9 Ra's

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Estava em completa agonia, rolava na cama, suando, sentindo-me sufocado. Meu coração batia descompassado e parecia querer explodir do peito. Levantei-me num pulo e fui até a porta, para ir ao quarto de Ariane, mas a encontrei ali, com a mão na maçaneta, prestes a entrar no meu quarto.

_que merda aconteceu? – perguntei alterado.

_eu que te pergunto, seu retardado! – rebateu – acordei quase morrendo, por sua culpa!

_você? – a olhei confuso e ela revirou os olhos.

_deixa pra lá, você ta enlouquecendo! – resmungou voltando para seu quarto.

Fechei a porta, e sentei na cama, ainda sentindo-me sufocado. Mas que sensação era aquela? Como se algo estivesse acontecendo ou prestes a acontecer. Alguma coisa tinha de errado, desde que Daisuke me fez matar Aron, andava com a sensação de que algo ainda pior que ele estava a espreita, apenas aguardando. A julgar pelos poucos minutos que pude avaliar, Aron não era meticuloso, talvez fosse apenas um peão nas mãos de uma mente brilhante, apenas uma peça, que pode ser facilmente substituível, a não ser que a pessoa por de trás disso, não quisesse aparecer, ou não pudesse correr o risco de ser pega. Nada tirava da minha cabeça que que ele não trabalhou sozinho, não mesmo, e falando nele, porque minha bisavó o escondeu? Porque apenas Arthur estava em seu colo? Se tivesse sido raptado, ela teria gritado aos quatro ventos que um dos seus bebês fora levado; talvez tivesse sido conivente com aquilo, pois pelo que pude perceber, apenas anos depois, Daisuke descobriu que tinha outro filho, e que Arthur não era o seu primogênito, mas Aron.

Varias coisas se passavam em minha mente, e tudo parecia muito suspeito. Estava acontecendo alguma coisa que Arthur não queria me contar, mas tinha contado ao meu pai, fazendo com que ele inventasse essa viagem, com a desculpa estapafúrdia de que era por causa do nosso aniversário, porém meus instintos me diziam outra coisa, pois no momento atual, com os herdeiros em idade já madura, alianças tão bem fincadas, e reunidos num mesmo lugar, somos quase invencíveis. Sem falar que estamos em Londres, o vizinho mais próximo da fronteira das fadas, aqui o poderio militar de Arlekin, o tornava um inimigo terrível e um aliado fabuloso. Jhonatan, além de alquimista, agora tinha acesso a cultura antiga das fadas, o que o deixava bastante perigoso. Desde o ataque de Logan, Jacob tinha mudado drasticamente, e quase já não o reconhecíamos, ele vivia apenas para Anya e para seu irmão, exclusivamente para eles. Quanto aos Valerian, aumentaram visivelmente o seu contingente de crias, e aderiram outras raças a familia.

Não era apenas impressão, eles estavam se preparando para algo grande, e tenho quase certeza que isso tem haver com as recentes ameaças que andamos sofrendo: alguém poderoso sabe o que somos, e quer nossa cabeça pendurada em sua parede, como premio. Humano ou não humano? Não sabemos! Influente ou não? Também não sabemos! Entretanto, alguém para nos ameaçar tao diretamente, deveria ser alguém no mínimo com cacife para nos atingir de alguma forma. Embora isso ainda não explicasse o fato de Arthur esta sumido dos corredores do tempo, logo ele, com olhos por todos os lugares.

Não sofreríamos uma ameaça aberta, isso era fato. A mídia iria atrair uma atenção monumental e todos ficariam sem saída: nós não poderíamos revidar, e eles não poderiam atacar. Era uma faca de dois gumes.
Tomei um banho rápido e me arrumei, iria ver Daisuke e tentar obter algumas respostas. Assim que sai do quarto, encontrei meu pai e Damon, ali.

_vai sair? – meu pai perguntou.

_vou procurar respostas! – respondi – num lugar onde não há perigo!

_por todo lugar há perigo! – Damon respondeu – eu e seu pai vamos caçar, temos que botar uns assuntos em dia...

_já avisou minha mãe? – perguntei.

_sim! – respondeu simplesmente – não demore, preciso saber que você estará aqui, se precisarem de ajuda! – olhou-me serio.

_não se preocupe... – fechei a porta do meu quarto, e abri novamente, já dando de cara com o corredor do tempo.

_aonde isso vai dar? – Damon perguntou curioso.

_em nenhum lugar especifico, e ao mesmo tempo, em todos os lugares! – falei ao passar pela porta.

Assim que fechei a entrada em minhas costas, segui caminhando pelos corredores, embalado apenas pelos sons dos meus passos. Até que algo chamou minha atenção.
Havia outra pessoa ali.

Passos leves de um gatuno, andando por passagens estreitas, que até mesmo eu tinha dificuldade em andar. Era alguém experiente, e por um segundo imaginei ser Arthur ou Daisuke... Mas quando seu cheiro atingiu minhas narinas, reconheci ali a morte: a sede de vingança e o desejo por sangue. corri em direção ao cheiro, sentindo meus instintos se aflorarem, indicando um predador mais forte do que eu, mas era meu dever proteger aqueles corredores. Fiz duas curvas a direita, logo em seguida a esquerda e segui rumo a uma parte estreita e com terreno incerto, indicando um tempo recente.
O cheiro sumiu de minhas narinas, mas seu rastro ficou no ar, e o segui até onde, o seu dono, tinha aberto uma porta atalho no tempo, usando um pouco de força bruta, consegui rasgar uma abertura ali, e eu entrei no recinto. Demorei apenas alguns milésimos de segundo para assimilar onde eu estava, e assim que dei por mim, procurei o predador, ou melhor, a predadora: era uma mulher. Ruiva, com olhos negros, trajando preto, e levando consigo uma espada medieval afiada. Ela me sorriu e fechou seu atalho, e só então percebi os corpos em suspense naquele local: Jacob e Anya estavam mortos.

Sem me conter, senti um grito saindo do mais profundo do meu ser, antes de rasgar novamente o tempo e seguir aquela assassina. Tudo em mim fervia, e agora era eu quem estava com sede de vingança. O terreno em meus pés tornou-se ainda mais incerto, mas logo firmou-se, revelando estarmos entrando no presente. Novamente o cheiro dela chegou em meu nariz e eu retomei minha corrida, rasgando com mais facilidade o tempo, a tempo de ver Dante com o crânio perfurado, e a cabeça longe do corpo.

Senti mais um pedaço de mim quebrando: eu estava falhando.

Eu corri, seguindo seu rastro, mas não cheguei a tempo de salvar minha própria mãe, meu tio, e a filha de Draco, Ella. Todos estavam mortos. Completamente desolado e sem rumo, perdi o rastro da assassina, e sem perceber andei para onde Amelie estava, no que parecia uma biblioteca, lendo. Assim que me viu, e percebeu meu estado, correu para me “socorrer”.

_o que houve com você? – perguntou aflita.

_eu...

_eu o que? Me fala! – ela avaliou-me de cima a baixo – você esta ferido? Te atacaram? Ra’s!

Ergui minha mão e toquei seu rosto frio.

_sinto muito, Ellie! – murmurei sentindo-me esgotado.

_o que houve, Ra’s? Fala pra mim! – suplicou e eu continuei segurando sua bochecha, com a palma da mão – você esta me assustando...

_eu tentei... – falei – tentei caçá-la... Estava pronto para mata-la... Mas fui um merda como herdeiro do tempo...

_o que você esta dizendo... – olhou-me confusa - herdeiro do que? Você não está dizendo coisas com coisa!

_o herdeiro do tempo, que não chegou a tempo... - ironizei.

_Ra’s... – choramingou aflita, percebendo que algo sério tinha acontecido.

_eu não pude salvá-lo, Ellie... Dante já estava morto quando eu cheguei... – revelei, fazendo-a estremecer por completo.

_como assim... Meu pai esta caçando... – falou numa van tentativa de se acalmar, mas todo seu corpo já estava reagindo a noticia.

_sinto muito...

Como que para completar a desgraça, meu pai e Damon chegaram, e julgar pelo alvoroço, e pelos gritos de Lary, Draco, Grazzi, Ariane e Safira, assim como as vozes alteradas de Arlekin, Jace e Enzo.
Os corpos tinham sido encontrados.
Amelie encarou-me sem reação, chorou em silencio, e não resistiu a mim, quando a abracei, não apenas para consola-la, mas para me consolar, afinal, eu tinha fracassado completamente.

A Cabeça do Dragão  - Série IMORTAIS - Livro 5 (final)Onde histórias criam vida. Descubra agora