O Dono da Boca - Livro 2

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Vidigal , 29 de Novembro

Luana narrando..._ 

-O quê? - senti minha voz falhar ; de repente meu coração estava na boca de tão acelerado...acho que ele queria fugir por ali.

Ele baixou a cabeça e eu sentei ao lado dele, pq não sentia minhas pernas. 

Olhei pra uma luz que atraía meu olhar lá pra fora e um filme passou pela minha cabeça.

O dia que eu descobri que estava grávida ; o pavor da Ana e suas palavras cruéis ; a minha angústia até o momento que estava naquele corredor tão fino perto da boca e senti sua mão me puxando para um abraço tão forte que parecia arrancar de mim todas as incertezas...
Coloquei a mão nos lábios e vi , sem olhar , que ele mantinha a cabeça baixa,mas me olhava de lado.
Permaneci no meu transe, vendo exatamente, como se fosse agora, o brilho nos olhos dele quando soube o motivo do meu choro ; o sorriso, diferente de qualquer outro que ele já me deu, tão brilhante,tão completo,tão...
Meu Deus...
Aquilo tinha sido só meu,só nosso...até agora!
Eu não posso acreditar! Meu Deus...eu não posso acreditar!
Me levantei e ele reagiu ao meu movimento, levantando também
_Luana... - ele soou vagaroso, cheio de cuidados mas eu interrompi , voltando - me pra ele
_Quanto tempo?
Ele tinha os olhos cautelosos e eles me sondavam
_ Ela não sabe...acha que um mês!
_ E você sabe disso há quanto tempo?

  Ele não respondeu imediatamente e eu decidi ir na cozinha, ou na varanda; fiquei igual a um peru tonto,até pensar na garrafa de vodca que estava no freezer lá de fora. 

Assim que fechei a porta de inox com a garrafa na mão , vi que ele estava atrás de mim. Peguei um copo e enchi até a metade. Ele me acompanhou e me viu virar tudo; pegou um copo pra ele e eu sentei na cadeira de madeira,sentindo a brisa suave bater na minha cara ardente .

Quando ele sentou na mureta de mármore que separava a cozinha de fora das mesas da piscina, achei que estava pronta para perguntar novamente
_ Tem quanto tempo que VC sabe disso?
_Eu soube no dia que fui terminar...no dia da chegada do DV!
Me servi novamente e bebi tudo de novo
_Foi por isso que vcs transaram? - tirei os olhos do copo e voltei a olhar pra ele - pra comemorar a notícia?
_Claro que não! - ele pulou da bancada e sentou na mesma mesa que eu; pegou a garrafa, serviu o seu copo e colocou a garrafa no chão, aos seus pés.
Eu vivi como essa garrafa...eu estava até agora ,vivendo como aquela garrafa estúpida que ele tentava afastar de mim; aos seus pés!
Eu estava recostada na cadeira de madeira e lembrei que era a mesma ,ou muito parecida, com a cadeira que eu estava sentada com ele ,ouvindo a Flávia e a Alice radiantes com a notícia da minha gravidez...era tanta felicidade reunida que eu senti que era o começo da minha vida ali! A minha família sendo formada a partir daquele momento!
Eu, que nunca tive uma família, ia formar a minha...com um bebê tão amado,tão esperado por ele,pela mãe e pela irmã!
"Vou fazer uma surpresa pro seu pai" a Flávia disse...o Deco e um rei nessa família, tudo gira ao redor dele, e e eu ia gerar o príncipe dele!
Agora seria ela!
Por isso que ele não conseguia dizer que não sentia nada por ela...por isso que ele disse que daria tudo que ela precisasse!  

Imaginei aquele brilho nos olhos, aquele sorriso emocionado...imaginei como platéia, o momento que ela contou pra ele !
Coloquei as mãos no rosto,tentando arrancar aquela visão, mas não conseguia! Só piorava tudo! Eu via tudo sendo formado na minha mente! A notícia, a reação dele, eles dois na cama!!
Por que tudo era tão injusto? Pq comigo não deu certo?
Quando eu dei por mim, tinha jogado o copo do outro lado, direto na parede! O barulho do vidro se chocando e espatifando , fez eu voltar a mim.
_Luana! - ele levantou assustado e depois de olhar pros vidros do outro lado e pra mim, se aproximou, agachando em frente a minha cadeira. Eu recolhi minhas pernas,envolvendo-as com os braços e olhava diretamente pra ele. Do meu cérebro veio o comando para a boca falar o que eu estava gritando internamente
_Por quê, Deco? Por que ? - cai no choro e ele me abraçou forte; eu abracei ele de volta.
_Por quê a porra da minha vida é tão injusta,Deco? Por quê? - eu me engasgava nos soluços e ele me apertava mais forte.
Num determinado momento ele puxou a minha cabeça e eu não queria soltar o abraço dele,pq ele é meu! Ele é meu,mas eu não sei mais, pq quem vai realizar o sonho dele é ela; eu não sei mais pq ela agora ,além de um documento que comprova que é mulher dele teria, também, o laço mais indissolúvel que uma família pode ter: um filho! Ele insistiu e eu olhei pra ele como ele queria
_Não tem nada de por quê, não tem nada de injusto! Não vai mudar nada! Eu te amo,Luana!
Eu olhava e via tudo embaçado e ele secava meu rosto. Os olhos dele estavam meio cheios também; havia uma tristeza em seu semblante.
_Muda tudo, Deco! - continuamos nos olhando e o amor que eu sinto por ele é tão egoísta, é tão violento que comecei a perguntar pq ela não perdeu o bebê, assim como eu perdi o meu?! Pq ela não sofre um aborto tão doloroso e traumatizante, quanto o meu?!
Eu quero que ela morra!
Esse pensamento só fez eu me sentir pior e abracei ele novamente ,com uma nova onda de soluços.
_Amor, me ouve! Me ouve! - ele falou ainda abraçado , mas puxou novamente a minha cabeça; encostou a testa na minha.
_Eu sei que a sua mente deve estar viajando, pq seria isso que eu estaria fazendo agora...e a gente é igual! - Ele beijou meu rosto molhado, de um lado e de outro _ Tira tudo isso daí... Tudo o que vc está criando e está te machucando! Eu amo você, Lua! Eu quero você! Numa das visitas houve um imprevisto,a camisinha estourou e ela engravidou! Não foi nada planejado! - ele ficou em silêncio por um tempo _ Eu queria tanto te poupar...eu queria tanto te dar o céu... Mas eu vivo te jogando no inferno! - Ele me abraçou e ficamos assim por um longo tempo. Ele agarrava meu cabelo,fazendo carinho e eu me mantinha enfiada no pescoço dele; lembrando de cada detalhe ... Um mês - pensei . Eu não fiquei nem 3 semanas!
Era uma vida de merda!Um destino filho da puta esse,que me fez voltar ao Brasil para sofrer!
Por quê?
Quando voltamos a falar , eu perguntei até quando ele pretendia me esconder isso , se não fosse a nossa conversa sobre verdades de hoje.
_Eu não tinha coragem de falar...eu não sei! Eu só queria ter certeza, pra contar!
_Como assim,certeza?