Capítulo 53

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Any saiu do consultório entre feliz e chateada, saber que esperava um menininho a deixava feliz, mas permanecer em repouso a chateava profundamente.
_E essa carinha emburrada? - entrou no carro após ajudá-la a se sentar e colocar o cinto.
_Ficar de repouso por mais um mês me irrita! Não aguento mais ficar trancada em casa, da sala para o quarto e do quarto para sala. É estressante.
_Acho que se você me prometer se comportar e não fizer esforço, podemos passear um pouquinho.
Any sorriu.
_Jura?! - os olhos brilhando em expectativa - Eu prometo me comportar Poncho, eu prometo!
_Mas vai ter que ficar na cadeira de rodas, porque as muletas te fariam esforçar demais. - rindo da atitude dela, essa era sua Any, sua mulher menina.
_Qualquer coisa que me permita ficar fora de casa. - suspirou aliviada.
Poncho a levou para almoçar em um restaurante discreto e depois ao cinema, passearam pelo parque central e se distraíram entre risos e conversas. Sentaram-se na grama em frente ao lago, aproveitando cada segundo daquele momento.
_É tão bom estar aqui. - um sorriso satisfeito no rosto - Obrigada por hoje.
_Não precisa agradecer princesa, faço qualquer coisa por você. - acariciou o rosto dela.
_Você é um marido maravilhoso. - beijou a bochecha dele e fechou os olhos deitando a cabeça sobre o peito de Poncho.

"Está parecendo um bebê manhoso Alfonso. - bufou frustrada - Um ótimo apelido para você, bebê. - completou com certa ironia."

Any se levantou com mais aquele flash de memória, um pouco assustada com a cena que se lembrou.
_O que foi princesa? - preocupado com a expressão dela.
_Por que eu fiquei tão brava com você? - o acusando como se tudo tivesse ocorrido naquele momento.
Poncho sorriu.
_Vou precisar que me explique querida, não fiz nada nesse minuto em que se deitou aqui.
_Eu fiquei brava com você, te chamei de bebê manhoso. Por que?
Poncho pensou por um tempo, tentando se lembrar de algo parecido, para logo em seguida suspirar frustrado. Parece que o momento para contar sobre sua cirurgia havia chegado.

_Com tantos momentos bons para se lembrar, você tinha que ir justo por esse?! - tentou sorrir para descontrair.
_Nossa briga foi tão ruim assim? - já se sentindo culpada pela lembrança inconveniente.
_Não, nós não brigamos querida, para falar a verdade acho que nunca tivemos uma briga de verdade. - tentando acalmá-la - O que você lembrou, é porque ficou chateada comigo, era para eu ter feito alguns exames e não queria fazer, fiquei enrolando e por isso ficou incomodada.
_Jura?! - mais aliviada - Mas que exames eram esses? Por que você não queria fazer?
_Porque eu estava com um aneurisma e tive medo. Nós começamos a namorar logo quando descobri, e pensar que aquele problema poderia acabar com tudo o que eu tinha para viver com você, foi demais para mim. Eu tentei me esconder do problema, mas você me ajudou a enfrentá-lo. - acariciou o rosto dela.
_Mas você está melhor? Fez os exames? - perguntou visivelmente preocupada.
Poncho sorriu.
_Estou ótimo princesa, já fiz até a cirurgia. - beijou a testa dela - Não precisa se preocupar.
Any olhou diretamente naqueles olhos esverdeados, viu o amor e paixão que ele sentia por ela, mas também conseguiu se lembrar do desespero das lágrimas.

"CALMA? COMO VOU FICAR CALMO? EU TENHO UM ANEURISMA CHRIS!"

"Ouviu meu amor? Está tudo bem, tudo vai ficar bem. - Any acariciou os cabelos dele."

Any o abraçou forte.
_Tudo vai ficar bem. - repetiu aquelas palavras, mas dessa vez eram para ela mesmo, na esperança de que tudo voltasse a ser como antes.

Duas semanas se passaram e mais nenhum flash de lembrança apareceu. Any que havia se animado com a idéia de poder recordar toda sua vida, agora estava frustrada e furiosa com ela mesmo. Ficar em repouso não ajudava muito, pelo contrário, só aumentava sua raiva.
Já havia discutido com a mãe, recusado a visita de Mai e qualquer outro que tentasse se aproximar da porta.
Ninguém a entendia, ninguém tinha idéia do quanto era difícil conversar com aquelas pessoas que sabiam tudo sobre ela, mas as quais ela não recordava nem mesmo o rosto.
Em mais um ataque de fúria, agarrou o vaso da escrivaninha e arremessou contra a parede dando um grito de raiva.
É mais do que óbvio que não precisou mais do que um minuto para que Poncho abrisse a porta, aflito e preocupado.
_O que ouve querida? - se aproximou - Você está bem? Está ferida?
_ESTOU! ESTOU PROFUNDAMENTE FERIDA NO MEU EGO RIDÍCULO! - Any gritou as palavras como se a culpa fosse dele.
_Calma querida, não fique assim. - se aproximou mais dela sem tocá-la - Eu estou aqui.
_MAS NÃO PARECE! VOCÊ NÃO ME TOCA, NÃO TENTA SE APROXIMAR, NEM MESMO PAREÇO SER SUA ESPOSA! - gritou mais uma vez, agora entendendo o maior motivo de sua frustração. Era a necessidade da presença dele.
_Princesa, eu amo e a respeito acima de tudo. - acariciou o rosto dela - Se me mantenho afastado não é porque não te ame, mas sim por te amar demais.
_Isso não faz sentido algum! - deixou de gritar, mas as palavras soaram cheias de raiva.
_Any, eu jamais forçaria qualquer coisa com você. Estou tentando manter tudo de forma natural para que você possa escolher o que quer.
Any apertou os olhos mal contendo a raiva. Se ele esperava que ela iria pedir ou implorar por sua presença ou seus carinhos, estava enganado.
_Eu não quero você aqui, eu não preciso de você aqui. - o encarou - Saia!
_Any, você precisa se acalmar meu anjo. - tentou segurar a mão dela, mas foi bruscamente interrompido.
_EU DISSE PARA SAIR! - gritou mais uma vez.
Poncho a olhou magoado e se levantou, mas parou quando chegou a porta.
_Eu não vou te abandonar Any, por mais difícil que seja o momento pelo qual estamos passando, eu não vou te deixar. Você pode me xingar, chutar minha bunda para fora daqui, mas não pretendo desistir do nosso amor, porque você é meu anjo, você é minha luz e pretendo estar aqui quando você me quiser de volta. - saiu do quarto fechando a porta atrás de si.
Any soltou um soluço antes de chorar cada lágrima que segurara. Ela sabia que havia magoado Poncho e sabia que ele jamais a deixaria. Ela sentia isso.
_Merda! - afundou a cabeça em seu travesseiro, assaltada por uma forte dor em sua cabeça.

"Any é um pequeno anjo em minha vida, ela é doce e forte, me consola e me levanta. Ela é muito especial pai e não quero perdê-la nunca. - os olhos rasos d'agua. "

_Poncho... - Any sussurrou secando as lágrimas - Ele me ama tanto e eu fui tão estúpida e egoísta com ele. - respirou fundo tentando se entender.
Por que tudo tinha que ser tão difícil para ela?
_PONCHOOOOOO! - gritou o mais alto que conseguiu, agora rezava para que ele não estivesse tão magoado a ponto de ignorá-la.

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