O Dono da Boca - Livro 2

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  Realmente eu não sou uma pessoa do samba. Claro que aquela bateria incrível e aquela áurea glamourosa que o samba e as passistas cheias de brilho e plumas tem, mexem contigo e quando VC vê, ta dando umas reboladas e gingando o corpo! Como faço balé há tempos e sou super alongada, dançar não é meu problema; o meu lance é ter motivação para!
E eu não to afim!
Pagamos o valor do camarote e subimos; encontramos o Tony e mais uma meia dúzia de conhecidos, nos inteiramos dos papos, eu RI bastante mas em pouco tempo já estava olhando tudo ao redor, procurando por ele.
Sei que hoje tem baile e o que a Val me disse, martelava na minha cabeça
"Cada noite ele está com uma diferente"
"Ele ta com ela, no papel ou por pena, mas está"

Não tem jeito! Essa é a essência dele! Saber que o período em que ele esteve comigo foi um período único, onde ele se privou de todas essas putarias, me deixa orgulhosa, mas logo me pego entristecida, pq a cada momento esse período fica mais e mais só na memória.
Estou aqui, super na aparência, montando um teatro, quando na verdade só queria estar na minha cama... ou pelo menos num lugar que me interessasse mais!
Não sai da minha cabeça o fato de que estou aqui e ele lá, se esfregando com alguém, felizão!
Quando era algo em torno de 01:30 eu joguei a toalha! Não dava mais! falei que ia embora. Val reclamou, reclamou e eu insisti pra ela ficar; a quadra era bem próximo de casa e de mais a mais estava cheio de moto táxi na porta.

_Não sou criança, Val! Fica, VC ta super curtindo!! Eu vou no banheiro e de lá eu sigo! Vou me sentir mal se VC for por minha causa!
Ela entendeu depois de muito custo e ficou; eu virei e fui ao banheiro mais distante de onde estávamos, pq era o mais vazio!
Assim que entrei, vi um cara alto e forte, saindo rápido lá de dentro.
Ué! Voltei a cabeça pra parede do lado de fora, "mulheres" - eu não estava errada!
Bem, então ele que entrou no banheiro errado!
Fui até a pia e percebi que o banheiro era um oásis, super bonitinho, diferente do outro que era bem básico e o melhor: vazio!
Ou não!
Ouvi uns soluços de choro e eram fortes!  

Fui olhando por debaixo das portas dos reservados e lá no final tinha uma pessoa! No reservado de deficientes tinha uma menina sentada no chão e chorando.A porta estava fechada mas dava pra ver por baixo que ela estava sentada e eu ouvia bem melhor agora,seus soluços copiosos.

_Ei... posso ajudar?

_Sai! - a menina chorosa gritou lá de dentro.
_Ou!! Calma aí! Só quero ajudar!
_Mas não pode! Me deixa!
_Bem, então fica aí!
Fiz xixi na porta ao lado e escutei ela vomitando horrores ; Parecia muito mal!
Me olhei no espelho, enquanto lavava a mão!
Merda...
_Ei, abre aí! Não vou te morder, para de ser orgulhosa que pelo jeito VC não está em condições!
Silêncio.
Silêncio.
_Quer saber? Se fodeu aí sozinha, mana! Fui!
Quando estava puxando o papel toalha, já me virando pra sair, ouço a porta do reservado destrancando.
_Ei, menina! - ouço ela me chamar
Quando olho pra trás a cena me assusta muito!
Uma loira linda toda manchada de rímel, com nariz escorrendo sangue ,boca com mancha de sangue ,cabelo meio desgrenhado,pálida como uma vela!
_Você pode me ajudar? - Ela diz no meio de choro e soluço, ao ver sua imagem no espelho
Eu tranco a porta do banheiro e vou até ela -

_Meu Deus!!! O que houve? - ela escora as mãos no meu ombro e corre rápido pra vomitar mais no vaso; eu seguro o cabelo dela e ela coloca pra fora uma coisa vermelha que eu não sei bem se é sangue ou vinho. Ou os dois.
Após ela parar, coloco ela sentada no chão e pego um bolo de papel toalha, umedeço na boca e levo até a testa dela.
_Segura aqui! - levo a mão dela até a testa e a faço segurar o papel molhado lá.
Volto e busco mais papel toalha e repito a primeira ação, mas desta vez começo a limpar seu rosto bonito daquelas marcas pretas e vermelhas.
Ela está uma mistura de constrangimento e dor.
_Quer vomitar mais? - pergunto
_Não! É... Acho que não!
_O que foi isso? - lembrei do cara saindo do banheiro - foi o cara que estava aqui?
Ela olha nos meus olhos e volta a chorar com força!
_O que ele fez?? - penso logo em estupro e fico muito nervosa!
_O que esse cara te fez me fala?!
_Shhh! - ela faz sinal pra eu falar mais baixo - ele é meu namorado... ele achou que eu estava... traindo ele! - disse chorando - meu pai não pode sonhar com isso! Meu Deus!! Ele mata o Artur se souber disso! - ela falou meio pra mim, meio pra ela mesmo, olhando o papel que usei pra limpar seu rosto, todo ensanguentado.
_Chama o meu irmão, por favor?! - ela segurou minha mão e me pediu com os olhos em chamas.
_Claro! Como eu acho ele? Ele ta onde?
_Ta brincando? - ela enxugava as lágrimas com unhas perfeitamente alongada e super brilhantes.
_Como assim brincando? Pq eu não sei quem é seu irmão? - fiquei confusa.
Ela me olhava com uma cara desacreditada mas logo ficou meio confusa também!