Capítulo 59 - A história do menino de olho triste

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Fabrício

Finalmente a sonhada viagem chegou. Ainda não acredito que sete meses se passaram. Eu queria conter tudo que aconteceu para a polícia, para a família do Paulo, mas, meu amigo não quis que essa história fosse pra frente. Matheus nunca conseguiu esquecer o grito que ouviu da mãe do Paulo.

O tempo voou e agora sentado ao lado do Matheus indo para Guarapari, ainda não creio que o ensino médio está acabando. Parece que foi ontem mesmo que estávamos entrando no médio, altas ideias e agora, o vestibular passou, muito estresse, dois dias intensos de provas, agora só basta esperar.

Eu ainda irei tentar um vestibular em Belo Horizonte, mas como só será depois da formatura, tento não me preocupar tanto. Meu amigo, não tentará mais nenhum. Pelejei para ele tentar comigo, mas ele deixou claro que não teria como fazer uma faculdade particular.

Contudo, sei que ele não vai precisar. Certeza que gabaritou o exame do enem e vai poder escolher a universidade que cursará.

_ Qual foi, Matheus, você tá muito quieto. Nem parece que acabou as provas, acabou os vestibulares.

Matheus suspira, e eu sei que parte desse suspiro é por conta de Otávio. Meu amigo, não superou por completo tudo o que aconteceu. Ainda mais quando tivéssemos a notícia que Otávio levou um tiro no meio de uma batida sobre drogas.

A notícia chegou abalando meu amigo, no fim, Otávio não largou o vício.

_ Anda, anima, vai!

_ Seu chato! Estou pensando aqui em uma história que aconteceu comigo há anos e que ainda não sei quem é.

_ Me conta, é sobre algum garoto?

_ Sim, Fabrício.

_ Me conta, o povo tá dormindo mesmo e quem não está, está ouvido música.

Olho para os lados e conformo o que eu disse, a maioria da turma está dormindo. O Zeca que está no banco do lado está com fone, então.

_ Tudo bem. Mas, é algo que você vai achar totalmente bobo.

Sorrio, eu só queria ficar assim, vendo o rosto de Matheus sem graça. Realmente, não sei como vou me acostumar não está com esse bobo todo dia.

_ Bom, tudo começou quando eu estava na ponte esperando a minha mãe para saber se eu ia conseguir ou não a bolsa na escola, isso faz uns 5 anos se não me engano. Eu tinha meus 12 anos e estava com muita coisa na cabeça. Na minha antiga escola eu não conversa com quase ninguém e bem, fui esperar minha mãe. Naquele dia eu estava estranho, e parei lá perto. Minha mãe não gostava que eu atravessasse ela sozinho. Nisso, esperando, passou um carro, um carro que nunca mais vi, nele eu vi um garoto, um garoto com um olhar triste, um olhar tão triste que eu quis cuidar, que eu quis proteger. Ele me olhava de volta, eu sei disso, mas, após o carro virar, eu nunca mais o vi. Parece besteira, mas não conseguir esquecer daquele olhar. Daquele garoto que eu nunca soube quem é.

Matheus termina de me contar e eu fico espantado. Não é algo que eu iria achar desinteressante. É lindo! Meu amigo ama um garoto que ele apenas trocou um olhar.

_ Podia ter me contado, quem sabe poderia te ajudar. Vai que esse garoto não é de alguma outra escola.

_ Primeiro, eu nem te conhecia e depois, ah, deixa pra lá, é só que eu sinto que ele está próximo. Só não sei onde.

_ E eu achando que você iria falar do Leandro. Porque sinceramente, eu imaginei que vocês iriam ficar juntos...

MATHEUS

Contar a história para o Fabrício, é perceber que ela realmente é real. O engraçado é que ele acha incrível, mas, logo me pergunta sobre o Leandro.

Leandro, eu também achei que íamos ficar, mas, depois do Otávio, da notícia sobre o Otávio, não sei sempre que chegava perto do Leandro ele me olhava estranho.

Com o tempo, eu percebi que ele ainda me olhava, mas, ele nunca se aproximava, muito menos do Fabrício. E eu não entendia.

_ Ah, eu também achei, mas foi melhor não ficarmos, pois, eu, ainda penso nesse menino que te contei e o Leandro tem o mesmo olhar, foi melhor...

Fabrício me olha e apenas me dá um soquinho, eu bocejo e ele se ajeita e coloca sua blusa no ombro e diz que posso encostar.

_ Acho que a Jamily pode ficar com ciúme hein.

_ Ahahahah.

Algo é fato, eu não sei como vou acostumar a não ter o Fabrício ao meu lado no ano que vem. Encosto nele e antes de fechar os olhos, vejo que Leandro está acordando e me olha, seu olhar fica estranho e eu não sei o que foi...

O Garoto do Carro (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora