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 A voz dele soou do meio do quarto e eu levei um susto; na verdade, várias sensações... incluído o susto!
Virei pra ele e assim como eu já imaginava, ele saiu ainda meio molhado, uma bermuda branquinha de basquete, bem baixa; cabelo espetado, também molhado. Ainda estava com o rOstinho bronzeado de Angra.
Merda... que saudade filha da puta desse filho da puta!
Ele colocava o relógio no pulso, fechando a trave da pulseira e passou a mão pelo cabelo, jogando o restinho da água fora; pegou o perfume e lembrei que eu tinha roubado um desses dele... será que ele deu falta?
Ele passou um pouco e eu percebo que o líquido que está no frasco lá em casa nunca vai ser igual a sentir exalando da pele dele... Nunca!
Fico amolecida com tudo isso e me sinto fraca demais... tô quase brincando com a ironia dele sobre ter vindo aqui...estou quase dizendo que fui uma grossa e não deveria ter sido tão rude com ele num momento tão difícil... que eu sabia que ele tinha sofrido pra cacete com o que aconteceu comigo e que eu acreditava quando ele dizia que nunca gostou de ninguém como gosta de mim... Ele esfregou o cabelo de novo e as gotinhas que escorriam pelo seu pescoço percorriam o caminho que eu queria fazer agora!
Foda-se! Eu vou fazer! Duvido, mas duvido muito que ele me recuse!
Sem chance ele me recusar!
Me aproximei, quase como um zumbi, em transe, olhando nos olhos dele e ele nos meus! Faltava assim ó, pra eu dizer que eu era a escrota e babaca na história, que ficar separado não era a solução, quando o rádio em cima da cama soou

_Deco, amor? Vai voltar?

Era a Marcela.  

  A cara dele quebrou, ele sabia que o momento tinha sido completamente fodido.
E eu? Eu queria jogar o rádio na parede, ou melhor queria pegar aquela porra e responder "não, querida! Ele não vai voltar!"
Mas pq eu faria isso? Pra que eu me rebaixaria a esse ponto? Se ela perguntou "vai voltar?" É pq ele saiu de lá, né? Por isso ele não me respondeu onde estava, mas sim onde ia estar. "Estou indo pra casa"
Escroto, babaca!
Virei de costas pra ele, pegando distância do espaço entre nós e também do que estava pronta para dizer... faltou tão pouco... Mas ainda bem que não disse!
Ele pegou o rádio, mas não respondeu; jogou o rádio na cama, novamente e eu acho que ele desligou.
Peguei a chave no bolso e caminhei de volta até ele, que me olhou com olhos de quem pede desculpas e está a ponto de me dar explicações sobre o que aconteceu ali.
Só que eu não quero... puxo a mão dele que está caída ao lado do corpo e ele acha que vou beija-lo. Coloco a chave na palma da mão dele.

_Toma aqui! Não sou as putas que VC está acostumado a comprar! - saio pela porta com fúria e desci as escadas em galope, pq quero sair logo dali.
Quando eu chego no andar de baixo ele me puxa e eu rodopio, ficando de frente pra ele.
_Para com essa marra! tu ta me estranhando? vai recusar um presente meu? O carro é seu, Luana!
_Pra ser meu eu tenho que aceitar!
_Então aceita! - ele continuava segurando meu braço e eu injetava meu queixo, puta; o cordão grosso no peito dele balançava toda vez que tentava me soltar, sem sucesso, lógico.
_Para de ser maluco, não vou aceitar um carro de você!
_Por quê? - ele era tão arrogante, a cara dele me dava ódio!
_Por que não tem cabimento, André! VC está tão acostumado a comprar todo mundo que VC acha que pode me comprar também? VC acha que parar um carro na minha porta vai me fazer voltar com VC? Eu não quero mais nada com VC, cara! Me esquece! - a voz da Marcela no rádio, chamando ele de amor martelando na minha cabeça junto com a minha veia.
Ódio era pouco, o que eu sinto não tem nome!
_E quem disse que eu quero voltar ? - A cara dele fechada, puto!  

Aquilo doeu. Porra... aquilo doeu pra caralho!

Eu fiquei parada ali, ainda processando o que ele tinha dito, sobrancelha erguida, virei estátua de sal.
Levou umas batidas do meu coração galopante para perceber que ele tinha soltado meu braço.
Assim que acordei, virei para a saída, meu cabelo chicoteando a cara dele.
Abri o portão com a cara vermelha e ele espalmou a mão fechando, antes que eu pudesse sair.
Enfiei a mão no rosto, sem olhar pra ele, estava ardendo e vermelha, eu podia sentir.
_Luana, entra aí! Bora conversar igual dois adultos! Eu tô bolado pra caralho e tô falando merda! Entra!
_André, não tem conversa!
_Claro que tem! Já passou quase duas semanas! Já deu pra tu esfriar a cabeça, vamos sentar de boa e desenrolar esse bagulho, cara!
_Eu não quero conversar mais nada com VC! Eu só vim aqui entregar isso! Se não fosse esse... esse elefante branco que VC parou na frente do restaurante da minha mãe, só pra complicar a minha vida, eu nem tinha vindo aqui! - Eu estava meio de lado, entre ele e o portão; não queria encara-lo, mas não podia agir como uma infantil que fala com a parede.
_Você acha mesmo que eu quis te complicar? Tu acha mesmo que a minha é essa? Que eu te prejudicaria em qualquer situação? - ele deu uma pausa e encostou no portão, barreira humana impedindo minha saída e me forçando a olhar pra ele! Ele sabe que isso é jogo sujo e ele usa as armas certas.

O Dono da Boca - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora