Havíamos recebido uma ligação de Cam, dizendo que Ra’s estava desaparecido há quase dois dias e sabíamos que ele estava obcecado por um conjuro proibido para livrar-se de sua “fraqueza”, como ele mesmo costumava colocar.
Imediatamente chegamos à conclusão de que ele esperava a força da lua para fazer o conjuro e começamos uma busca rápida por lugares específicos para esse tipo de transmutação, apenas baseado nas nossas suposições, pois não sabíamos ao certo o que ele faria. Demorou um pouco, mas encontramos um lugar, quase fora do estado, escondido, e não havia nenhuma rota oficial no mapa para chegar até ali. Meu irmão pegou o carro do namorado, e saímos, antes mesmo de conseguir avisar Arlekin.
Quase uma hora e meia na estrada, depois de sairmos da cidade, conseguimos encontrar rastros da essência de Ra’s.
Parecia que quanto mais Jace acelerava o carro, mais ele não saia do lugar, e o desespero fazia o tempo correr na velocidade da luz, nos deixando a mercê de seus acontecimentos. Quando fizemos a última curva, e chegamos ao final na entrada, Jace freio bruscamente._VAMOS, JACE! – gritei ao sair do carro correndo em direção a floresta, largando a Ferrari de Arlekin no meio de uma estrada abandonada. Sequer lembrava como tínhamos chegado até ali. Precisava me orientar – ONDE ESTA, INFERNO? – gritei para o nada parando e olhando ao redor.
_ALI, JAKE, O CUME! – ao se colocar ao meu lado, apontou para a elevação escondida por entre as arvores.
_VAMOS! – gritei já retomando a corrida.
_MAS QUE MERDA! – bradou ao se juntar a mim em nossa corrida contra o maldito tempo – onde está aquele andarilho quando precisamos dele para viajar no tempo, hein? – resmungou.
Mal conseguia imaginar que insanidade aquele Dragomir inconsequente estava fazendo, e de todas as possibilidades, somente as piores me vinham em mente, e em todas ele, ele acabava morto. Aquele grimório era único e direcionado especificamente para transmutação humana, e nem eu, nem Jace, jamais lemos ele por completo, então desconhecíamos seus segredos. Porém apenas pelo título, já prevíamos a desgraça. O problema era o grau de risco elevado daquela maldita conjuração, exigindo mais do que meros ingredientes mágicos, exigia a vida da pessoa, a essência, por todos desconhecida, por alguns chamada de alma, KI, SHI, Chackra entre outros nomes por diversas culturas. Porém, fato era, o conjuro exigia uma quantidade de energia absurda, seria necessário o sacrifício humano de inúmeras pessoas para realizar tal ato, e Ra’s estava disposto a qualquer coisa para se tornar mais forte.
_por favor, tem que dar tempo! Por favor, tem que dar tempo! Por favor, tem que dar tempo! – meu irmão começou a repetir aquilo como um mantra. Tinha que dar tempo, precisava dar tempo – o maldito tempo tem que dar! – rosnou entre dentes.
Corríamos por entre as arvores, subindo aquele cume o mais rápido que nossas pernas nos permitiam, ali em cima, era o local perfeito para um conjuro daquele porte, pois a terra era magica, fora fertilizada com magia por incontáveis anos, sacrifício após sacrifício, ali também era um dos pontos onde o vento fazia sua curva, chocava-se consigo mesmo vindo dos quatro cantos e retornava a sua origem, do mesmo modo que a lua brilhava ali com tamanha intensidade que sua energia era armazenada pelo solo.
Aquele maldito lugar era perfeito para aquela atrocidade. Já estava quase amanhecendo, e o sol iria surgir a qualquer momento, nos deixando ainda mais aflito, pois para que o conjuro desse certo, e Ra’s conseguisse o que queria, era necessário o nascer do sol, o momento onde luz e trevas se separavam! Já tínhamos perdido o início do processo, pois a primeira parte do conjuro deve ser realizada quando a noite nasce e o sol se põe, a primeira separação de luz e trevas, seguido assim pelo final do ritual ao nascer do sol, com a separação definitiva entre noite e dia.
Quando finalmente chegamos ao cume, o sol já estava posto, e iluminava a planície e trazia consigo o nascer de um novo dia. Dentro de um círculo que se desfazia como pó levado ao vento, estava Ra’s, completamente exaurido de suas forças, com um símbolo desconhecido em suas costas, parecia ser a metade de um astro, porém com um uroboro no centro. Somente quando nos aproximamos, percebemos o pequeno e delicado corpo abaixo do seu.
