com ela. Neste momento, senti as lágrimas molhando meu rosto e desabei em um pranto profundo, onde, mesmo distante, podia-se ouvir meu choro desolado.

"Se não tivéssemos nos distraído!", "Se a gente tivesse prestado atenção nos sons a nossa volta!" eram somente algumas das várias perguntas que passavam na minha cabeça. Derrapamos na nossa segurança, nos nossos sentimentos e agora ela vai sofrer.

- O que eu vou fazer, Bruna? - Perguntei entre soluços. - Se ela machucar a Madalena?!

Levei as mãos aos olhos e chorei mais ainda. Não suportaria se Madalena se machucasse por culpa da ignorância de sua família. "Por que eu não prestei atenção?!"

.

.

Madalena

Minha mãe parou o carro em frente de casa e me agarrou com força, me arrancando de dentro do veículo e me puxando para dentro. Meu pranto estava inconsolável e meu medo estava latente.

- SUA MALCRIADA! EU NÃO TE CRIEI PARA ESSAS POUCAS VERGONHAS!

Minha mãe gritava, me arrastando pelos cômodos, até que chegamos em meu quarto e ela, violentamente, me lançou sobre a cama.

- EU SABIA! EU SENTIA!... - Esbravejava passando as mãos pelos cabelos e o rosto. - Mas não vou permitir, não vou deixar que filha minha seja assim... - Falou com os dentes cerrados e se aproximou de mim, agarrando em meus cabelos novamente, os puxando com força enquanto eu tentava segurar suas mãos, mas em vão. - VOCÊ ME DÁ NOJO... SUA...

Ela nem terminou de falar, me dando um tapa forte no rosto, o que me fez cair deitada, mas com ela ainda segurando meus cabelos.

- O que é isso Aparecida?! - Meu pai perguntou, entrando no quarto assustado, sendo seguido por João.

- NÃO SE METE JUAREZ! - Minha mãe gritou com ele, o fazendo olhá-la com os olhos arregalados. - Sua filha... essa garota que eu carreguei por 9 meses no meu ventre, alimentei, cuidei... essa mal agradecida, estava aos beijos com a tal amiga dela... AOS BEIJOS! - Ela falava, mas sem me soltar. Ela já havia largado meus cabelos, mas segurava meus pulsos com força, me sacudindo sem parar.

Campos dos Ventos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora