11 Amelie

1.3K 239 31
                                    

Meu corpo seguia Enzo no automático, corríamos o máximo que podíamos, usando nossa velocidade sobrenatural, mas aqueles corredores pareciam não ter fim. Ainda não tinha caído a ficha de que meu pai tinha morrido, de que Anya tinha morrido, Ella tinha morrido... Parecia que aquilo era apenas um pesadelo, que a qualquer momento eu iria acordar suada, e ver que nada era real.
E era real.
Senti uma angustia no peito, e parei abruptamente, quase nos derrubando.

_o que foi? – Enzo perguntou – Amelie?

_estou com uma sensação ruim... – murmurei – deveríamos voltar, Ra’s pode estar precisando de ajuda...

_ele nos mandou ir em frente! Precisamos levar isso – mostrou o colar – até o final do corredor, e não chegaremos lá, se ficarmos parados aqui, discutindo!

_que se foda então! – rebati, sentindo meu sangue esquentar – você não manda em mim, ele não manda em mim!

_garota deixa de marra! Não conhecemos esse lugar, podemos facilmente nos perder aqui, não custa, você deixar por um minuto sua marra de lado, para conseguirmos salvar nossa família! – ponderou comigo.

_e quem garante que isso vai salvar nossa família? – perguntei sentindo um nó se formar em minha garganta – Ra’s? e quem é Ra’s? não o conhecemos, Enzo, ele é família? Sim, ele é, mas nós não sabemos quais as reais intenções dele... – ele rosnou avançando rumo ao meu pescoço, mas se conteve, sabíamos que aquele seria meu fim, Enzo era um estripador por natureza.

_faça o que quiser! – virou-se e partiu.

Bufei irritada, e corri na mesma direção que Ra’s correu minutos atrás, seguindo seu cheiro, que já estava ficando fraco, e quando eu pensei que iria perder seu rastro, encontrei uma poça de sangue do mesmo. Havia sinais claros de batalha naquele lugar, e tinha uma trilha de sangue que parecia infinita, quem quer que tivesse saído vencedor da batalha, arrastou o outro, ferido e sangrando, até outro lugar. Preparei-me para o que estava por vir.
Segui a passos lentos aquela trilha de sangue, atenta ao menor ruído, a menor movimentação. Estava tão tensa, e ansiosa, que a primeira sombra que vi, avancei sem pensar duas vezes, atacando o invasor. Pulei para lhe quebrar o pescoço com um chave de perna, mas habilmente ele desviou-se, me fazendo cair agachada, pronta para outro ataque.

_Amelie? – perguntou confuso. Só então reparei no dono da sombra.

_Arthur! – suspirei aliviada, porém ele pareceu ficar ainda mais tenso ao me ver ali.

_o que você está fazendo aqui? Como chegou aqui? – indagou direto.

_Ra’s nos trouxe! – falei levantando-me.

_ele está aqui? – olhou ao redor e pareceu inspirar profundamente – espere, você disse, nós? – fitou-me duvidoso.

_sim! Enzo está em algum lugar para lá... – apontei para o corredor atrás dele – eu estou à procura do dono desse sangue! na verdade estou seguindo o rastro e imaginando quem terei por inimigo...

_esse sangue, pertence a Ra’s! – declarou me deixando arrepiada – você ainda não reconheceu o cheiro?

_na verdade, não! Ainda não me acostumei ao seu cheiro... – admiti sentindo-me uma idiota por não ter reconhecido logo de cara.

_isso está muito estranho! – ponderou – Ra’s sabe que ninguém, além de nós, pode entrar nesses corredores! O que os trouxe aqui?

_Ra’ disse que pode salvar nossa família! – falei suspirando – eu não sei como, mas ele nos trouxe aqui, disse para Enzo por um colar numa sala no final desse corredor, enquanto ele ia distrair o guardião... – revelei – mas lhe confesso que não imagino o que Ra’s pode fazer contra a morte, acho que estamos apenas perdendo tempo aqui...

_você disse morte? – perguntou-me – quem morreu?

_quem morreu? – eu ri de nervoso – metade da nossa família morreu, e nem sabemos quem os matou, ou como, ou porquê! – senti novamente um nó se formando em minha garganta – meu pai, Ella, Jacob Anya... Não sei quem mais...

_maldição...

Antes que ele pudesse fazer qualquer outra, ouvimos uma espécie de rosnado animal, sofrido e agonizante. Reconhecíamos aquela voz: Ra’s estava com problemas. Corremos naquela direção, totalmente despreparados para o que encontraríamos ali, Arthur entrou na frente e arrebentou a porta completamente, mas ficou paralisado, eu apenas me esquivei dele, pronta para dar o bote.
Puta que pariu os seres sobrenaturais desse universo.
Meu estomago veio para fora antes que eu pudesse controlar, mas mesmo vomitando, não conseguia tirar os olhos do que eu estava vendo. Haviam algumas pernas, dedos, mãos sem dedos, braços espalhados pelo chão, o ar estava empestado com o odor de carne esturricada, e uma voz preenchia o local

_76... 69... 62... 55... 48... 41... 34... 27... 20...13...

A quem quer que pertencesse aquela voz, a pessoa estava consciente e contando, sempre subtraindo sete do número anterior. Era de fato, angustiante ver aquela cena. E a percepção do reconhecimento de Ra’s ser o dono da voz, deixou-me sem qualquer força para tirar os olhos, do que um dia fora seu corpo.

_Arthur, meu filho... – outra voz sobrepujou a que contava – veja, estive ensinando uma lição ao seu neto... Perceba, ele estava muito rebelde!

_você enlouqueceu... – Arthur murmurou – finalmente, depois de séculos, enlouqueceu...

_ora, não tome seu pai por louco, Arthur! – a voz falou, mas sem aparecer em qualquer parte do meu campo de visão – vejo que trouxe uma das mais novas, da linhagem da família...

_Daisuke... – a voz de Ra’s preencheu o recinto, com ainda mais força do que qualquer uma, enquanto ele saia das sombras, parecendo possuído por alguma entidade, ele trazia em seus ombros, o corpo de Enzo desacordado.

_mas o que é isso? – o tal Daisuke indagou.

_isso é o seu poder, em minhas mãos... – Ra’s declarou por fim – e o seu tempo, acabou!

_NÃO! – sua voz soou como milhares de fardas, me fazendo tampar os ouvidos com todas as minhas forças. Meus joelhos cederam, não suportando meu peso, mas antes que minhas forças sumissem completamente, senti Ra’s carregando-me, me pondo na lateral de seu corpo, embaixo do seu braço.
Tudo ao nosso redor foi se desfazendo, enquanto Ra’s caminhava em direção a saída, mas a porta já não levava ao corredor, mas a sala da mansão onde todos ainda estavam paralisados, mas já havia outra porta no meio da sala, nos levando para outro lugar, e assim que passamos, tudo se desfez como poeira; demorei segundos para reconhecer o quarto de hospedes onde os Dragomir estavam alojados, mas o mesmo se desfez igualmente ao cômodo anterior; a próxima porta nos levou a floresta, onde pude vislumbrar o corpo do meu pai, porém quando passamos por ali, a cena se desfez; chegamos na boate, onde Jacob e Anya estavam parados como estatua, e seguimos para o que seria a última porta.
Saímos na mansão Valerian, no quarto de Ra’s.
Ele me soltou em cima da cama, e pôs Enzo ao meu lado.

_eu sinto você, apareça, Arlekin! – ordenou com o semblante impassível.

_você destruiu um futuro recente no tempo... Eu sinto as vibrações que os estilhaços causaram... – o rei das fadas, surgiu flutuando, entrando pela porta – Raphael acabou de deixar Ella na mansão... Voltamos a este ponto! – informou.

_Jacob e Anya serão atacados! Você deve mantê-los seguros! – declarou e Arlekin apenas afirmou com a cabeça antes de sumir do mesmo modo que apareceu – DANTE! – gritou por meu pai – DRACO! DAMON! – e os três logo apareceram na porta.

Antes que pudesse assimilar, meu corpo levou-me até os braços de meu pai, que me acolheu com ternura. Segura ali, me permiti soluçar, e chorar silenciosamente.

_o que houve? – Damon perguntou vendo Enzo desacordado na cama, e aproximou-se de imediato.

_fomos atacados! – ouvi a voz de Ra’s – e alguns dos nossos morreram! – explicou.

_como isso? – Cambriel apareceu em seguida – senti uma leve ondulação no tempo...

_Ra’s destruiu o futuro existente, referente as próximas 72 horas... Voltamos no tempo! – Arthur explicou saindo do espelho na parede.

_Dante não deve ir caçar só! – Ra’s tornou a falar – meu pai e Damon não podem sair da mansão ao mesmo tempo! Ella precisa ficar sob vigilância de uma fada, somente um deles é capaz de sentir rasgos no tempo!

_tratei Raphael para mansão! – Draco anunciou.

_quem nos atacou, não irá se mover tão cedo, não depois de ter fracassado! Posso fazer isso infinitamente! – Ra’s declarou por fim – voltar no tempo e reverter os assassinatos, e essa pessoa tentará me eliminar, para então conseguir o que deseja!

_temos tantos inimigos, que mal sabemos quem pode ser! – Cambriel ponderou – há alguma restrição?

_a pessoa anda pelo tempo! – seu filho respondeu – não é humano, e não é qualquer sobrenatural... Pedirei a Jacob e Jhonatan que coloquem a mansão num círculo de Enoque... Precisamos estar preparados para combater fogo com fogo...

Vi como se estivesse em câmera lenta, os joelhos de Ra’s cederem sob seu peso, e Cam correndo para amparar o filho, mas ele não era o único, pois antes que ele chegasse perto, eu já estava segurando o corpo inerte de Ra’s, que agora apresentava sinais de exaustão, e fraqueza devido ao que passou naquela sala.

_ele foi torturado por meu pai... – Arthur comentou, antes de se virar para o espelho – vai acordar em alguns dias... Peça desculpas a ele por mim, Amelie!

Declarou deixando-nos ainda mais confusos. Arthur, Ra’s e Arlekin, pareciam ser os únicos a entender o problema em que tínhamos nos metidos, e um deles acabara de ir embora, o outro estava inconsciente em meus braços e o rei das fadas tinha outras prioridades no momento.
Só podia rezar, pedindo que Ra’s acordasse logo.

A Cabeça do Dragão  - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)Onde histórias criam vida. Descubra agora