Era uma menina. Aparentava ter por volta de 15 ou 16 anos, assim como Ra’s, era ruiva e tinha a pele alva como leite._precisamos tirar eles dois daqui! – falei – pegue-a, eu levo esse moleque inconsequente!
Com um esforço relativo, os levamos para a mansão, e conseguimos trata-los sem a necessidade de externar seu atendimento. Cam estava furioso conosco, por não termos percebido o sumiço de inúmeros grimórios de nosso pai por um curto pedaço de tempo, e principalmente com Arthur, por ter ensinado segredos da alquimia, que somente nosso pai um dia soube. Estávamos na sala todos já haviam saído para resolverem seus afazeres, as mulheres e meninas ao shopping, os trigêmeos foram para a empresa, e conseguimos esconder os dois de Caleb e Sansara.
Não sabíamos se Ra’s tinha conseguido ou não, realizar o conjuro, porém quando ele surgiu no corredor envolto em sombras, andando calmamente, sem qualquer receio por suas ações, algo dentro de mim, instigou-me a manter-me afastado._eu consegui... – declarou claramente, como que apreciando cada palavra dita.
_impossível... – meu irmão murmurou.
_era impossível, Jhonatan! – respondeu saindo de vez do corredor, e parando na entrada da sala, revelando a todos os presentes, seus olhos, agora âmbar, totalmente inexpressivos, enquanto seus lábios formavam um sorriso, que não chegava aos seus olhos.
_Ra’s... O que você fez? – Cambriel perguntou temeroso.
_me livrei do que me tornava fraco... – respondeu – me livrei de todos os meus limites, remorso, hesitações, limites, senso de moral e essas bobagens que amarram nossos atos! – ele sorriu frio e abriu os braços – me livrei de qualquer sentimento! – declarou com ar triunfante.
_o que vai fazer agora? – meu irmão perguntou a ele, que simplesmente deu de ombros.
_alcançar meus objetivos, Jace... Não fiz o que fiz para ficar de bobeira nesse mundinho medíocre! – resmungou – vou pegar o filho da puta que ousou matar minha família... – sua expressão tornou-se sombria.
Ante a sua resposta, inevitavelmente temi pelo futuro de toda nossa família; sabia que ainda tinha alguém por ai, querendo ferrar com a gente, e ao que parecia, já tinha conseguido nos matar uma vez, e provavelmente tentaria de novo em breve, porém lá no fundo, algo se acendeu dentro de Jace, e passou para mim, através de nossa ligação.
“Ainda há esperança!”_ficarei um pouco longe de você Jace... Sei que é um dos poucos que pode me deter! Não me leve a mal... – falou sarcástico.
_até então você só me parece cretino o suficiente, nada fora do normal! – falei ganhando sua atenção – mas ficaremos de olho em você!
_faça como quiser! – deu de ombros – a vida é mesmo injusta né, me livrei de um problema e arrumei outro! – resmungou.
_como assim? – meu irmão perguntou.
_aquela coisinha ruiva... Tenho de mantê-la viva de agora em diante! – revirou os olhos parecendo entediado – é um preço relativamente pequeno...
_mantê-la viva? – Cambriel perguntou.
_sim, meu pai, ela é metade de mim, somando eu e a coisinha lá dentro, o resultado é apenas eu! – explicou simplesmente – mas é claro que isso ficará apenas entre nós! Não irei dar satisfações a mais ninguém, é uma perda de tempo! E o meu foco agora... É acabar com esse assassino de araque!
Até então o estrago tinha sido razoável, mas precisávamos esperar a menina acordar, pois pelos restos de materiais que encontramos no cume, e o aspecto doentio daquela menina, precisávamos apenas de um leve sinal para termos certeza de que ele havia criado um corpo e transferido metade da sua alma para lá, mas não tinha a menor ideia de como ele livrou-se de seus sentimentos no processo.
Aquilo ainda iria dar muita dor de cabeça.Comentem aí, o que vocês acharam que vai rolar quando a ruivinha acordar? Como a Amelie vai reagir?
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A Cabeça do Dragão - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)
FantasiaImortais destinados a grandes feitos irreconhecidos à margem da sociedade! Divididos numa linha ténue entre o mundo humano e o sobrenatural. Ra's Desde pequeno fora sempre muito entendido, obedecia meus pais sem questionar e nutria uma profunda admi...