2 Ariane

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Meu coração batia acelerado, tomado por ansiedade e nervosismo. Meu corpo todo tremia embalado por adrenalina. Estava mais uma vez matando aula e mais uma vez encontrando com meu namorado secreto; secreto pois meu irmão arruinou todos os meus outros relacionamentos, não que fossem grande coisa, mas pelo menos eu não ficava segurando vela para minha amigas, ou melhor, para as poucas amigas que me sobraram.
Meu irmão era o verdadeiro demônio e não me deixava fazer nada, vivia no meu pé, vigiando-me como uma prisioneira, não importa onde estivéssemos, não importa o quanto eu me escondesse dele, ele sempre aparecia e sempre estragava tudo.
Corri pelos corredores tentando fazer o mínimo de barulho possível, Ra’s havia faltado a escola, pois tinha saído com nosso avô para sei lá onde, e até então não tinha voltado; dando-me a chance perfeita para passar o dia com meu namorado. Já estava chegando atrás do prédio da escola, quando o avistei, sentando debaixo de uma arvore, dedilhando seu violão.

_Carter! – o chamei me aproximando, e me joguei em seus braços.

_oi gatinha! – falou e me beijou – quanto tempo...

_uma eternidade! – choraminguei.

_cadê o mala do teu irmão? – perguntou olhando brevemente para os lados – não quero encrenca hoje!

_bom, hoje quem vai se encrencar será ele! Saiu às escondidas com nosso avô e até agora nem sinal de vida! – falei vitoriosa – tio Cam está furioso!

_mas ele não é seu irmão? – perguntou e eu sorri sem graça, era complicado explicar que nossos pais eram irmãos e éramos filhos da mesma mãe, sem fazer nossa mãe parecer uma puta gulosa.

_é sim... Mas é complicado de explicar! – dei e ombros – hoje, eu só quero você! Vou viajar amanhã, vamos para Londres, ver nossos parentes, afinal é nosso aniversario! Só quero aproveita você...

Eu havia me sentado em seu colo, com uma perna de cada lado do seu corpo e agarrado seu pescoço com as mãos. Não era meu primeiro beijo, e com certeza o dele também não, afinal ele era 3 anos mais velho e estava na universidade. Estava tão envolvida por suas caricias, que não me importei quando suas mãos desceram por minha cintura, até minhas pernas, voltando pelo mesmo caminho, parando em meu bumbum e apertando-o. eu gostei. A sensação era ótima. Era mais excitante ainda porque conseguia sentir sua pulsação, seu coração acelerando, e o seu cheiro me deixava com água na boca, talvez eu o mordesse só um pouquinho e depois apagaria sua lembrança sobre a mordida, mal não ia fazer.
Foi quando num milésimo de segundo eu senti seu cheiro e sua presença atrás de mim, antes de sentir suas mãos fechando ao redor de meus braços como garras de aço e lançando-me longe.

_você é uma desgraça para mim... – rosnou antes mesmo de eu poder vê-lo – e você é um homem morto...

_calma ai, moleque! – Carter levantou-se, era visivelmente maior que Ra’s – você acha que pode chegar assim e interromper o nosso lance? – falou tentando intimidar meu irmão.

_eu não acho... Tenho certeza...

Ra’s chutou o nó do joelho de Carter por dentro de sua perna para fora, quebrando de imediato sua perna, o fazendo urrar de dor. Porém seu crido não durou alguns poucos segundos, pois foi calado por um murro certeiro no meio de sua boca, seguido por um na altura de sua traqueia, fazendo ele se engasgar e sufocar no próprio sangue. Ra’s o largou no chão e pegou seu violão, acertando-o nas costelas com o corpo do instrumento.
Ele estava fora de controle, iria matar Carter.
Levantei-me e corri, avançando em cima dele, jogando-nos no chão, e recebi um soco na boca do estomago, fazendo com que eu perdesse as forças. Ele levantou-me puxando por meus cabelos, e olhou dentro de meus olhos.

_você ainda tenta defendê-lo, Ariane... – sorriu maldoso acertando-me um tapa no rosto – parece uma cadela no cio, jogando-se nos braços do primeiro ser com pênis que aparece na sua frente!

Suas palavras me machucaram mais do que os tapas que ele desferia em meu rosto. Ele sempre fora rude, grosseiro e usava muitas palavras que eu desconhecia, para xingar-me, mas nunca tratou-me desse jeito. Senti as lagrimas rolando livremente por meu rosto.

_você... É um... Monstro... – murmurei quando ele me jogou contra a parede do prédio.

_estou te salvando de você mesma, garota estupida! – bradou chutando o corpo de Carter uma última vez – irá me agradecer uma dia... Quanto a você... – agachou-se para falar com o que sobrou de Carter – quero você bem longe das minhas vistas...

Levantei-me ainda tonta pelo impacto contra a parede, mas fui jogada por cima de seus ombros de qualquer jeito, enquanto ele corria para casa. Chorei silenciosamente o caminho inteiro, sentindo-me impotente e indefesa contra meu próprio irmão. Suas palavras de escarnio se repetiam em minha mente sem parar, me deixando submersa em pensamentos. Voltei a mim apenas quando ele me jogou no chão sem qualquer delicadeza.

_meu deus! – mamãe apareceu rapidamente, vindo em meu socorro – o que houve? – perguntou olhando para mim, e para o sangue na roupa de Ra’s – foram atacados? CAM! CALEB! – gritou chamando nossos pais, que apareceram em seguida.

_o que houve? – Caleb perguntou aflito.

_ele me bateu! – falei simplesmente.

_você bateu na sua irmã? – minha mãe perguntou-me incrédula.

_bati! – respondeu simplesmente – e ainda bati pouco! – rosnou ameaçando avançar, mas tio Cambriel o conteve, pondo-se em minha frente – ela fez por merecer!

_e o que sua irmã fez para merecer apanha, Ra’s Al Ghul? – tio Cambriel o indagou, e ele encarou o pai sem medo algum – venha comigo, ira me explicar direitinho!

Eles saíram, e meu pai se agachou ao meu lado, avaliando meu estado.

_não está tão ruim meu anjo... – falou tentando soar positivo – algumas horas de sono, você estará nova em folha...

_ele me disse coisas horríveis, papai! – falei sendo atingida por um acesso de choro – ele nunca tinha feito isso antes... Foi horrível...

Agarrei-me no colo de meu pai, que levou-me para o meu quarto e permaneceu ali, até quando parei de chorar, horas depois.

_tome um banho, sim?!! Eu vou buscar algo para você comer, creio que você não quer ver seu irmão agora... – comentou tranquilo.

_eu quero que ele morra! – falei com raiva – quero que ele suma da minha vida! Ele é um peso morto para mim! Não faria diferença nenhuma se ele morresse! – cuspi todas minhas palavras com ódio, mas petrifiquei ao sentir seu cheiro na porta, levando-me a olhar para lá.

Seus lábios estavam partidos e sangravam, havia um corte em seu supercilio esquerdo, e o sangue maculava seu rosto alvo, seu olho esquerdo estava fechado tamanho o inchaço ali. Ele estava tão acabado, quanto tinha acabado com Carter horas antes. Meu coração se apertou, ao vê-lo assim, mas quem fez isso? Tio Cambriel?

_infelizmente, para sua decepção, não será tão fácil me matar, garota estupida! – falou frio e seguiu para seu quarto, que era ao lado do meu, escutei sua porta bater.

_o que houve com ele, papai? – perguntei num fio de voz.

_acho que Cam e ele não se entenderam dessa vez... Não pense que você está livre, seu tio já me contou o que você fez Ariane! E eu estou muito decepcionado pelo seu comportamento! – declarou levantando-se – eu vou ver seu irmão!

Meu pai saiu do quarto, mas assim que ele fechou a porta, corri até lá para tentar escutar a conversa com meu irmão. Apurei minha audição o máximo que pude.

_está doendo muito? – meu pai perguntou – isso está feio...

_isso não é nada! – meu irmão rebateu.

_Ra’s é sério, está sangrando muito... – meu pai praguejou – sente-se ali, vou remendar você! – ordenou – Cam é muito estourado, veja o que lhe fez! Se você não fosse tão cabeça dura, estaria em coma agora! – resmungou – foram quantos socos?

_não conseguir nem contar o primeiro! – Ra’s falou, e eu me senti culpada por tê-lo feito apanhar.

_você lhe deu a outra face? Só metade do seu rosto está quebrado! – meu pai perguntou.

_não deu tempo... Quando dei por mim, mamãe já estava chaqualhando-me, desesperada como sempre...

_deite-se um pouco ai, eu sei como é ser esmagado com Cambriel Dragomir! – meu pai falou.

Esperei até ouvi-lo sair do quarto e descer as escadas, pensei em ir até o quarto vê-lo, mas com certeza ele não queria me ver. Sentei-me na cama sendo consumida pela culpa; ele exagerou, é obvio, mas fez aquilo por mim. E eu nem gostava tanto de Carter assim. Escutei passos apressados e a porta do lado sendo aberta sem qualquer delicadeza.

_meu filho, eu perdi a cabeça... – reconheci a voz de meu tio, parecia um pouco alterado – você ainda está sangrando... – tentei escutar meu irmão, mas não ouvi nada – Ra’s! Ra’s! – meu tio o chamou.

Senti meu coração bater descompassado e corri para seu quarto. Meu tio segurava o corpo semiconsciente de meu irmão, mantendo sua cabeça erguida. Ele estava pior do que aparentava, deveria ter tido algum dano severo internamente. Porem quando os olhos de Ra’s se viraram para a porta, com dificuldade, ele ergueu a mão, e usando a telecinese, bateu a porta na minha cara, deixando bem claro, que não queria me ver.
Voltei para meu quarto, me sentindo um lixo.
Nossa viagem foi adiada, tio Cam quebrou a cabeça de Ra’s, ao que parece, ele estava tendo uma discussão com nossa mãe, e quando chegamos, somando ainda mais problemas, ele se descontrolou e Ra’s meio que o forçou-o a descontar sua raiva em si, somente no dia seguinte vi o estrago no escritório, tudo fora destruído e o cheiro do sangue estava por todo lugar. O resultado foi a viagem adiada para uma semana depois.
Sequer tinha coragem de olhar para meu irmão, ainda me lembrava de suas palavras, mas quando via seu estado, sentia-me culpada por tudo.
Papai o ajudou e entrar no jato, e o deixou na poltrona, Ra’s estava sério e parecia irritado, de vez em quando olhava para nossa mãe, e parecia irritar-se ainda mais.
Após uma breve discussão, levantamos voo. Só espero chegar logo, a julgar pelo clima dentro do jato, parecia que íamos cair a qualquer momento, ou então Ra’s explodiria, ou tio Cam explodiria.

A Cabeça do Dragão  - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)Onde histórias criam vida. Descubra agora