6 Enzo

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Quando vi Ra’s pela primeira vez, soube que nos daríamos muito bem. Sempre escutei histórias dos seus feitos com tão pouca idade, e era fanático para conhecer o único primo homem que eu tinha, no meio de tantas mulheres. Devo admitir que fiquei um tanto admirado com a beleza de sua irmã, ela era uma versão menor da mãe, e um pouco mais rosada que a mãe, pois Sansara tinha uma palidez um tanto absurda.
Logo de cara o convidei para ir a boate de Arlek, a majestade das fadas, tinha nos convidado para ir, ele estava comemorando alguma coisa em seu reino e usou isso como motivo para fazer mais uma de suas mundialmente famosas festas. Quando fiz o convite, a julgar por sua personalidade, e por sua descrição, pensei que ele iria recusar educadamente e deixar-me de lado, mas qual foi minha surpresa, depois do jantar, ao vê-lo descer a escada pronto para ir a festa.

_o convite ainda está de pé? – perguntou-me, dei meu melhor sorriso.

_é claro, parceiro! – respondi animado – vamos, pegar o carro na garagem! Papai não nos deixa sair correndo, pelo menos não quando vamos para festas! Pode nos expor!

_sábia decisão! – comentou tranquilo enquanto andava ao meu lado.

Logo após chegarmos a garagem, as meninas, tio Draco e tia Lary chegaram. Obviamente, a irmã de Ra’s, Ariane, estava com elas.

_o que você está fazendo aqui? – perguntou já se exaltando – ninguém te convidou! – deixou evidente o seu desgosto e desprezo por vê-lo ai.

_eu convidei! – rebati sem me importar com sua opinião e muito menos com seu olhar fuzilando-me – Ra’s é meu novo convidado de honra! – declarei, vendo-a estreitar os olhos e bufar.

_não se preocupe! – Ra’s falou indiferente – meu pai me disse para lhe deixar aprender com seus erros, e intervir apenas se for caso de vida ou morte, de resto, está por conta própria, garota estupida! – deu de ombros – podemos ir, Enzo? – perguntou-me.

_é claro, meu parceiro! – entramos na minha Mercedes prata, minha bebê, e partimos cantando pneus, sem esperar por elas – não deixe que ela estrague sua noite!

_precisará de muito mais do que um chilique de uma garota mimada, para acabar com minha noite! – comentou dando de ombros.

_então como é na Rússia? Tipo, cara deve ter umas festas da hora e tals por lá... Sempre tive vontade de ir, dizem que são as festas mais loucas do continente...

_na verdade, eu não sei lhe dizer se isso procede ou não! – respondeu simplesmente – não ia a esse tipo de festa, prefiro não perder meu tempo com bobagens... – ele pareceu ponderar por um momento – essa é minha primeira festa, e só estou aqui, porque você me convidou!

_nossa, que responsa! Você fez questão de aceitar um convite meu!

_sim! Devemos ser agradáveis com quem gostaríamos de ter mais vezes ao nosso lado! – disse por fim antes de se calar pelo resto da viagem.

Eu só conseguia pensar que seriamos amigos para sempre. Seriamos uma dupla dinâmica, implacável. Tipo, Batman e Robin, Kill e ZatchiBell, Happy e Natsu. Definitivamente aquilo tinha animado minha noite.
Não demoramos para chegar a boate, e assim que eu estacionei, entramos, indo direto ao encontro de Arlekin e Jace, que como sempre, já estavam bêbados e quase se comendo em público, o que não era mais nenhuma novidade, desde que ambos assumiram o relacionamento.

_que bom que vieram! – Jace nos cumprimentou animado.

_vamos subir! – Arlekin puxou a todos nós para o espaço vip que sempre era reservado apenas para nossa família – bebam comigo! – ele flutuou até o bar, e pegou duas garrafas de uma bebida azul claro, que mesclava-se com roxo – é licor élfico, não deixará ninguém em coma, nem semi morto, isso eu posso garantir!

Ele nos serviu, e fizemos o primeiro brinde da noite.
Puta merda aquilo era bom.
Perdi a conta de quantas garrafas bebemos, antes de Jace gritar que Ra’s faria qualquer coisa para manter sua palavra.

_qualquer coisa? – perguntei sorrindo.

_sim! – respondeu meio enrolado – eu faço o que eu disser que faço!

_você não beijaria Arlekin! – falei – não na frente de Jace! Por dois fatores, primeiro e mais importante, Jace está bem na sua frente, segundo, Arlekin é homem, você não o beijaria!

_é claro que beijaria! – Jace rebateu – vamos Ra’s, pode beijá-lo, eu deixo! Vamos apostar 200, Enzo! – apenas concordei.

Quase não acreditei quando o vi beijando Arlekin, só pude gargalhar e pagar a Jace o valor da aposta. De agora em diante, teria a convicção na palavra de Ra’s, uma vez dada, jamais era revogada, e ele iria até o fim. Com a noite passando, e mesmo me divertindo na companhia daquelas três figuras excêntricas, tinha que arrumar uma gatinha para comer no final da noite, então levantei-me e fui a caça, passando por uma Amelie perplexa parada na porta.
Desci as escadas, até a pista de dança, onde apenas segui o ritmo dos corpos da massa, andando lentamente no meio de todas aquelas pessoas. Sentei-me no bar e fiquei como um gavião a procura da presa por alguns longos minutos, mas parecia que o mar não estava para peixe, foi então que resolvi ir para a pista de dança, no meio dela, e acabei vendo tio Draco e Ella dançando com tia Lary, Anya estava agarrada em Jacob no bar, e foi caminhando para perto deles que avistei uma mulher, sendo arrastada semiconsciente para uma das saídas de emergência. A princípio pensei ser uma mulher qualquer, que tivesse passado mal, porém ao fixar meu olhar sobre seu rosto entorpecido, a reconheci: Ariane.
Sai empurrando as pessoas sem qualquer delicadeza, para chegar até a saída. Quem quer que fosse, havia trancado por fora, mas com um chute a coloquei abaixo e já sai, pronto para atacar,
Eram dois homens, e a julgar pela estatura, pele brilhante, e o cheiro adocicado, deveriam ser fadas.

_vocês tem algo que pertence a mim! – falei ganhando a atenção deles.

_não sei do que você está falando, garoto! – rebateu o mais forte deles.

_larguem ela! – ordenei.

_desculpe, mas ela será nosso brinquedinho nessa noite...

Sem pensar duas vezes, corri, mirando agarrar o maior pelo pescoço e o quebrar sem grandes estragos: dito e feito. O sangue que jorrou por sua boca inerte sequer chegou a tocar meus pés, porém antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Ra’s estava com a cabeça do outro em suas mãos, e segurando o corpo de Ariane pelo pescoço, sem qualquer delicadeza. Ele soltou a cabeça do homem, e socou o estomago da irmã e a soltou no chão, fazendo-a botar para fora tudo o que tinha comido no jantar, junto com o que tinha bebido e provavelmente a droga que tinham usado para dopá-la.

_deste tamanho, e ainda não aprendeu que não se deve aceitar bebidas de estranhos, ou vacilar com o próprio copo... – debochou – garota estupida!

Ela continuou vomitando, até seu estomago ficar vazio. Ra’s permaneceu ali, olhando-a indiferente.

_a noite acabou para você! – ele declarou levantando-a pelo braço – pode me emprestar seu carro, Enzo, para que eu possa levar essa inconsequente para casa, enquanto ainda estou de bom humor!

_deixa, vamos todos! A noite já tava minguando mesmo... – me aproximei e a peguei da mão dele, coloquei-a como um macaquinho em minhas costas – só não vomite em mim, gatinha, essa é uma das minhas camisas favoritas...

Pegamos o carro, e deixei Ra’s dirigir, pois o mesmo parecia bem sóbrio, apesar de eu sentir mais do que apenas o cheiro adocicado do licor que bebemos, era um cheiro familiar...

_é de Amelie! – explicou – o cheiro...

Então ela era o motivo do seu bom humor. Sorri com esse pensamento, logo Amelie, que era o próprio demônio, tinha se encantando com outro demônio. Chegamos em casa, e novamente eu a peguei e a levei até seu quarto, e a coloquei na cama. Ra’s ficou observando tudo, encostado no batente da porta.

_você tem um jeito bruto de demonstra carinho! – falei ao me aproximar da porta.

_ela não aprende... – comentou ainda olhando para a irmã – por mais que eu bata, por mais que lhe amedronte ou castigue, ela não aprende! Continua ingênua...

_Você não pode controlar a vida dela! Se não deixar ela cair, jamais vai aprender a levantar!

_não quero que ela tenha que se ferrar para aprender que só pode contar consigo mesma, mas é tão estupida que não consegue aprender com os erros dos outros! Prefere acreditar na bondade de todos... As pessoas não são como ela... E se aproveitam disso! – rosnou irritado.

_você esteve observando-a, a noite inteira... – confirmei apenas o que suspeitava – desde ela chegou na boate...

_não posso confiar na ingenuidade dela... Isso a deixa fraca! – ele passou as mãos no rosto e em seguida no cabelo, bagunçando-os – mas eu farei ela ficar forte!

_ela vai te odiar! – tentei argumentar.

_sim, e vai ficar forte o suficiente para se vingar! – ele enfim encarou-me – destruirei cada pedacinho de tolice dela... A farei perceber que antes de tudo, deve contar consigo mesma... E para isso, ela jamais receberá um afago meu!

_é uma penalidade dura para ambos! – dei de ombros.

_tentei ser paciente, ponderar as coisas, deixar que minha mãe lhe ensinasse algo... Mas por fim, algumas pessoas só aprendem com a dor!

Ele virou-se e partiu rumo ao seu quarto, e parou antes de entrar no mesmo.

_obrigada pela noite, Enzo, eu me diverti como não fazia há anos! – declarou antes de sumir, deixando-me ali, com aquela nova perspectiva de amor.

A Cabeça do Dragão  - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)Onde histórias criam vida. Descubra agora