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Camila

A gente passa por diversas coisas em nossa vida, boas e ruins. Sorrimos, choramos, brigamos, sentimos raiva, rancor, ódio, felicidade, tristeza e até mesmo apatia, mas nenhum sentimento é mais forte que o amor. Esse quando chega, faz com que todos os outros se embaralhem num turbilhão de emoções desconexas e surpreendentemente acolhedoras.

Quando a gente ama, sentimos medo, coragem, pudor, vergonha e descaro, nos percebemos frágeis e fortes ao mesmo tempo e temos uma necessidade da outra pessoa que nos faz enlouquecer, mas quando ela está perto é como se você mergulhasse numa liberdade jamais sentida.

Eu experimentei muitas coisas em minha vida, sempre achei que não precisava de ninguém tão profundamente como preciso hoje. Não conheci o amor de meus familiares, mas sabia do grande amor de minha mãe por mim, que lutou até o último instante para eu vir a esse mundo. Não sabia o que era me entregar de corpo e alma para alguém, apesar de ter diversas mulheres em meu leito, mesmo tendo vivido tão pouco tempo.

Eu que via com olhos zombadores as pessoas que se diziam perdidamente apaixonadas, hoje me vejo com o coração na mão de outra pessoa, de uma garota meiga, carinhosa, sensível e que me dá tanto amor quanto eu lhe dou. Sou servil a ela, mas não me sinto presa, ao contrário, me sinto livre para sorrir e tê-la da mesma maneira.

Quando me vi longe de Madalena, senti como se meu mundo tivesse ruído e quase me deixei derrubar, mas, como poderia me deixar cair com ela precisando de mim? Com ela me aguardando? Pois eu sabia que ela me esperava, me tem em seu coração como eu a tenho. Aquele foi o primeiro momento que pensei como uma pessoa madura e focada em algo de verdade, eu precisava resgatá-la, precisava trazê-la para perto de mim, pois só assim para meu coração ter paz e voltar a sorrir.

Fiz então o que deveria ter feito antes, foquei em meu futuro, no que eu tinha e no que precisava fazer para buscá-la quando a hora chegasse.

Minha mãe, Fernanda, apesar de casada com meu pai, nunca manteve nenhum de seus bens em conjunto com ele, o que, segundo minha tia falou, era algo que ela prezava até para manter a harmonia em casa.

"Negócios e casamento não dão certos se andarem juntos. Quero ter um casamento tranquilo com Heitor, onde possamos discutir só a relação, a cor da casa e para onde viajaremos nas férias, mais nada." era o que ela falava segundo minha tia me contou.

Bem, não sei se deu certo, afinal, podemos muito bem mostrar uma coisa para os outros, mas em nossa intimidade agirmos diferente. Porém assim foi até sua morte. Por que estou falando isso? Simples! Minha mãe era uma pessoa de posses, ela era filha única de um empreiteiro, sócio majoritário de uma construtora e, quando ele veio a falecer, ela herdou tudo.

Ela tinha um bom capital em mãos. Segundo minha tia me contou, era até maior que o do meu pai, mas nunca misturaram. Apesar de jovem, minha mãe tinha problemas sérios com sua pressão arterial e isso causou muitos problemas durante suas gravidezes, por isso ela resolveu "pulverizar" sua fortuna em fundos para cada um que nascia.

Meus irmãos, cada um deles, receberam suas partes da "herança" de minha mãe e, mesmo ela tendo falecido quando eu nasci, ela adiantou isso antes de eu vir ao mundo, ou seja, eu também tenho meus próprios meios de "sobrevivência" deixados por ela para garantir meu futuro.

O fato era que, assim como ela fez com meus irmãos, para eu ter acesso à minha herança, eu precisaria ter 18 anos e estar formada no segundo grau, no mínimo. Essa foi a única exigência que ela fez em seu testamento e, por isso, é que "demorei" tanto para buscar minha amada. Além de esperar ela ter 18 anos, para ter sua autonomia, e eu também queria ter condições de nos mantermos.

Campos dos Ventos (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora